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Dia do pai

por José, em 18.03.25

Digo à noite que estás presente
Que és luz mesmo sem se ver
És fruto e imaginação
Impulso para a vida que me espera
Felicidade vista à janela
Silhueta em movimento
Digo à noite que me inspiras
No silêncio que acaricia as estrelas
Nas ausências trazidas na saudade
Na convenção do teu papel
E na imagem que dela fazem
Digo à noite que és o meu segredo
A minha vela acesa na dificuldade
A minha prece que trago como recordação
O caminho que cruzo e te encontro
Digo à noite que nunca partiste
Que tem sido uma escolha e recurso
E que toda a beleza passa pelo sentimento
Mesmo que sejas apenas a presença que faço de ti
E a vida nos acompanhe na consciência dos sonhos

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:55

Prioridades

por José, em 18.03.25

O que interessa se sou alto ou baixo
Se sou negro, ateu ou favelado
O que interessa se tenho dinheiro no banco
Se a prepotência do capital dá gosto ao lânguido da obediência
O que interessam as roupas que visto ou o carro em que circulo
Se o meu bairro é um reforço da elite e eu estou nele
O que interessa se sou convidado para festas
Se me dou o direito à ignorância e luxúria
O que importa é se me dedico
Se escuto e dou voz ao coração
O que importa é a luz que chega e irradia
Se inspiro e deixo sementes na passagem
O que importa é se digo bom dia e retribuem
Se me despeço e deixo saudades
O que importa é a paz que cultivo
E os valores que me levam da natureza à memória

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:54

Fetichismo

por José, em 16.03.25

As redes sociais transformaram cada corpo num painel publicitário
E cada comentário em slogan político
Uma rede social produz corpos políticos marcados pelo azedume e individualismo
Crítica a transgressão de quem luta por liberdade transgredindo de forma violenta
O corpo é violento quando quer subjugar
O espaço público não é mais o espaço de opinião e participação
Esse corpo em rede não é opinião, é delito
Apresenta-se como belo, exemplar, poderoso e líder
Não passa de um fetiche, de uma deusificação materialista de felicidade
De um motivo para um combate de sonhos que deturpam a realidade
Um Homem em rede é um ser narcisista
Cooptado pela ligação constante às redes

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:19

O que será do amor

por José, em 15.03.25

O que será do amor sem o impulso
Sem a vontade de se exibir num cordel pendurado
Sem sorrir na escolha do primeiro encontro
E sem o arrepio de desejo que atravessa o corpo

O que será do amor sem a mentira
Sem a pressa em se consumar
Sem o aperto no coração da espera
E sem a saudade que o modifica

O que será do amor sem dinheiro
Sem a facilidade de correr mundo
Sem se verificar à mesa do café
E sem ver no mar as ondas da vida

O que será do amor sem o sonho
Sem a utopia da paixão
Sem o cruzar de seres de luz
E sem a sedução das histórias

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:03

Águas de Março

por José, em 15.03.25

Chegou a chuva de Março
A temperatura quase nos amadurece
Escolhe os pontos onde colocamos os pés
Derrapa a indolência na calçada
Surge o brilho intercalado da luz entre nuvens
E os pensamentos relutantes ganham vida
A chuva do mês é suficiente para amontoar lixo disperso
Os políticos reversos logo agem em defesa
Como se o desleixo fosse adaptação premeditada
Chega a chuva e o silêncio transforma-se em sinfonia
Em composição que enquadra o espírito da realidade
Com sons, aromas e presenças orquestradas
A beleza da natureza toca a presença dos dias
Chega a chuva e o ano começa a ganhar novas formas de vida

