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Exegese

por José, em 30.06.25

Talvez o caminho não esteja sendo o mais correcto
Proteger o ambiente deve ser um acto popular e da dominação do capital
E não apenas o arremesso snob da classe média
Pior de tudo é a entrada dos povos tradicionais na narrativa
Defendemos a inversão das ameaças
Mas excluímos o nosso contributo na vulnerabilização
A própria classe média consome e exclui
É a pior das ameaças na exegese
Viajamos de carro para caminhar
Seguimos sempre as formas mais confortáveis na aproximação à natureza
No diagnóstico defendemos a necessidade de mudança
Na prática levamos uma vida de excessos
De que adianta ocupar a rua na defesa dos combustíveis alternativos
Quem mais consome deve ser severo na escolha
Uma via alternativa supõe cedências
Não apenas o encanto dogmático da mudança

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:00

Dicotomias bizarras

por José, em 30.06.25

Tem os sábios e os que imploram
Os que estudam e os que sabem tudo
Tem os iluminados e os pacientes
Os fascinados e os agiotas
Os puros e os realmente humanos
Tem os mais belos e os encantados
Os moribundos e os subversivos
Os sonhadores e os malabaristas
São tantas as dicotomias
Sobretudo entre os que diziam que antes é que era bom
E entre os que não se apontam como vulgares
A representação ofusca sempre o outro
Mesmo que não exista destaque nos nossos predicados
Faltará amor próprio que substitua o vaticínio
Tal como faltará a empatia a substituir o ódio
E o coração que afasta o ego da contenda

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:47

Ternura

por José, em 29.06.25

Onde vou posso alcançar o meu destino
E o amor não deixa de ser o meu querer
O importante é que seja feliz
Em mensagens curtas da pressa
Como em sentimentos repletos de paixão
Que falam comigo em atenção
Com o carinho de quem estima
Na moda de beijar o retrato guardado no peito
Tenho todo o tempo do mundo
Sinto a esperança no coração
Escuto as notas de assobio
Acompanho a luz do olhar
Compreendo a distância e as palavras
Onde vou posso esperar
Tenho a doçura da paciência
Quando chegar a ternura será bem-vinda
O que é distante não é suspiro
É a melancolia dos pensamentos
As luzes presas na saudade

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:44

Respeito, por favor

por José, em 29.06.25

Chamamos esquecimento
Ao enterrar das carícias
Às promessas negadas
Com a toda a inutilidade
Porquê gritar silêncio e dor
E culpar a má sorte e o fracasso
Se tudo tem uma espera
Tudo tem sedução e mistério
Mesmo que interpretado em falta
Algo que não vem e se nega
Como água da fonte a jorrar
E no medo ninguém bebe
Assim vai o sentimento
Mostramos o ego e o orgulho
Falamos do sonho e da memória
Do perfume e sedução
Mas evitamos a lisura do amor
A chave que abre alamedas
Mostra a brisa dos rios
E aspira a não ter tormenta
Quando a pobre alma se convence
Que depois do adeus a vida segue

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:13

Pretendentes

por José, em 29.06.25

Não é apenas saudade que tenho dentro de mim
É também o desejo de liberdade e sentimentos
Ambos sem qualquer amarra das distâncias
E sem o agrilhoar ao amotinar dos despojos materiais
Até o amor precisa de liberdade
E as relações sempre foram de troca monetária
O namoro no Nordeste assemelha-se a um casamento arranjado
O pretendente é forçado a pagar o dote
Correndo o risco de ser expulso do grupo de cavalheiros
Talvez o sentimento seja um pretexto vazio
O que mais ganha visibilidade é onde esse dote leva
Que viagens permite e que restaurantes da moda são permitidos
Homem que se preze dança a dança
Só assim o galanteio dá corpo ao desejo
Se assim não for resta um milagre aos Velhos do Restelo

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:37

Quem tem o maior São João do mundo?

