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Esquecemos o paladar das conversas, as palavras surgem como que em um menu com batata frita e refrigerante. Podería dar-se o caso da simplicidade atingir o âmago das convicções e relações, mas é tudo pré-preparado e comprimido, alinhado com a infertilidade de ideias, sem chamar a originalidade e complexidade às escolhas diárias.
O próprio é uma narrativa do lucro e das vantagens. Não tem sentido que dure quando o destaque é o conforto das relações e a satisfação por mostrar o outro lado do espelho. Os amantes já não se amam, mostram-se no contentamento da aceitação social. A própria entrega do corpo é diluída no prazer da felicidade do instante. Já não se percorrem continentes ou a estrada empedrada. A caminhada é pela celebração dos instantes, pouco importa o regalar dos olhares.
Esquecemos também a que sabem os beijos no adormecer que corre a ansiedade das madrugadas que não chegam. Talvez seja síndrome da idade ou das mutações do mundo. Não adiante mostrarem o horário do Festival da Canção. Dilui-se o significado das vozes e da exclusividade televisiva. Andam a semear ecrãs no desfile dos tempos livres.
Tudo se reduz a conversas sobre economia e protagonismo político, como se a brisa fosse sinónimo de encanto e paradigma. E os rios além de água fossem o escaparate de prateleiras de supermercado. Andamos a copiar a fantasia do sucesso, como se a felicidade fosse um estalar de dedos e uma consequência da fartura materia. Um dia a realidade crua chegará ao comentário e expectativas, até lá seguimos pelo impulso da semelhança, com dificuldade em interpretar o privilégio e aceitar que equilíbrio não é justiça.
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