José Gomes Ferreira

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publicado às 12:43

Revivalismo

por José, em 14.03.25

Sinto ainda os pés nas pedras de granito
O calcar de compasso em romaria
Com toda a elegância das tradições
E o cruzar de vizinhos ao longo da rua
Observo o musgo nas paredes
E o céu azul resplandecente
Escuto as andorinhas ainda madrugada
A minha madrugada longínqua
E que me leva a rebolar inquieto nas viagens
Gosto de salvar até a sombra que deixo ficar
Ando cima abaixo como quem espera algo
Não sinto saudade do que vivo diariamente
Em vez disso agradeço, agradeço e bebo água da fonte
Ao fundo vem um rebanho de ovelhas, sinto o aroma sonoro das vestes
Viajo mais com o coração que nas vertentes
Os ciclos da vida surpreendem até os estrangeiros
Onde fico guardo a satisfação e as bandeiras

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:41

Dar nas vistas

por José, em 14.03.25

A corrida parece estimular a consciência
É o esforço metropolitano da inclusão
Corremos anónimos na recompensa vazia
Depois inventamos o amor
Antes inventámos a fé e o sacramento
O perdão limpa até o fundo ao tacho
A ideia de sucesso parece dar brilho ao Sol
O nosso ego ergue-se forte no parapeito
Adoramos ser reis por um minuto
Não admira o sucesso dos programas televisivos com simulações da normalidade
A televisão sem banalidade esvazia a vida
Precisamos desse espelho de fantasia e alarvice
Não se trata apenas de garantir a sobrevivência
Mas de estar a par da vida alheia e das profecias dos comentadores em hora de ponta
Não é das propostas políticas que queremos saber
É dos vendedores ambulantes de esmeraldas
De quem se coloca em bicos de pés para ser escolhido

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:16

Agressão

por José, em 12.03.25

Não se escuta o latido dos cães
Nem dos bibelots à janela
A cidade cosmopolita tem motor
Ergue-se na visão sonora da máquina
A estrutura da agressão e do movimento
Os parques não estão apenas vazios de gente
Estão ocupados de rodas sobre os lancis e no desfalque das raízes
As pessoas não dialogam, circulam em silêncio
Num silêncio que vomita as fezes da modernidade
No ronco quente dos combustíveis que ardem
Nas promessas de qualidade de vida e cidadania
A cidade morre cinzenta, desordenada e insalubre
Rezam no apelo ao espírito divino
E a chuva arrasta viadutos e orçamentos
Com corpos chacinados nos seus direitos
A cidade é o paradoxo da exclusão sem arbitragem
Acolhe e mata os defensores da liberdade

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:58

Onde iremos parar?

por José, em 12.03.25

O discurso sobre transparência parece uma máquina de arrasto
Promete apagar chamas e nivelar o solo
Mostra até as virtudes dos efeitos comparados aos prejuízos
Ajuda na maquiagem das interpretações
Torna belos os discursos venenosos
Coloca todos no pelotão em ordem unida
Mas onde passa a língua passa o ferro
Ninguém se distingue na farsa
Uns gostam mais que os outros da resina a correr nos pinheiros
Tem quem se dedique ao deboche e expiação da vida alheia
É assim que ganham destaque, contrariando as próprias promessas
O prazer da política não está no desenvolvimento
Está no escárnio e despudor
No cuspir no prato por nele ter comido o povo
A miséria do mundo é o enriquecimento das elites
E o fortalecimento da distopia para que surjam monstros salvadores

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:10

Orgulho

por José, em 11.03.25

No teu labirinto mulher
No meu vagar de existir
Andamos em desencontro
Mesmo na certeza do querer

Nada acontece à toa
Ainda que o tempo se esgote
Nenhum de nós tem pressa
Prefere guardar o vazio no peito

O orgulho não deixa saudade
Mas é ele que nos domina
Não damos o braço a torcer
Mesmo que o coração doa de solidão

A tudo chamamos paz
Quando é a ausência que nos acompanha
A espera silenciosa dos dias
O lugar a que queremos chegar

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:17

Lutar

por José, em 11.03.25

Lutar é uma arte
Na vida que nos desafia
Não nos levando a Marte
Também serve de terapia

Acham que não temos juízo
Quando a vida tem destino
Mas se chega o prejuízo
Tem que vire clandestino

Muitos estão na cama
Também estão na academia
Queixam-se como quem não ama
Levam uma vida de fantasia