por José, em 28.06.25

Várias cidades do Nordeste reivindicam organizar o maior São João do mundo, slogan que Campina Grande, na Paraíba, gosta de ostentar, mas que levanta muitas dúvidas. Começo por dizer que não simpatizo com ajuntamento e das ditas festas juninas simpatizo com quadrilhas (equivalente às marchas populares portuguesas) e com os trios ditos de forró pé de serra de raiz. Não significa que não aprecie alguns músicos da região, por exemplo, Flávio José.
O problema é que o modelo de Campina Grande é também o modelo de Caruaru, de Mossoró e várias cidades Nordestinas. Este ano até Natal apresentou o mesmo repertório. Se o que está na moda é o DJ Alok, ele aparece no cartaz de todas as cidades, se for Wesley Safadão, Eliane ou qual outro artista pago a peso de ouro acontece o mesmo.
Não fui ao Parque do Povo, em Campina Grande, mas creio que apesar deste ano diversificaram os locais da festa o modelo precisa ser repensado. Talvez a Vila do Artesão e a deslocalização do pavilhão do Artesanato tenham sido bem sucedidos. As chamadas festas privadas, por exemplo no Spazio e Vila Maria da Luz, falaram-me bem, mas esses espaços são elitizados. O povo parece estar a ser afastado dos festejos, mas o que tem de gratuito também tem pouca procura.
Este ano dei conta de dois aspectos. Primeiro aspecto relaciona-se ao abandono do Centro da cidade. O turista não é levado ao Centro, bairro comercial que marca a identidade da cidade. Este anos os próprios comerciantes mudaram de atitude. Em 2024, em particular a Rua Maciel Pinheiro, a principal do Centro, estava cheia de animação com vários trios de forró a actuarem na entrada das lojas. Um dia como sexta-feira ou sábado pela manhã mais de meia dúzia de lojas tinham forró ao vivo. Este ano foi raríssimo acontecer. Nessa rua vi uma vez. Ao lado de onde moro uma loja teve um trio uma vez e poucos metros abaixo o mini shopping Cirne teve várias vezes. No início uma loja na esquina da rua Cardoso Vieira teve um trio, foi na inauguração da loja. Na Praça da Bandeira somente nos últimos dias teve um palco montado. Os lugares do Centro que merecem destaque são o Arraiã da CDL numa parte da Cardoso Vieira, tem o melhor forró, mas praticamente sem turistas. O Museu dos Três Pandeiros teve, em geral, uma programação interessante. Com algumas escolhas duvidosas mas acontece. A prefeitura ainda não percebeu o valor do Centro. Que precisa de alguma recuperação, mas sobretudo pontos de encontro para as pessoas. Praticamente não tem esplanadas e após as 18 horas fecha tudo, o mesmo acontece no sábado à tarde e domingo todo dia.

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O outro aspecto é que a cultura na Paraíba é levada a sério. O São João de Campina Grande é o ponto fulcral, mas pelo interior, em cidades até próximas, as festas atraiaram outro tipo de turistas, que gostam de se divertir, viver a tradição e estar longe da multidão. Tem a discussão sobre o que é ou não tradicional nos festejos do Parque do Povo. Além do barulho que a cerca de 1km me tira o sono, o formato é meramente festivaleiro. Quererem trazer milhares de pessoas para a cidade exige que mostrem atractivos. Quem paga caro para ir a uma romaria dificilmente volta.

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publicado às 20:46

Estado de espírito

por José, em 26.06.25

A luz do meu querer
Nem sempre se mostra resoluta
Se passeia nas ruas ao amanhecer
Vai certamente continuar a luta

Dou graças e suspiros
Por cada desafio superado
Também tenho momentos giros
Mesmo quando admito estar errado

É luz e vocação
Mesmo que outra coisa pareça
É verdade que sofro do coração
E boas coisas mereça

Sou feliz com as conquistas
Mais feliz com a esperança
Não me coloco fora das listas
A vida também é feita de alianças

Engane-se quem me vê triste
A minha alma é bem mais ampla
Só não tem guerra em que me aliste
Sendo eu a melhor parte dela

