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O vento deixou de polir as caras carrancudas
Não anda ninguém no olival
E as encostas têm as quelhas abandonadas
Erguem-se apenas pedras na sombra da floresta
Não sopra brisa e os pinheiros não abanam
A temperatura também escalda a memória
Não se escuta o rio nem os rebanhos de ovelhas
Uma enxada teima em procurar a seiva da terra
Move-se com o cuidado de quem ainda acredita
Os braços elevam-se no sentido da serra
Ali também os montes estão polidos da falta de vegetação
Tem quem queira adivinhar a nossa história
As nuvens são como finos bordados no céu
Não tapam a perturbação das narrativas
Nem as pedras de palheiras abandonadas
Restam largatixas e moscas de intempérie
Escutam-se também os corvos a arfar
Sobram políticos e desencaminhados nos atalhos
Alguns aviões cruzam a paisagem, mas não trazem soluções
Não se faz espuma sem o esforço das mulheres no tanque
E sem o prolongar das almas a marcarem o lugar
Sobram javalis a desmontar o fascínio da natureza
José Gomes Ferreira
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