Sempre lutei para chegar
Como emigrante em transição
Cheguei a parar de amar
Hoje peço que me devolvam o coração

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:17

Parem de romantizar o antigamente

por José, em 10.03.25

Estou longe de romantizar o antigamente
Apesar dos laços e lembranças fortes
E de crescer junto de pessoas de extrema bondade e sabedoria
Os tempos eram muito difíceis
O afecto não sobejava na palma da mão
Havia disciplina, o respeito era por imposição
O amor e o carinho não tinham exposição pública
Quer entre casais, quer entre pais e filhos
Se éramos felizes era por desconhecimento
O nosso mundo era a aldeia e os pedaços de terra para cultivar
Cada sonho tinha a medida das aves em cada estação
Obedecer, ouvir e calar eram as regras do jogo
As mulheres tinham a última a palavra, mas se lhe fosse dada voz
As crianças à mesa não podiam nem fazer barulho ao mastigar
A relação com os vizinhos nem sempre tinha a concórdia da soleira da porta
As disputas por água, demarcações e pinheiros eram mortíferas
A felicidade de que falam era de estômago vazio
As mãos criavam saliências de tanto calo
Trabalho desde criança, sempre fiz de tudo
Desde muito cedo bebia vinho como os adultos, até interromper por vontade própria aos 12 anos
Nunca passei fome na ausência de alimento, mesmo que fosse tudo um tapa miséria
Não havia a noção da higiene e do cuidado
A sobrevivência honrava a vida dos mais pobres
A estrumeira ocultava os despejos
Na rua misturava-se lama com mijoca do porco
O colchão de centeio era o ecossistema rico para para parasitas

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:19

Chuva domingueira

por José, em 09.03.25

Andei fora e dentro
Até para não enlouquecer
Fui no açude e no centro
Até que começou a escurecer

São Pedro trouxe chuva forte
E mandou muita trovoada
Nordestino tem aí a sua sorte
A falta de chuva não dá com nada

Só eu fiquei fechado
À espera do mundo mudar
Tivesse ido para outro lado
Não estaria para aqui a falar

A cidade está deserta
Neste grande aguaceiro
É preciso ter mente aberta
Não vá a ansiedade surgir primeiro

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:03

Heresia

por José, em 09.03.25

Chamam-lhe heresia
Por o amor ser tão puro
Não ser lido em profecia
E ainda não ser maduro

Desconfiam de tudo verdadeiro
Que não é repetido ao domingo
Mas o coração é que é um ponteiro
É através dele que me distingo

A fé é de cada um de nós
A razão não está no que herdamos
Uma coisa são as memórias dos nossos avós
E a outra o que pensamos

Tradição não é favor
É um gosto em recordar
Mas no tocante ao amor
Cada um saberá se dar

Heresia é o abandono
Escutar discursos por indicação
É assumir que não somos o próprio dono
E vir a público incitar à discussão

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:26

Marcações

por José, em 09.03.25

Mancho por vezes a pele e as componentes
Uma gota de sangue escorre trêmula de um arranhão
Outra gota sai perfurada pela agulha da seringa de Insulina
Muitas são gotas de suor
Geralmente de toda a correria
Insultadas pelo calor acumulado
E que chegam a todas as horas sem avisar
Incluindo o corpo estremecido na noite
Mal dormido nas inquietações da vida
E aos hábitos ligeiros de acordar
Mancho a própria noite no rebolar
Na escolha inquieta pela posição
Procuro a memória nessas manchas
Vivo e revivo até voltar a adormecer
Escuto cada ruído do coração
E as fases da Lua ao passar

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:14

Celebrar o dia da mulher

por José, em 08.03.25

A cada ano tenho mais dificuldade em celebrar o Dia Internacionalda Mulher, não por falta de assunto ou de vontade de escrever, mas por revolta. Vejo o machismo a crescer a olhos vistos e a condenação do feminismo como se fosse uma seita, um ensejo woke que está na moda. As pessoas não querem de facto aceitar a diversidade e a liberdade, usam as frustrações para descascar em quem impedem de se defender. Um homem mulherengo ainda é visto como uma espécie de bom partida, uma mulher que sai com mais de um recebe outros atributos.

