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Tenho lido alguns comentários pouco abonatórios sobre o povo brasileiro, que na prática mostram que as pessoas limitam-se a multiplicar representações comuns sem conhecimento de causa. Como em todo lado tem pessoas e más, mais adaptadas ao viver Ocidental ou que menos assimilam esse espírito. O mesmo se pode dizer do desenvolvimento, já vi comunidades com casas de taipa, com ruas e terra batida e sem qualquer infra-estrutura, o mesmo país vende apartamentos de milhões, produz aviões e destaca-se em várias áreas, este não é um país, é um continente.
Do ponto de vista das representações são nas duas direcções. Por exemplo, persiste a ideia de que particularmente os franceses não tomam banho ou que o fazem uma vez por semana. A prática é apontada aos franceses, mas os portugueses não estão excluídos. Mesmo no tempo de tomar banho de bacia, nos tempos em que não se tinha casa de banho, a questão não pode ser vista assim. Que me lembre nas últimas décadas em Portugal sempre tomei banho praticamente todos os dias, havendo maior necessidade no Verão e maior resistência no frio de Inverno. A ideia sobre os franceses é que escondem o cheiro do corpo não lavado com perfume.
Muito provavelmente o povo brasileiro não é apenas o que toma mais banhos, mas aquele que mais se encharca de perfume. Gosto de perfume na medida certo, algumas pessoas no cruzar da rua exalam um aroma fustigante, os exageros, na minha leitura são muitos. Digo isto pela minha sensibilidade à alguns perfumes, quando não se transforma em alergia. A questão do corpo perfumado é, no Brasil, um requisito mínimo para conquistar uma mulher. Exigem um homem cheiroso. Hábito que dificilmente vou adoptar, ou seja, vou ficar sozinho.
Tem outro hábito que me vai manter solteiro. Nas grandes cidades não é necessariamente assim, mas em contextos mais conservadores persiste a narrativa de que o homem é o provedor e mulher não divide a conta. Cavalheirismo é cortejar a mulher, convidando-a para os locais da moda e "bancando" a despesa. Lembro-me quando em 1989 fui morar para Lisboa. Na época se na terra convidava alguém, homem ou mulher, para sair a conta era comigo. Em Lisboa já cada um pagava a sua conta, ou excepcionalmente, uma das pessoas se oferecia para pagar, rapidamente esse passou a ser o paradigma. No Brasil esse dividir dá conta coloca ao homem o rótulo de pobre ou mão de vaca. Só quem não conhece a herança patriarcal e machista, ou quer beneficiar do instante, pode afirmar tal coisa. A questão é complexa, mas como disse em algumas cidades e certos grupos isso não acontece. Claro que a vida custa a todos, mas o que está em causa, na minha opinião, é esse pôr se a jeito para retirar benefício. Nem toda a gente é malandra nessa prática, mas tem quem claramente quer tirar benefício, o que não facilita a progressão das relações. Na verdade se acontece no primeiro encontro tudo fica por aí.
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