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Poesia de Abril

por José, em 04.04.24

Lembro dos arreios e da carroça
Dos moscardos que não largavam o animal
Da rua descalça de calçada
Da mijoca a correr à entrada da porta
E do porco alimentado num cubículo
Lembro das casas sem casa de banho
Do terreno baldio ou da vinha para suprimir as fezes
Das botas com os dedos vistos
E do corpo suado recebido na escola
Lembro da noite esquecida e do silêncio na salva
Da soleira da porta com conversas de vizinhos
Lembro de se gabarem que afinal eu estudava
Quando ainda estava longe de cumprir o ensino obrigatório
E de tanta vez não conseguir ler uma página no lusco-fusco e no cansaço dos dias
Lembro-me da carne gorda da salgadeira
E de tantas sonhos que fui incapaz de viver
Sonhamos com os mistérios da liberdade e felicidade
A obediência como prática de respeito não confere respeito nem liberdade
Não sonhamos quando o nosso universo é a nossa aldeia, por mais encantadora que seja
Vivemos prisioneiros do que nos mandam fazer, do alimento disponível e das estações do ano
Não sonhamos, estamos convencidos que tudo aquilo é o melhor que conseguimos da vida

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:20



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