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Divino amor tão imaginado
Que trazes a alegria
E te chamas de felicidade
Quando te chamam loucura
Olhas por piedade e clemência
Não te dás com a indiferença
És motivo de delírio
Satisfazes mais com a experiência
Por tua causa tentam separam-nos
Nas formas e ideias que fazem de ti
Divino amor tantas vezes despedaçado
Feito de intenção e materialidade
Descrito no carinho de uma mulher
Procuras a sorte por ti
Só que te deixas seduzir pelo interesse
E facilmente te enganam no desejo
Divino amor tão puro
Só é pena já não teres querer
Por ti tem muitas promessas e Juras
És entre os sentimentos o mais adorado
José Gomes Ferreira
Viver sem sufocar
Amar sem sacrifício
Lutar por paixão
Escolher por gosto
Andar por satisfação
Dizer não por opção
Acreditar por conhecer
Vencer sem julgar
Interagir por liberdade
Ajudar por empatia
Aplaudir sem fingir
Somar sem equacionar
José Gomes Ferreira
Ainda me contam sobre a sardinha assada
De como a miséria se repartia e todos comiam
Reforçam a narrativa da sardinha dividida por três
Por vezes chego a duvidar
Não que duvide dos meus antepassados
A maioria não tinha como comprar alimentos
Vivia apenas do que a terra dava
O pão era feito com milho e mistura de centeio
A carne resultava da matança e salga do porco
Parte do qual ia também para enchidos e vinha d'alhos
Poderia haver disponibilidade de carne de coelho
Raramente se matavam galinhas, só por motivo de desta ou para uma canja em caso de doença
A maioria das famílias tinha dificuldade em comprar arroz ou massa
Comia o que a terra dava, sobretudo batata, feijão e hortaliças
Quantas vezes as favas "não apertavam" de excesso
Nem sempre havia dinheiro para sardinha
Ainda assim, ela chegava fresca no comboio "Rápido" vinda da Figueira da Foz
Sardinha na brasa era ostentação, levava o cheiro povo acima
José Gomes Ferreira
Com as acácias amarelas
O Inverno está no fim
As encostas ficam tão belas
Junta-se a flor do jasmim
Com a Serra ali tão perto
O amor está presente
O Mondego corre certo
Tanta a beleza que se sente
Com tanto aroma e cor
Tudo encanta a memória
Mesmo distante sinto o frescor
Deixo um poema como dedicatória
A Primavera vem a caminho
Torna a saudade mais leve
E lá para os lados do Maninho
Espreita-se ao longe um resto de neve
José Gomes Ferreira.
Gosto de coisas mundanas
Como gosto dos beijos de uma mulher
A realidade anda virada de pantanas
E eu com essa vaga por preencher
Gosto do silêncio da noite
Se a paz chegar sem reclamar
O importante é que se aproveite
E se sinta o aroma fresco do mar
Temos tanto na vida à escolha
Mas nada é dado de mão beijada
A vida pode se expressar numa folha
Desde que seja bem planeada
A ansiedade toma conta do gosto
E leva-nos na corrida
Precisamos proteger o posto
E não inventar que é uma querida
José Gomes Ferreira
O bem comum anda ignorado
Mesmo na fé que tanto chega
O planeta está completamente lascado
A fraternidade já não se apega
O bem comum já não é um valor
Um objectivo que junta a Humanidade
O povo queixa-se de tanto calor
Mas na acção foge à verdade
O bem comum anda em delírio
Com promessas e propaganda
Ninguém merece este martírio
Com a elite a assistir da varanda
É a hora de correr com as alcateias
De lobos cujo lucro os atiça
Precisamos de novas ideias
E de valorizar o sentido de justiça
José Gomes Ferreira
Se não bato certo e fico seguro
Não podem de mim dizer maravilhas
Tem tantas voltas as ruas de gente
Que duvidamos de qualquer certeza
Dizem que a vida não é fácil
Sem que comprovem as dificuldades
Se não desisto é por padrão
Não sei seguir de outra forma
Deixo a melancolia comprovar
E desafiar os seus próprios valores
Mesmo que os dias tragam desafios
O que conta não é apenas a chegada
Conto também com a firmeza na partida
Se respiro apanhei-lhe o gosto
Integro a frota de quem se apronta
Expondo o rosto a toda a pontualidade
Levo o sonho a qualquer lugar
Temer fracassar assina o próprio fracasso
A única modalidade é da selecção
José Gomes Ferreira
