Poesia na Carne

Tenho saudades das vindimas
Do rancho de gente distribuída vinha fora
Do aroma a mosto e abelhas
De percorrer as carreiras para despejar os baldes
De subir e descer as quelhas verticais
Tenho saudades das gamelas de madeira e das dornas
Não que os poceiros e as tinas metálicas não sejam melhores
Não têm é o romantismo que a reposição exige
Tenho saudades das mulheres de idade a pedirem para apanhar os bagos
Muitas destas mulheres juntavam-se ao grupo somente na casca do milho e nas vindimas
Tenho saudades de calcar os cachos no lagar
De arranhar os pés com as grainhas
De sentir o engaço a levitar na fervura
E depois encher os cântaros levados para a adega
Tenho saudades de dar cor aos sentidos
E deixar fermentar a comunidade através de rituais de gente movida por laços

José Gomes Ferreira