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Nasci numa casa vermelha
Que na época era apenas caiada
Tinha uma lareira que consumia lenha
E um pátio de estrumeira desordenada
Foi um parto caseiro
Como pobre sabia fazer
Não fui eu a chegar em primeiro
Mas isso não preciso de o dizer
Ainda criança já ia à fonte
Tal como ajudei a guardar ovelhas
Também andei com as cabras no monte
Fui criado por três irmãs já velhas
Nem tudo foram rosas
E os sonhos eram à medida
Cresci a admirar antigas prosas
De pessoas que anteciparam a partida
Nunca passei fome ou sede
O segredo era muito trabalho
A enxada era a nossa relação em rede
Na mata ainda havia muito carvalho
Toda a família tinha um porco
Que na matança era alimento
Tínhamos também uma burra
Que merecia igualmente sustento
Cavei muita manta de terra
Rachei muita carrada de lenha
A paisagem dá para a Serra
Ajudar no campo era a contra-senha
Tive orfandade prematura
Ainda assim tive tudo o que tinha direito
Levei certamente alguma surra
Na irreverência punha-me a jeito
Sou grato aos meus pais e avós
E a todos os que me completam
Se hoje garanto a minha voz
Agradeço a todos os que em mim habitam
José Gomes Ferreira
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