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Alegorias de um tempo que não volta
Ideias e paradigmas do passado
Na maioria falhos na aplicação
Não me revejo no escárnio ideológico
Nem no bajular dogmático dos fanáticos
Defendo liberdade de voz espírito
Assim como capacidade de fala sem travas
Retrocedemos em processos e conceitos
Voltamos a sufragar os indigentes
Gostamos de os colocar em diferentes lugares da barricada
Erguer os punhos parece melhor que dar voz aos corpos
Todos têm a sua linguagem
Só não aceito o corporativismo das sombras
A ressureição de ideias e teses moribundas
Quero que o amor e a empatia vençam
Não os fragmentos e o cuspe das utopias
Para veneno temos as cobras
Se não tem abraços que tenha solidão
Não a tentativa de vender gato por lebre
De nos querer enganar nas posições
E de atiçar o fogo à gasolina
Uns andam com medo de falar
Tanto se pediu poder para o povo
Agora aparece manipulado por ventríloquos
Precisamos de legitimidade e acabar com os disfarces
Estes senhores são incapazes de destacar a ordem moral e o desenvolvimento
O ruído apenas separa o ventre das sementes germinadas
José Gomes Ferreira
Tenho paladar a baunilha
Para rimar com paz
Quero ir para além da flotilha
Chegar onde ninguém foi capaz
Não aceito este genocídio
Ainda que causado por um acto terrorista
Chega de submeter os palestinianos a tal martírio
Juntando armas à lógica capitalista
A vida humana tem valor diferente
Não vale nada se o sujeito é pobre
Não é absolutamente nada coerente
O mais rico acha ter estatuto de nobre
A diplomacia global é uma farsa
Serve quem dela se apropria
Porém tem muito falso comparsa
E tem no planeta muita gente doentia
José Gomes Ferreira
* Escrevo sobre a flotilha, mas tenho uma visão bastante crítica, não só não vai servir de nada como no caso português deu mais voz à dita extrema direita.
A noite recolhe-se enfezada
Oculta o vento e o coração
Rebola sobre as ideias
E o corpo rijo de cansaço
É no instante que as horas e a alma param
Esperam pela luz do dia seguinte
Nela se escutam todos os ruídos
Como se escuta o silêncio dos anos
Não tem segredos na noite que se arrasta
Na verdade tem confissão
O testemunho das artes da paciência
A penitência franzida e sem escolha
A insónia representa a transgressão
A invasão nocturna dos avanços
Um impedimento ao sonho dormente
Ao levitar sobre o mistério e a curiosidade
À vigília que escuta e não se pronuncia
É o diálogo de véspera que repercute
José Gomes Ferreira
A luz que me chega não é apenas do Sol
Nem de imaginar o infinito universo
A luz que me chega é da memória e da saudade
E dos laços amarrados durante a corrida da vida
A luz que me chega é também do silêncio
E da vocação em escutar e aprender
É intensa quando é recíproca
É gloriosa quando fica algo de mim para contar
A luz que me chega é também da caminhada
Do orgulho da travessia e catarse na motivação
Da simplicidade que gera felicidade
E das escolhas com foco na continuidade
A luz que me chega não precisa de ilusões
Tem o seu próprio carácter divino
A minha crença é na própria Humanidade
E no reflexo que ergue a estima
José Gomes Ferreira
O mês de Outubro está a chegar
Outrora transformava todo o movimento
A colheita de cereais estava feita
Era a vindima a grande azáfama no campo
Juntava familiares e vizinhos em porção de festa
Sobrava também o restolho do milho e do feijão
As chuvas de Outono deixavam uma película de verde na terra
Eram apanhados os últimos figos, os restantes caiam desfeitos
Não poderiam ultrapassar o Dia de Finados
O povo acreditava que seriam apalpados pelos mortos
As aulas apenas tinham início na primeira quinzena do mês
