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Ficam os pinheiros a lacrimejar
Pingam não apenas das chuvas de Inverno
O Verão levou nas chamas a sua estatura
Lacrimejam também as lajes e os torrões de terra
Um lacrimejar horizontal deixado pela geada
E que no descuido nos faz cair da vida
As hortas estão repletas de verdura
A couve portuguesa mostra o seu carácter
De aspecto frágil e sabor tenro suporta os dias gelados
A vinha mostra o colorido exuberante
Os melros rodeiam as oliveiras, também elas com cristais de gelo
A brisa cortante traz os aromas da Serra e do rio
A neblina pinta o vale e a paisagem
Na Igreja o sino toca as hora no momento certo
Os idosos do Centro de Dia escutam o chamado
Mal o Sol espreita caminham pelo silêncio das ruas
É praticamente toda a vida que a aldeia tem
Ainda passa o carteiro e o homem para ler do contador da água
Na fonte ainda se fazem versos para soletrar
Ladeira abaixo tem quem se salve na passagem
Dá bom dia ou boa tarde aos vizinhos
Havia tanta ilusão, a memória levou quase tudo
As cavacas ao lume lembram os dias singelos
Aos sábados à tarde resta esperar que tudo passe
A esperança permanece oblíqua e em segredo
É a narrativa da saudade frontal que nos invade
José Gomes Ferreira
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