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As minhas mãos

por José, em 17.02.25

Também levo as mãos à cabeça
De tanta volta que dá o mundo
E perante escolhas sem opção
Na indignação face ao cancelar de respostas
Levo igualmente as mãos ao peito
Quando o coração se inquieta
E a voz que me chega é superior ao que devo ouvir
A vida reserva-nos várias reacções
Ainda assim sigo leve na ternura
Posso influenciar alguns caminhos
Não mudarei o mundo na totalidade
Gosto de ser brisa, mesmo quando anunciada a tempestade
E a objectividade não se aplique à atenção
Gosto de ser paz, mesmo que Humanidade não obedeça
E não se enxergue uma luz de esperança
Gosto de ser critério, desde que se discutam os paradoxos
Levo as mãos à boca quando a intensidade não apresenta respostas
Quer apenas sobrepor-se ao entendimento

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:56

A noite é uma surpresa

por José, em 16.02.25

A noite é a espera das horas para rejuvenescer
Não é o fim solitário do dia
Aos amantes lembra o encanto e a ternura
O cosmos na beleza de tocar o coração
O céu estrelado de hipóteses
Os pirilampos a incendiar o silêncio
O brilho intenso que cativa o olhar
Aos outros traz repouso
O escrutínio da liberdade após a luta
A espiritualidade que o corpo eleva
A memória de tudo o que foi gente
A noite é uma voz que sussurra
Fala de gente a pedir para adormecer
É a ideia perpétua da vida e do movimento
O ciclo que se compromete antes de se extinguir
A noite é uma surpresa, o renovar das escolhas e do sangue
O carregar com energia da história para continuar

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:45

Nostalgia

por José, em 16.02.25

Guardo muitas memórias da minha aldeia
Onde ainda hoje corre água como melodia
Nos trancos e barrancos que cada ribeiro serpenteia
A enchente lembra uma orquestra de fantasia

Nem toda a água vai para o mar
Enche os lameiros verdes de ternura
A natureza é para se respeitar
Cabe-nos observar a sua beleza e doçura

Outrora havia muito pão de semeadura
Em cada uma das parcelas divididas
Não se pode ignorar como a vida era dura
Nem a história das sardinhas repartidas

Ainda assim sobra a nostalgia
E a lembrança dos dias em comunidade
Entre o povo não havia cá fidalguia
A pobreza não ofuscava a dignidade

Era bom ver os campos cultivados
E o pinhal repleto de riqueza
Só que nem todos eram afortunados
E o futuro não rima com incerteza

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:54

Nocturnos sagrados

por José, em 16.02.25

Já não se questiona Deus fora da estante
Nem se apalavra o Homem fora da oração
Discordar é encabeçar a solidão
Ter opinião é magoar o sagrado
É questionar a confiança e a transparência
E querer derrubar a legitimidade do poder e da tradição
Já faltou mais para voltar a fogueira
Assinale-se o regresso da Inquisição
Tudo falha quando a economia manda
Quando o poder encontra formas silenciosas de obediência
Não falamos no assunto A ou B por parecer mal
Ao mesmo tempo aceitamos o descaramento
O desvio de padres para o dinheiro e prazer da carne
A exibição de alienados como heróis
A mostra de indigentes como figuras públicas
Não se questiona Deus nem a vassalagem
Preferimos repetir a escuta das portas a ranger
Os ruídos nocturnos deixados na consciência

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:38

Carnaval é sinónimo de samba?

por José, em 15.02.25

Quando estamos do lado de fora as representações são essencialmente as que nos chegam através da comunicação social, quando passamos a conhecer os locais as primeiras ideias podem mudar totalmente. Isso mesmo acontece com a ideia que fazemos quanto ao Carnaval no Brasil, que nos aparece associado ao samba. A realidade mostra outro tipo de celebrações em outras cidades. Por exemplo, em Salvador da Bahia e em Recife, capital de Pernambuco. 

Esta tarde em Natal, um dos grupos que vai desfilar no Carnaval ensaiou num bar pertinho de casa. Natal e o Rio Grande do Norte não possuem uma tradição definida de desfile carnavalesco, ainda assim ganham destaque grupos associados a comunidades tradicionais. Outros grupos acabam por reproduzir as tendências regionais e nacionais, que são o frevo e o samba, entre outras.