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:15

Português no sertão

por José, em 25.06.25

O que faz um português no sertão
Também me pergunto na reflexão
Fora disso é algo corrente
Talvez nem seja pela surpresa
Mas por inverter os fluxos
Não sei se o Brasil algum dia me entende
A força burocrática ainda me olha como invasor
Serei sempre alguém que deve cumprir os trâmites
Já o Nordeste tem-me escutado
Tem quem tenha mais dificuldade na compreensão
Mas escutam-me com respeito
Pedem para seguir menos ligeiro
Admiro quem sorri na descodificação
Certamente não me entendeu e exagera na educação
Também chego a ter dificuldade em entender tudo
A mim cabe-me pedir para repetirem
Não posso deixar ninguém sem resposta
Tenho dificuldade em incutir uma postura combativa
E mais defensora da identidade regional
A ambição é que nos faz progredir
E o que nos une é o que mais nos incentiva
O português veio também aprender noutras vivências
Troca figurinhas para se encantar
Imagina-se e abraça a imensidão
Não perde a vontade de sempre se descobrir

José Gomes Ferreira

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publicado às 02:23

Cenários

por José, em 25.06.25

Tem muitos laços no umbigo
Que se escrevem sem acento
Tem muitos mirones no postigo
Com medo do sopro do vento

Andam mísseis à solta
Em guerras desnecessárias
Tem quem diga que é revolta
Mas são apenas condições arbitrárias

Tem muita voz engasgada
E muita atitude tremida
No meio tem que não valha nada
E ainda se ache ofendida

Se o que é nuclear é para explodir
Já não sei o que dizer
Pois sou incapaz de fingir
Mesmo em cenários de prazer

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:56

São João

por José, em 24.06.25

São João tão atrevido
Com os fogos a rebentar
Não percas é o sentido
Deixa o povo te festejar

São João dos arraiais
Da sardinha assada e martelinhos
Não andes a pular os quintais
Deixa em paz os vizinhos

São João do Porto e arredores
Mas também de Campina e Nordeste
Manda para a cama os menores
Tens fama de ser cabra da peste

São João és um Santo universal
E a festa nunca te esquece
Não queiras abrir uma sucursal
O que é moderno não te favorece

José Gomes Ferreira

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publicado às 02:17

Olhos fechados

por José, em 24.06.25

Só quero ter a sorte de um amor tranquilo
E não as evidências do que é natural
Não são os meus anseios a alegrar o mundo
Nem a disputa de palco e palpitar
Somos mais iguais do que parecemos
Os perfumes são apenas aromas
Fragrâncias com existência volátil
A aparência é apenas uma cordilheira posicional
Chego a pedir tréguas quando a luta é inglória
O silêncio é o fogo que guardo nas palavras
Não ando a queimar matas ou derrubar cartazes
Ainda assim não desisto de me pronunciar
Peço paciência ao coração
Talvez se defina no fim da caminhada
Também pode encontrar rumo no acaso
Gostaria de parar para abraçar o vento
Por uma carícia sua no rosto e nas pálpebras
Fecho os olhos quando quero acreditar
A imaginação é uma verdade ainda solteira

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:32

Desliguem as máquinas

por José, em 22.06.25

Se deixar de ter voz desliguem as máquinas
Se deixar de sonhar e imaginar desliguem tudo
Quebrem em definitivo o silêncio
Levem as estrelas para quem precisa
Se deixar de me expressar não faço mais parte deste mundo
Guardem as flores e o choro
Desliguem tudo para a despedida
Guardem qualquer comoção ou causa
Desliguem as máquinas e terminem a prova de vinhos
Guardem apenas as boas memórias
As risadas, as insistências e os abraços
Mas desliguem a porra das máquinas

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:59

Oscilações

por José, em 22.06.25

O que é bom apanha-se-lhe o gosto
Mesmo havendo oscilações
Falta pouco para o saudoso mês de Agosto
Palpitavam outrora nele os corações

A memória nunca esquece
Na ilusão de que tudo foi passageiro
Não é um simples não aquece ou arrefece
Nem um juízo de quem se ergueu primeiro

O tempo passsa também na pele
Marca o rosto e o sentimento
Não se reduz o amor a limão com mel
Tem algumas lágrimas de sofrimento

Não se procura qualquer retrocesso
O que não deu certo não se repete
Podemos dizer que é tudo um processo
Ninguém nesse tempo fez nenhum frete

