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A festa e a narrativa exuberante só acontecem nas outras famílias
Na aldeia tem quem prefira a fogueira no largo
Tem ainda rituais pagãos a observar
Em casa a memória era de rituais simples
O jantar que juntava as três irmãs era o brinde do bolo
Houvesse dinheiro suficiente para o adquirir
Não faltavam broinhas com passas e pinhões
O fogão a lenha foi um objecto tardio
A chaminé deixa ainda um rasto de fumo
A arca da lenha sempre foi usada para sentar
Cabiam todos na benevolência da noite
No centro da mesa o bacalhau com batatas e couve portuguesa
O azeite cor de ouro a correr nos pratos
No final da tarde tinha ajudado a fazer as filhoses
Gosto de sabor enrugado a curar a garganta
E a acompanhar um eventual licor caseiro
Poderia igualmente ser a típica mistura de aguardente com água a escaldar
O hábito do café chegou com o regresso dos emigrantes
Parecia uma disputa na revelação da história dos Antigos
Mais do que o repasto e a fé, a consoada sempre foi de memórias
Para relembrar os antepassados e acrescentar pontos ao já vivido
A magia do Natal não estava nas prendas ou no exacerbo
Mas no juntar de diferenças e recuperar a ancestralidade
No sorriso térreo da compaixão e dos laços
Éramos felizes para além do instante de celebrar
José Gomes Ferreira
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