O mais triste é que tudo começa em casa, na Igreja, na escola e entre amigos. A violência doméstica é só parte do problema. Precisamos olhar para os estigmas, as ideias feitas a partir da condição de género. É comum o povo dizer que "mulher quer-se mais nova" que o homem, que mãe solteira "já vem com o serviço adiantado". Não faltam exemplos no dia a dia. Como enfrentar a violência doméstica se o problema é cultural, não se enfrenta através do agravamento da pena, mas de educação, intervenções de fundo que envolvam toda a sociedade.

Uma pessoa próxima de mim vai para algumas décadas criticava outro dia o fenómeno das "mães-solo" no Brasil, as nossas mães solteiras. Evito sempre criticar a vida privada, mas no instante não deixei de o fazer. A pessoa em causa é pai ausente. Não interessam os pormenores, mas naquele instante ficar calado não era opção.

Celebrar o Dia da Mulher não é sair para jantar, comprar flores ou presente. Esse é o maior equívoco, gerado pelos interesses do comércio. Temos muitos desafios para enfrentar e muitas certezas que necessitamos desconstruir. O Papa critica numa mensagem de hoje o aborto e a eutanásia, mas não vi até hoje a Igreja A retratar-se face à subjugação da mulher. Maria Madalena permanece no imaginário da interpretação bíblica como a prostituta, a perdida, quando outras interpretações a colocam no lugar de companheira. Com excepção de Maria, que é virgem e Imaculada, a Igreja tem um histórico de desprezo das mulheres.

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publicado às 16:00

Mutantes

por José, em 08.03.25

Fui-te ver às nove e meia
Ainda era cedo para almoçar
Faltava mais ainda para a ceia
Fui-te ver para te falar

Era cedo e eu sabia
Também não quiseste adiar
A manhã estava fria
Estava boa para caminhar

Andámos de roda na conversa
Sem ter muito para dizer
Nenhum de nós tinha pressa
Não havia muito para fazer

Seguimos devagarinho
Com pouco a acrescentar
Era pois muito cedinho
Não tínhamos nada a lamentar

José Gomes Ferreira

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publicado às 03:38

Tarde de sol

por José, em 08.03.25

Amor que toma conta
Marido que não quer saber
Terremoto que amedronta
Escolha sem dar a perceber

Nos dias completos
Chega o carinho a jeito
São raios de Sol diretos
Cravos colocados ao peito

Mesmo a olhar devagar
Para limitar a referência
Tem momentos para parar
E para exercitar a paciência

Tem ainda aroma a Carnaval
E cores muito elegantes
Música que lembra festival
Sorriso de muitos amantes

José Gomes Ferreira

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publicado às 03:01

Coração distante

por José, em 07.03.25

Não estou louco ou perdido
Quando por vezes mudo de lugar
Talvez por muito ter vivido
Não sei onde estou a despertar

Não será nenhuma confusão
Nem perdi o perfeito juízo
O sinónimo de simples paixão
Não gera qualquer prejuízo

É também a muita saudade
O rosto de quem nos lembra
Vivo na memória de verdade
Abraço até a própria sombra

Se tem côdea de pão é alimento
Se tem lembrança é amor
Não são apenas os cabelos ao vento
Um coração distante é um vencedor

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:16

Patamar

por José, em 07.03.25

É corpo preguiça
É corpo desejo
Amor em fantasia
Muita paz interior

É noite em silêncio
Formas em asfalto
Céu estrelado
E tentativa de ligação

Sem esquecer o recanto
O olhar sisudo da espera
O café quente na língua
Com aroma a ternura

E o status das vozes
Brigadas de gente a gritar
No modo de falar alto
Que a noite transforma em ruído

E as escarpas de luz
Por onde escorrega a esperança
Enchem-se de apoio
Não querem perder a observação

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:03



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