Poesia na Carne

Sigo passo a passo com leveza
Mesmo que tenha instantes insalubres
E o apetite da resistência devore os batimentos
À medida que a saudade aumenta aperto as palavras
Por vezes deixo-as livres no turbilhão
Não suplico a Deuses ou entidades
Quando a vida dá voltas é a Ele que recorrem
Não sigo cânones ou ideologias padrão
Os meus desafogos vão para a memória dos antepassados
E para o equilíbrio da compaixão com a natureza
Deixo as preces com o silêncio
Retiro-as das lembranças e da imaginação
Ainda assim fujo da racionalidade dos pretéritos
Sigo também o voo das aves
O balanço do vento e das marés
Não me dói a voz se canto com o coração
É a lonjura e urgência do reencontro que lança o apelo
Peço apenas ao destino que não deixe de se fazer ouvir

José Gomes Ferreira