Lembrei-me de recuperar algumas imagens já com 10 anos na cidade de Recife, lá onde o frevo é rei. As imagens são do Museu do Frevo, no Recife Antigo, assim como da cidade vizinha de Olinda. Ao vivo e a cores tem o Galo da Madrugada. Recife e Olinda podem também ter exibições de Maracatu e outras sonoridades, havendo mesmo aí grande diversidade e influências.

Este ano não sei em qual cidade fico, mas uma visita a esses locais seria muito bom, ainda que tamanha multidão seja sufocante, mas o momento é único. O frevo é património imaterial. O nome vem de ferver, fervoroso. É um ritmo quente, colorido e intenso.

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publicado às 23:08

Linhas vermelhas

por José, em 15.02.25

A tolerância e o bom senso têm vivências mundanas
Sobretudo quando a ética vale menos que o dinheiro
Tem quem se proclame Deus e Rei
Na soberba da Civilização em crise tem profetas de sobra
Quando muito falam em defesa de valores estão a afirmar que transgrediram
Sobram falsos moralistas por culpa não admitida
Não podemos deixar que o dogmatismo oprima
Em terra de cego quem tem um olho é rei, diz o povo
Em terra de sobrançaria quem tem muita lábia convence
E transforma a idiotice em projecto dominante
Os tempos são de incerteza e falta de vocações
Aceitar a intolerância como ordem de consenso é desistir de viver
Não existe desenvolvimento sem diversidade e divergência
Calar os povos e a ciência é genocídio
Não podemos aceitar calados que se ultrapassem as linhas vermelhas

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:47

Dia seguinte

por José, em 15.02.25

Deixa-te admirar na sorte
Em gestos de linhas sensuais
Segue para Sul ou Norte
Faz parte de histórias reais

Efemérides são cobranças
Celebradas para não esquecer
Só que o amor não tem poupanças
Não marca um dia para acontecer

Se assim fosse verdade
Como o aroma de uma flor
Facilmente perdia intensidade
E nao teria qualquer valor

José Gomes Ferreira

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publicado às 15:44

Abanão

por José, em 14.02.25

De súbito abanam todas as frestas
As ranhuras mal fechadas da vida
Aquele lugar por onde sopram as circunstâncias
Abana também o coração
Não foi feito para o constante sobressalto
Abana tanto que a pele arrepia
Lembra amor à primeira vista
Mas na inquietação do beco sem saída
Abanam ainda os projectos deixados a meio
A frustração de não se elevar a espada e o ramo de oliveira
Quem vive laços fortes mantém-se intacto
Sacode apenas o pó dos dias e as folhas brancas
Os laços e os recursos fornecidos são o cimento que cola o corpo à própria história
Já os mais vulneráveis são colocados na enxurrada
Nesse caso abana também a luz e a alma
Os caroços putrefactos na estrutura dos punhais
A liberdade ecoa intersticial
Escutam-se risadas e gritos em face da condição
Abana também a época e a própria espuma
Os beijos fingidos na cratera do desejo

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:06

Amor raro

por José, em 14.02.25

Nem tudo no amor é perfeito
Sublime no raspar das estrelas
E na imaginação romântica da realização
Quem assim sonha nunca viveu o amor
Esse amor só existe nas narrativas
Fora delas também cospe fogo
O amor é egoísta e doentio
O amor é exibicionista
Para conquistar exibe-se
Para dar visibilidade à conquista exibe-se
Adora mostrar aos mirones que aquele corpo e sentimento têm dono
Também se exibe no aparato e privilégio do dinheiro
O amor é o orgasmo do dinheiro e do poder
O amor relacional é mera representação
Adora subir ao palco e ocupar o papel principal
Assume também elementos verdadeiros
Mas esse é o amor fronteira
Aquele que o cinema e a literatura narram
O diamante raro invisível aos olhos

