Poesia na Carne

Não quero beijos se não for para mudar
Não quero esperança se não for para acontecer
Não quero ficar sem rumo e sem paz
Na ideia de que o destino liberta
Em que o corpo se encanta e vive
Nos encontros sublimes da manhã
Mulher sem prazer que preserva
Sorriso com medo de ser feliz
Largada de balões longe da descoberta
Tentativas que ninguém conhece ou quer saber
Sou intérprete da natureza, mas não escolho o sonho
Liberto a imaginação, mas não consigo prever o futuro
Não quero somar se não souber querer
Nem que a pele arrepie e me mude
E as horas não passem mais a fingir
Não quero amar se não for para acontecer
Tudo o que for ilusão é expectativa sem verdade
E a gente não sabe quando vai chegar a verdade
Nem os conceitos de imensidão e luz
Na hora saberei se vou chegar
Por agora não quero outra certeza que não seja a noite nua
E a silhueta das palavras na carícia do rosto
Simbiose perfeita da razão com o alerta da trajectória

José Gomes Ferreira