Poesia na Carne

Tenho vivido muitas vidas
Mesmo sem a exuberância das relações
Expandindo o conhecimento e interacção
Percorrendo espelhos de água e territórios das secas
Dando ao sonho muitos lugares
Tantos como as pessoas que toco e consigo fazer brilhar
Pode até parecer que enlouqueço no reboliço
Quando as representações são apressadas
Na verdade apenas deixo momentos em suspenso
Que não digam não ao que me cabe
Por isso não esqueço, mesmo que pare a letargia
Tem instantes em que quero apenas sentar-me na eira ou à beira do açude
Na escolha do Sol e do vento que embalam o coração
Também me satisfaço com a paixão nocturna do silêncio
Escrevo nela as variações das palavras saudade, amor e reciprocidade
Acredito ainda na sedução da memória
E nas carícias leves que chegam nos suspiros
Aprendo a guardar os sentimentos e as histórias
Haverá muito para relatar na diversidade de cores, paisagens e perfumes
Olhar e corpo procuram igualmente esse prazer
Resta-me também a eles dizer o que a cronologia suspeita
Depois eu te conto

José Gomes Ferreira