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:31

Desenganos

por José, em 13.02.25

Subi aos céus e pensei que era glória
Uma dádiva merecida no coração
A realização completa do ser
O intuito do encanto supremo
A luz escolhida pelos espíritos
O encarnar da doçura nas madrugadas
Só que o céu era apenas o azul gelado
A subida no engano das paixões
O céu era apenas a ilusão da confiança
A crença sem questionar se a reciprocidade nos une
Vai para além da intenção e promessas
Subi aos céus em novos voos
Não falhei nessa constância de certezas
Mesmo que o meu agrado possa ser um espelho de águas
Também na vida as gotas se desfazem
Somos como somos em verdade
O que esperam de nós facilmente cai no fatalismo
Subi aos céus e achei-me incompatível
Afinal o amor não é a química do cérebro sobre a humildade
É o pecado da aceitação de cada diferença
A exibição de cada dote a admirar

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:02

Diferenças

por José, em 13.02.25

A relação é tudo o que perdura
E reconstrói quotidianos e sentimentos
História contada e sem ferida
Vontade de ser igual na construção
Respeito e aconchego de gente madura
Papel assinado e afirmação
Início de novos ciclos de heranças
Já o amor pode não estar presente
O amor é um suspiro do vento
Qualquer recordação que se apaga
Tumulto nocturno do coração
Leve sonho que navega
O amor é mais do que a relação
É a utopia da alma gémea
O ruído que encosta testo e panela
Sal e mar subindo na pele nua

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:43

Contemplação

por José, em 12.02.25

Nunca sonhei com o foco de luzes
Com a ribalta dourada e o palco aberto
O meu sonho de felicidade era ter a biblioteca quase só para mim
Como também admirar o céu e o espírito
Dedicar-me às actividades agrícolas sem largar o mundo
Colher agriões na água corrente
Apanhar figos às gamelas para partilhar
Definir o instante e o lugar de contemplação
Tinha o meu universo de discos, sonoridades e prazeres
Assim como livros comprados na teimosa
Lia jornais putrefactos pelo tempo
Com o ranço do que embrulharam
Mas com peças de leitura que me prendiam a atenção
Sonhava voar e criar novas histórias
Escutava a água da fonte falar
Admirava o brilho prateado do líquido a sair da torneira

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:05

Álbum fotográfico

por José, em 11.02.25

A memória é curta quando são muitas as opções
A variedade e a rapidez avassalam os acontecimentos
Não são vividos como épocas
Feitos quase heróicos para mais tarde recordar
Outrora não era apenas o baptizado e o casamento que ficava como recordação
Alguns episódios ficavam a marcar as fases da vida
À medida que se crescia e se tinha dinheiro para roupa nova íamos ao fotógrafo
O álbum fotográfico era o nosso livro de história
Era mostrado com orgulho a quem nos visitava
As fotografias mais proeminentes eram exibidas na sala
A sala de estar era um verdadeiro museu da família
Por vezes os ancestrais eram colocados em ponto grande
Trazidos para o interior da casa como divindades protectoras
Hoje tiramos dezenas de fotografias para exposição virtual
Poucas são as imagens que ganham o lugar de crónica
São meros instantâneos para aparecer
Não possuem a glória e a aura da pertença
A honra de se situar na consumação dos laços

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:08

São Valentim

por José, em 10.02.25

São Valentim tão milagroso
És o santo das paixões
Em Fevereiro és famoso
És perito a acelerar corações

São Valentim das escolhas
De lugares e prendas para agradar
Vê bem como me olhas
No amor não te cabe falhar

São Valentim do comércio
E da possibilidade de erudição
Eu quero ser é teu sócio
E gravar contigo uma canção

São Valentim das alegrias
De quem acredita no amor
Vences todas as utopias
Não sei se és santo ou um estupor

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:11

Solidão

por José, em 10.02.25

Solidão é quando não se tem caminho
Mesmo que a estrada seja larga e esteja totalmente ao nosso dispor
Solidão é quando não se admira mais o céu e a natureza
Mesmo que tudo seja dado livremente à nossa contemplação
Solidão é quando o encanto sai do nosso coração
Mesmo que nele o amor resida como utopia
Solidão é quando deixamos de dar conta das expectativas
Mesmo que o sonho enalteça a nossa imaginação
Solidão é quando perdemos a memória dos relatos e das pessoas
Mesmo que o corpo mantenha a sua figura na representação dos outros
Solidão é quando a cidade nos habita na indiferença
Mesmo que a nossa figura ocupe os alpendres e a miséria