Eu permanecia na ajuda às tarefas agrícolas
Assim era todo o Verão, as Férias Grandes eram uma utopia
No regresso escutávamos as aventuras dos outros
As nossas eram para recolher e rachar lenha
Regar e colher o milho para as eiras
Outubro era o mês dos reencontros e nostalgia
A temperatura refrescava e obrigava a vestir outra roupa
A intensidade do vento e precipitação coloriam o céu de outro estampado
Os castanheiros enchiam-se dos ouriços de castanhas
O colorido das encostas era pintado por cores vivas
Carvalhos e folhas de videira ganhavam outra vida
José Gomes Ferreira
Não é apenas solidão, o clima está a mudar
Tem quem insista e busque falsos argumentos
Quem não tem como provar insiste na falsificação
Só que não é aceitável ganhar palco através da mentira
A ciência também erra e os paradigmas são refutados
Não é com dogmas que encontramos respostas
Até o povo no campo sabe que está tudo mudado
Negar as evidências não pode ser um critério de esclarecimento
A informação necessita trazer confiança
A negação não pode ser uma estratégia de poder
Objectividade não é alucinação
Precisamos agir em busca de clareza
José Gomes Ferreira
Enquanto viver e respirar
E no escutar do coração
Serei voz e semblante
Retrato e sensibilidade
Enquanto me conhecer por gente
E for escutado por escolha
Não vai faltar motivação
Nem me sentirei só
A memória não é um ponto final
É tudo o que tenho para agradecer
Reforçar laços e amizades
Tudo para além de um oxalá
O segredo para ensinar está na paixão
No gosto por conhecer e partilhar
Na crença das marcas da nossa passagem
Sem ter problema em cobrar pela forma de estar
A saudade pressiona a razão
A luz que brilha não nos separa
É a nossa história que nos guia
E a andorinha antes da Primavera
José Gomes Ferreira
Queria pular sem ter medo
E rir sem ter amanhã
Para ser feliz não é tarde nem é cedo
Nem se reduz à consciência cidadã
Já fui jovem com genica
Dedicado à vida no campo
Parecia gerir uma chafarica
Na época tinha muito tempo
Queria descobrir o mundo
E conhecer todos os mistérios
Mesmo sabendo que lá no fundo
Precisava começar por definir os critérios
Caminhei cedo por umas pedrinhas
Situei a humildade da narrativa
Ajudava a cuidar das pequenas vinhas
Mantinha a esperança e a mente activa
José Gomes Ferreira
É por aí que no final te acho graça
No silêncio cortado pela saudade
É tão bom caminhar contigo na praça
E viver momentos com registo de verdade
Quando estamos juntos o mundo roda
Parece que tudo gira à nossa volta
Quando a atenção é vista fora de moda
Garantimos que não fica nenhuma ponta solta
É tão bom o sonho da imaginação
Tudo nele se concretiza sem hesitar
Declamamos todos os versos da nossa canção
Conjugamos cada palavra com amar
Ambos sabemos por que brilham as estrelas
Mesmo em dias de difícil convergência
Abrimos e fechamos portas e janelas
Não existe na utopia pressa e impaciência
José Gomes Ferreira
Não se abdicou apenas de livros e de jornais
Perdeu-se o momento de leitura
Em casa ou na esplanada absorvia o leitor
Para depois o colocar em diálogo com outros leitores ou interessados
Agora cospe-se conversa a partir das imagens televisivas
O leitor é o turista de massas
Só dá atenção às manchetes ou às indicações de paragem
O turista de massas farta-se de viajar
Rapidamente carimba todo o passaporte
Mas das viagens apenas ficam fotos e explicações
Fica uma ínfima característica dos locais de visita
Pois segue a rota dos guias ou as indicações dos sites
O cidadão leitor está a seguir a mesma tendência
Não procura a profundidade, nem definir uma posição critica
Interpreta os problemas como quem tem opinião sobre os vencedores do campeonato de futebol
