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No Outono sempre sentávamos à soleira da porta
A lembrar os resquícios do Verão e o momento exuberante das colheitas
Com um resto de feijão para descascar ou milho seródio para separar manualmente da espiga
O início de cada noite trazia já uma brisa fresca
Que permitia o instante final de diálogo com os vizinhos
Por vezes antecedido de uma sopa quente
Podendo ser condimentada com pedaços de broa e vinho tinto
Era sopa de malga e muito basta
A sopa rala exigia um reforço da ceia
Daí que muitas vezes tivesse menos água e mais couve e batata
Quando não feijão e um pedaço de carne da salgadeira
Com o arrefecimento dos dias todos se recolhiam mais cedo
A maior parte das famílias não possuía televisão
Para elas a noite trazia a antecipação da noite sagrada
Os dias eram entregues à lida do campo
Aquele instante final do dia marcava os laços
Servia para contar histórias e reservar o tempo à vida na aldeia
José Gomes Ferreira
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