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A água corria como pão
Tenra e luzidia aos olhos
Capaz de curvar elegantemente o traçado
E deixar um aroma repleto de vida
O espelho límpido impressionava
Beliscava as quelhas de cultivo
Permitia um olhar cara a cara
Em cada rego havia uma fuga destemida
Pelo mês de Abril os poços enchiam
E os lameiros atolavam os mais incautos
Das nascentes brotava fertilidade
Valia a pena esperar e ver o tempo aquecer
Os torrões ainda inteiros desfaziam-se
Da sementeira brotavam novas plantas
O ciclo completava-se em seguida na rega
Poderia ser manual aquele dar de beber à terra
Um velho cabaço sentia as mãos calejadas
Em poucas semanas o feijão fazia-se alimento
O milho ficava pronto a recolher e chegar à eira
Na carroça seguiam algumas espigas soltas, feijão verde e milhem
A esperança era que cada ano fosse melhor
E a colheita fosse o sorriso perpétuo de gente pura
José Gomes Ferreira
* milhem parece ser um regionalismo, é um tipo de erva que, como o nome quase indica, cresce no meio do milho. Apanhada na fase de crescimento é um petisco para os coelhos, até as galinhas a depenicam.
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