Sabe tudo sobre os jogadores em campo
Conhece os pormenores dos contratos
Só não sabe o que se passa na sua rua ou município
Tantas vezes não sabe o que é necessário comprar para abastecer a casa lar da família
José Gomes Ferreira
Cadáveres de vacas acompanham a estrada
Com grupos de urubus sedentos rasgando a carne
Longas rectas mostram a imensidão do palco
O sítio onde o entendimento coloca as coisas
Pequenos montes quebram a monotonia
O movimento é também o recorte da viagem
Nas localidades os inibidores de velocidade provocam solavancos
Os remendos no asfalto obrigam a atenção
Gradualmente o Sol esconde-se na lonjura
Foi ficando para trás à medida que nos aproximamos do litoral
Em alguns ponto o trânsito de sexta-feira ganha destaque
As ultrapassagens necessitam ser bem medidas
No correr dos quilómetros o preço da gasolina varia a cada posto de abastecimento
Dos vários pontos de paragem escolhemos a tapiocaria Coisas do Sertão
Faltam a partir daí pouco mais de 15kms para chegar
A noite chegou perpétua a todo Nordeste
José Gomes Ferreira
* A imagem é da viagem de ida, mas a beleza é igual. Na quinta e sexta-feira viajei praticamente 400kms (outro tanto na volta) para o interior do estado para dar aulas de forma intensiva a uma turma de mestrado e doutoramento, uma colaboração já antiga. Foi cansativo, mas é magnífico colaborar e visitar essas regiões, representa o Brasil interior, mas um interior bastante dinâmico e culturalmente rico.
A imagem é do enorme rochedo da cidade de Patu, no Rio Grande do Norte, muito conhecida pela prática de asa delta. No topo do rochedo tem uma rampa e a meio tem um santuário centenário.

O vento sopra fininho
Sorrindo com vontade de gargalhar
Puxa o aroma dos ipês e da saudade
Sacode levemente os cabelos
Acaricia a face humana trazida pela idade
Sopra o vento e a distância
Como também tudo o que é construção
As falas de diferentes sabores
E as escolhas chamadas felicidade
O coração é de gente
Bate pelos laços e resistências
As ruas da aldeia continuam a correr nas veias
Chegam também na brisa
Não existe monotonia quando colocamos questões
Não se trata de botar abaixo nada
Apenas de bombear o sangue e a vida
Sopra o vento e ergue-se em silêncio
Indico o quanto estou presente
Dou graças pelas voltas e pela coragem
José Gomes Ferreira
O dia amanhece colorido
O céu pintado de azul
O movimento que se escuta
As frases que surgem no pensamento
A esperança é sempre uma companhia
Maior ainda quando por terras do sertão
O interior revela necessidade de foco
A atenção da história prejudica
As raízes marcam a união
Mas quem decide regula-se pelo interesse
As disputas são no campo difuso das elites
O povo circula desde madrugada para o ganha pão
Se tem sombra é a do imaginário
O calor das horas deixa o corpo cansado
É o ciclo do dia que depois será memória
José Gomes Ferreira
O comboio volta à linha
Segue para a Beira Alta
Já não pára em toda a capelinha
Não agrada a toda a malta
O comboio regressa como novo
Após longas obras de remodelação
Foi desesperante para o povo
Não poder contar cada vagão
Vai voltar o pouca terra
Regressando à região
Trará turistas para a Serra
Só não tem vida a estação
Outrora tinha o Rápido
Na Linha do Norte de apelido Foguete
Agora o comboio é eléctrico
Veremos quem pagará bilhete
José Gomes Ferreira
Não escrevo para atingir a beleza
Nem a definição exacta de conceitos e acontecimentos
Essa é a escrita dos tipógrafos
E dos pintores de letras de parede
E que bem ficam a chamar a atenção
Escrevo por recusar esconder-me na aceitação
Por rejeitar entregar a reflexão à idade
Mesmo que nada aconteça nas palavras
Recuso-me a ser vassoura e manequim