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:33

Fim dos tempos

por José, em 09.02.25

As pessoas posicionam-se para defender a sua bandeira
Mas o problema é que já não defendem meras propostas
Não se dão conta da insanidade da consciência
Estão capazes de matarem e matam
Mostram-se capaz de seguir para o abismo e vão
O problema não são as promessas
Na maioria dos casos não existem sequer novas ideias
Apenas o fatigante gosto em repetir a história e levar a civilização para a agonia
Já não se trata de discutir os impactos do capitalismo
A anarquia tem um pacto de poder radical
No meio de tudo isto quem sofre são as famílias
Os mais vulneráveis pagam a crise e são alvo de ataque
A crise climática transformou-se em jogo escolar
Quem domina o brinquedo decide se os outros jogam ou não
É o fim dos tempos na heráldica dos pacificadores
Até o amor se disputa no alinhamento dos amantes

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:52

Democracia sempre

por José, em 08.02.25

Na nova política o anónimo se acha gente
Convertido no escrutínio da difamação
Recrutado por líderes de alta patente
Andou escondido longe da multidão

Nos extremos nunca mais se cala
E acha que é dono de toda a razão
Chega a ocupar sozinho uma sala
Acena com o levantamento da mão

Recupera gestos insalubres
Que pensa que o dignificam
Porém confunde os costumes
Tantos excessos não se justificam

É certo que a democracia não é perfeita
Dando azo à prevaricação
Mas quem acha que encontra a cama feita
Nada sabe sobre a sua própria condição

Coitada da defesa da liberdade
Acobertada por palavras de ordem
Escondida nas prioridades de verdade
Afastada daqueles que discordem

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:17

Retrovisor

por José, em 08.02.25

Na espúria graça tão eloquente
Que disserta sobre os chamados
A ovação em que se pensa ser gente
Roça nos lábios e ouvidos inchados

Na deturpação da luz e da calma
A intempérie vista por uma fresta
O prazer que aviva a alma
As lembranças guardadas numa cesta

Tem ainda a infame loucura
O olhar apontado pelas laterais
A ideia valente de formosura
O aconchegante destino dos imortais

Nas histórias que depois se contam
Na reprodução de outras tratativas
Guardam-se puzzles que depois se montam
Mesmo que se falhem mostras optativas

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:53

A genética em nós

por José, em 08.02.25

Nasci e cresci homologado na figura do meu avô paterno
Não o conheci, mas tiravam-me o retrato a partir das suas feições
Ilustravam a minha fisionomia na dele
Chegaram a comparar gestos específicos
Formas de me movimentar e ser
De facto as fotografias são bastante reveladoras
Ainda assim, fora do aparato físico puxei à minha mãe
Não sei mesmo se o meu cabelo é herança de um lado ou de outro
Mas o gosto pelo silêncio e autonomia é totalmente materno
A vontade de conhecer, lutar e ensinar também
Esse lado em que a paz está no lar
E toda a entrega está em tudo o que tocamos
Esses genes são igualmente da minha mãe
Quando parece que dá o braço a torcer à vida tem a capacidade de se reinventar
Não sei se herdei tudo isso, mas é genética e inspiração
Não posso dizer que são práticas familiares reproduzidas
Cresci mais no adeus e até breve que na sua presença

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:57

Caminho errante

por José, em 07.02.25

O teu abraço fiel
O teu beijo retumbante
Arrepiam-me a pele
São o que procuro constante

O teu aroma intenso
O teu gemido profundo
Mostram o prazer imenso
E o que falta levar a fundo

São desejo e paz
Amor e todo sentimento
Mostram o que sou capaz
Revelam o melhor pensamento

Se os olhares se cruzam é feitiço
Se as escolhas se completam é encanto
Não tem amante nesse mundo postiço
Que não se faça passar por santo

O que é belo é sublime
O que é verdade é confiante
Se tem fé que oprime
A alma está a seguir um caminho errante

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:09



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