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:20

Cães à solta

por José, em 21.06.25

Quando se propõe consensos as pessoas parecem soltar os cães
Confundem identidade colectiva com ameaça
Nunca como hoje as pessoas reagiram "com duas pedras na mão"
A expressão popular é cada vez mais válida
Mesmo que não se proponha tirar nenhum bocado de pão a ninguém
O impulso em potência egocêntrica está presente
A Humanidade não perdeu apenas a empatia
As pessoas gostam de saltar logo para cima dos outros
Acham que ter voz é dominar o palco
Precisamos inverter esta pressão
Pois sem reciprocidade vamos deixar péssimas heranças
Não vamos suportar relações de vizinhança
E colocar em causa laços e interacções

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:46

Verão na aldeia

por José, em 21.06.25

Chegou o Verão na aldeia
E com ele as borboletas
Os tralhões à volta do milho
Outras aves à espera da eira
O calor na explosão dos insectos
Com o suor a escorrer no rosto
A fonte ainda deita água
Continua fresca e saciante
As uvas pintam-se de roxo
Outras de amarelo pureza

Chegou o aroma do feno seco
Da erva tingida pelo Sol
E com receio das chamas
A lembrança da resina dos pinheiros
A lenha toda para rachar
A fantasia de um novo amanhecer
Os lameiros repletos de pão e consciência
Os jardins honrados de cor

Chegaram também os dias longos
E o pôr-do-sol a mostrar o infinito
As noites na calçada a muitas vozes
As caminhadas e os passeios de bicicleta
O reencontro de emigrantes e transeuntes
A lembrança em experimentar um ar mais fresco
A pausa das aulas e a permanência de férias

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:38

Anuência

por José, em 21.06.25

Talvez a idade esteja a deixar-me despreocupado
E mais descrente face a dogmas
Não perdi o optimismo e auto-estima
Apenas questiono o abandono do pensamento face a crenças
O ser humano parece ter desistido de si mesmo
Entrega a matéria à ideologia política
Cede o que deveria ser à orientação religiosa
Resta saber se o coração aguenta e o que fará com ele
Continuo a deixar-me encantar pela natureza
A suprir as carências básicas da aparência
Não procuro glamour ou atrair o amor pela sedução das coisas
Não receio estorvo no meu canto
Sou silêncio e voz suficiente
O que tiver de genuíno eu aceito
O que for para agradar às fragrâncias eu pondero

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:21

O boom dos anos 80

por José, em 20.06.25

Lembro na década de 1980 da disputa para se saber mais, para se conhecer mais em vários domínios. Portugal tinha saído do isolamento da ditadura e em particular a juventude vivia essa efervescência, que não era apenas nossa, a cultura pop, personalizada pela new wave, mas também por toda a herança pop, disco e punk da década anterior, chegou a todos os contextos urbanos. Em Portugal chegou através da rádio, depois o jornal Blitz e várias lojas de discos com importações diretas. Lembro da Discoteca Coutinho em Viseu, em Coimbra não lembro do nome, em Lisboa da Bimotor nos Restauradores, havia outra no Bairro Alto, também não lembro do nome. Não podemos igualmente esquecer o Rock Rendez-vous e outros espaços. Tal como não podemos esquecer de algumas figuras fenomenais na rádio. Cito sempre o grande António Sérgio, mas não podemos desconsiderar outras figuras, incluindo Júlio Isidro na televisão. Na rádio ainda o programa Em Órbita marcou gerações.


Não foi apenas o boom do rock português, também se escutava muito rock espanhol e mesmo brasileiro. Por falar em Brasil, os principais artistas da MPB foram (re)descobertos na mesma altura. Caetano Veloso que o diga, assim como Buarque de Holanda, Bituka, Gilberto Gil e outros. O tal boom gerou uma corrida à criação artística, infelizmente interrompida pela entrada em cena das grandes editoras. As editoras independentes e as rádios piratas tiveram papel de relevo.