A espreitar apenas as montras e os bikinis na praia
Gosto de dar que fazer ao aborrecimento
E imaginar alternativas na mudança dos lençóis
Escrevo para escolher permanecer vivo
E definir as minhas próprias opções
José Gomes Ferreira
Não acredito em amores perfeitos
Nem em almas gêmeas
O que existe são seres dedicados
E sentimentos erguidos a cada dia
Existe ternura, carinho e missão
Um prazer enorme pela reciprocidade
Empatia suficiente para aceitar e crescer
O amor em si é utópico e desequilibrado
A relação construída pode ser a catarse total
O espelho do outro na alma de luz
Isso sim é pureza integral
Esses amores são raros e desafiantes
Não acontecem através de um papel assinado
Correspondem à vocação de um para o outro
Sem obediência ou repressão
Apenas no fluir do ar bombeado por dois corações
José Gomes Ferreira
Corro para abraçar o mundo
Mesmo que não o veja capaz
Ainda que a multidão agonize
E chore na solidão a ausência
Vivemos tempos difíceis
Aqueles já sem avós e esperança
Vestimos bem, comemos melhor
Só que tem quem nada tenha
E deixe as lágrimas coladas no peito
Tem mães que já não choram
Perderam totalmente a ambição
Na beira do altar alguns amantes também se questionam
Seguem uma ideia simbólica de destino
Mas a prioridade necessita ser pão e amor
Desdenhamos muito da falta de posse
Olhamos o corpo de cima abaixo
Queremos ter a certeza da aparência e da linhagem
A empatia é uma moralidade em risco
Nem sempre os laços constroem gerações
Gostamos de ser armados cavaleiros
De surgir da supremacia do inventário
A honra não está garantida aos medianos
José Gomes Ferreira
Dos amores nem as memórias
Nem brochuras de exibição
As relações não são vitórias
São escolhas do coração
Dos amores ficam as noites
E os lugares das viagens
Passamos a estabelecer limites
Vamos sós para outras paragens
Não fica choro ou saudade
Do invencível sonho da perfeição
Depois cada um defende a sua verdade
Existe sempre divergência de opinião
Podemos plantar um bosque
E mudar um ecossistema
Mas se a paixão cai a pique
Insistimos em separar a clara da gema
Os amores são histórias por narrar
Podendo até gerar ciúme
Com a idade queremos abrandar
Mudamos o que era costume
José Gomes Ferreira
Internacionalização sim, é urgente
Mas a ciência sofre de protagonismo congénito
Formas de colonização cultural
Geralmente pela língua e hemisfério
É um absurdo como olham para o nosso trabalho
Quando publicado em revistas brasileiras
Até parece que o grau de exigência na pesquisa e avaliação não segue os mesmos trâmites
Lembra inversamente as músicas que fazem sucesso internacional
Quando traduzidas para português são sem sal
A ciência brasileira não deve nada ao que se publica lá fora
Mesmo que a dominação seja por nexos e vaidades
E oblitere do registo os pares por conveniência
E quando o lugar na universidade é cativo o poder chega às alturas
José Gomes Ferreira
* Poema-crónica
Sonho muitas vezes com o conforto da aldeia
Não são apenas as memórias e vivências
Os anos a atravessarem os gestos
Os instantes para brindar e reforçar laços
A voz da alma a descobrir as palavras
É o gosto sereno dos dias no arrepio da vida
A brisa silenciosa a sacudir os cabelos
A própria luz e o azul repleto do céu
Tudo junto o coração praticamente descansa
Repousa tranquilo na identidade do lugar
Segue nas ruas que não me estranham
Escuta a própria ideia de horizonte e paisagem
Na simplicidade podemos achar plenitude
Sem o alarido das notícias e orações
Apenas no fazer-se presente e sentir
A aldeia será sempre o berço e o lar
O lugar de encontro da paz com o sentimento
José Gomes Ferreira
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