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A eĺite do atraso?

por José, em 09.04.24

Se é certo que os movimentos ditos progressistas vão rapidamente "da lama ao caos", parafraseando o título do álbum da Nação Zumbi de Chico Science, os movimentos conservadores vão do neoliberalismo de orelha à canção do Anjo Silvestre enquanto o Diabo esfrega um olho. Fazer crer que os problemas do desenvolvimento estão nos valores da família, na homossexualidade, transsexualidade, aborto, eutanásia e nas comichões da modernidade é pior que fazer acreditar no Pai Natal.

O problema nunca foi apenas de crise da família, a crise dogmática é tão desperante quanto a económica e ambiental. E na ausência de resposta os ataques são sempre idênticos. Ataca-se o desvio a certos valores, questiona-se o papel da escola, levanta-se a hipótese de fazer regressar o serviço militar obrigatório e tantas outras coisas que nos iludem com a real dimensão e espectro do problema. Ao mesmo tempo atacam o estado. É impressionante o salvo conduto que alguns simpatizantes, mas particularmente o FMI, dá ao despedimento de trabalhadores e medidas similares na Argentina. É certo que a esquerda se ilude que haverá sempre dinheiro para tudo, mas a ideia de que com menos estado se melhora a eficácia, eficiência e efectividade das políticas públicas é uma utopia que apenas gera estes ciclos de "agora governas tu, depois governo eu". O que é mais curioso é que os mesmos apoiantes batem o pé quando o estado falha na sua acção no contexto de proximidade. Para tudo é necessário equilíbrio.

Voltando ao tema que me trouxe aqui, abomino esta ideia de que políticos influentes venham defender determinado estatuto moral para a sociedade. Lembra a Revolução Chinesa, tal como lembra os órgãos iranianos com atribuições religiosas infiltrados no estado. Não se trata aqui de defender ou rejeitar determinada posição. Por exemplo, sou claramente favorável à eutanásia, mas de forma mais moderada do que o previsto na lei (que está em banho Maria) e por dois motivos fundamentais: i) necessidade de garantir cuidados paliativos a quem necessita e apoio incondicional aos cuidadores; ii) a lei resvala para cenários de suicídio assistido que merecem a minha oposição. O grande problema não está na opção eutanásia, mas que outras opções concretas estão a ser aplicadas.

A questão está em definir o que está em jogo nesse crise da família através da identificação e enfrentar das causas. Quando se trata de aliviar o número de horas de trabalho ou aumentar os ordenados escutamos as mesmas pessoas a dizerem: antes é que era, agora ninguém quer trabalhar.

Infelizmente muitas políticas de apoio às famílias são um fiasco. Acho impressionante quando determinado município anuncia determinado valor como subsídio de apoio à maternidade. Curiosamente ou não, são municípios do interior, desertificados, sem oferta de emprego qualificado, com as escolas distantes, sem creches, sem transporte público, com os estabelecimentos de saúde distantes ou com horário de escritório. Mas também sem oferta cultural e desportiva, etc etc. Ou seja, pedimos crianças sem nada para oferecer.

Os valores que este grupo defende, e com toda a legitimidade, é fantástico para vender bíblias, não é por certo uma saída do pântano e do atraso que aceitamos com resignação ou com mero interesse ideológico. O bom mesmo é identificar prioridades e avançar com certezas e homens e mulheres que se destaquem sem pedirem às televisões o reconhecimento por dizerem umas coisas. As bíblias não enchem o prato de comida e não pagam a renda.

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publicado às 22:41



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