Actualmente a rádio é uma mescla de pastel de nata com carne de porco. Até as rádios locais perderam interesse, focaram-se no lucro e em público que liga todos os dias, ou seja, os idosos, só que isso foi chão que deu uvas. Depois a Internet fez o resto. Talvez não a Internet, mas a padronização dos gostos, pois a Internet chegou a ter rádios sinónimo de diversidade.
Citei a música por ser a área que acompanhei mais, mas a literatura, o cinema e a moda são também excelentes exemplos. Sem esquecer os debates científicos. Na literatura não esqueço a tradução de parte das obras de Jean Cocteau, nunca cheguei a encontrar O ópio, tenho A voz humana, monólogo que acompanhei igualmente no teatro. Na questão da ciência, o final da década coincide com a minha ida para Lisboa, onde a Gulbenkian organizava conferências fabulosas e de sala cheia.


Não vejo este frenesim nas décadas seguintes, por coincidência ou não associadas ao apogeu do neoliberalismo da globalização. Acredito que muito passa pela não transmissão geracional. Pode ter ficado determinado gosto dos pais, mas não ficou a vontade de conhecer mais. Estes últimos anos foram de hecatombe. Não sei se a banalização dos festivais teve algum efeito, são tudo hipóteses explicativas.

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publicado às 18:02

Masculinidade

por José, em 20.06.25

Tem homem que se diz preparado para a guerra
Quando o contexto pede paz
Critica e observa o outro
Não vá ter de competir com a imaginação
E a força de pouco valha face aos actos

Tem macho a arrotar a cerveja
Fingindo que vai ejacular
Rindo do que não tem piada
Denegrindo o sexo oposto
Prefere um aperto de mão
Não vá um amigo desacreditar a sua masculinidade
Mostra os pêlos do peito
Não tem pudor em coçar o que confunde com o cérebro

Tem homem que pensa ser rei
E confunde casamento com criadagem
Usa o sofá como trono
A sua especialidade é o futebol
Gosta também de jogar às cartas
E de piadas com suplemento genético

Tem pai que pensa servir de exemplo
Quando a pele nua se mostra
E olha babado uma mulher
Querendo mostrar como se faz
Passa a vergonha da sua geração
Mesmo sem ser provocado a mudar

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:40

Ouvir vozes

por José, em 20.06.25

Se ouço vozes são para melhorar a compostura
Para alinhar devoção e oração
Para aceitar o regime e a obediência
Andar sempre segundo os cânomes permitidos
Respeitar o alinhamento com a ordem social
E manter-me calado quando não falam comigo

Se ouço vozes são as que usam sucesso como sinónimo de felicidade
Exigem que ocupe o palco e vença
Chegam a confundir racionalidade com determinantes de poder
Formam homens-soldados para alinhar nas ruas e praças
Materializam também a ideia de homens-crentes
A fé arrasta-nos para desfilar nos exércitos

Se ouço vozes são também da consciência
Da própria formulação da memória e da liberdade
Da luta interna e do alcance superlativo
São igualmente as da empatia e tradição
Do amor, do sonho e da imaginação
Da observação no configurar da realidade

Se ouço vozes são múltiplas
Não devo privilegiar nenhuma
Nem aceitar o domínio dogmático sobre a natureza
Devo aceitar com bondade esse dom
De escuta das várias dimensões do existir
E deixar o equílibrio conquistar o seu lugar

José Gomes Ferreira

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publicado às 14:09

Sinopse

por José, em 19.06.25

O dia anda a pedir o silêncio do espírito
Ainda que a saudade espere certezas
E a jubilação da tendência para a paz
As flores do jardim estão viçosas
Mesmo que a distância apenas traga os aromas
A chuva escuta-se com estrondo
Lembra o coração em simbiose com o peito
O Sol espreita intermitente, quase em confronto
Escutam-se também os pássaros
E o refugado de cebola em azeite
As vozes secas aguardam compaixão
O café dá sinal de ferver no fogão
O seu paladar trará plenitude
E recuperá as energias e sentimentos
Escutam-se também memórias
E imaginam-se rostos já vistos
O meu querer segue humilde
Dou razão à finura do pensamento
E à elegância com que se cruza passado e presente

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:27

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