A paz caminha para o convencimento
No mistério de toda a hora
Com tanta cruz que carregamos
Falta-nos a certeza serena dos dias
Não se trata apenas de razão
Vence o amor que é cá de casa
E é melodia para toda a gente
Escutado sob a forma de canção
Entre uma coisa e outra a fé
A confiança no que tem para mudar
O tempo que sempre cura
E devolve os motivos para sorrir
Não devemos ignorar as ameaças
O que tramam para a Humanidade
Esquecer é apertar a mão ao Diabo
Aceitar é levar o destino ao fim
José Gomes Ferreira
A saudade que dói mais não é pelo já vivido
Mesmo que lembre a falta que os nossos entes nos fazem
E seja muito do que a gente quer
A saudade que dói mais é a da despedida
Do prolongado instante que não sabemos se se repete
Quando não é suficiente um simples "Fica com Deus"
Para que o que nos separa tenha reencontro
Sabemos que o amor está certo
E na presença acabamos por nos acostumar
Não adianta nem chorar, esse nunca será o desejo
A saudade existe em nós também como fé
O desespero da hora de sobreviver
Em que tudo se repete nas nossas forças
Na crença que nos leva a reunir e nos inspira
José Gomes Ferreira
É assim que tem que ser
O partilhado presta-se a várias interpretações
Ninguém se deve ofender
Cada um tira diferentes conclusões
Tem sempre duas versões da história
Do contacto humano nas vivências
Sai das narrativas na memória
Não foge às respectivas conveniências
O azul perene não é cor de rosa
Não se deve esquecer a construção dos papéis
Tem belas palavras a sair dessa prosa
Mesmo que dos dedos não sobrem os anéis
Tem quem fuja do representado
E quem ache ter sempre razão
Oposição encontramos em todo lado
A achar que não deve dar satisfação
José Gomes Ferreira
Antes hoje que amanhã
Pois o tempo passa
E não se adia o que dizer
Para que depois não seja tarde
Que importa o estalar do verniz
E o cântaro esquecido na fonte
Não se adia o que se sente
Não se guarda para outro momento
Não se adiam as promessas
Nem se esquecem os abraços
Não tem estrela que sempre brilhe
Nem memória que sempre lembre
Vem o vento e leva tudo
Surge a tentação e cai no esquecimento
Tudo tem o tempo certo
Para que o caminho encontre retorno
José Gomes Ferreira
Portugal está entregue aos bichos
Mas nenhum tem quatro patas
São políticos cheios de vícios
Que agem piores que baratas
Portugal de Norte a Sul e ilhas
E de qualquer cor partidária
Parece o País das Maravilhas
Nos horrores de gente ordinária
Portugal está a ser dividido
Entre a política e os negócios
Deputado pode ser bandido
E juntar os familiares como sócios
Portugal tem ares de paraíso
De tudo que empobrece o povo
Que antes do fim do mês fica liso
E se satisfaz por não ver nada de novo
José Gomes Ferreira
Influenciador é um gajo que nunca fez nada, convence as massas que é perito em questões sobre as quais nada sabe e assim enriquece
Político é um cidadão bem relacionado, não sabe nada sobre nada, mas promete, expandido os negócios após ser eleito
Idoso é alguém que sabe pela experiência, tem boas ideias, mas já não tem idade para ser escutado
Professor é um profissional do qual se espera elevação moral, tem muitas ideias, mas que pouco importam
Pendura é um gajo que se governa sem nunca ter feito nada, não quer saber de conselhos, espera apenas por auxílio
Zé-ninguém é o gajo que mais trabalha, leva uma vida de sacrifício, mas daí não retira proveito
Fanático é todo aquele que acha que a sua visão de mundo é que vale e paga para ser influenciado
Ratazana é o animal que espreita o fracasso dos outros para recolher os despojos
Maçarico é o profissional que garante o trabalho aos mestres, mas que não risca nada
José Gomes Ferreira
Os meus sonhos são fruto da imaginação e da firmeza
Não construo castelos na areia ou nas nuvens
Não subo à montanha para gritar vitória
A contemplação traz-me a luz dos dias
Tudo mais são certificados para o currículo
Não desespero por ausências
Ainda que a saudade limite as forças
E a aridez da vida solitária possa questionar o silêncio dos dias
A amizade lembra-me o rumo e a coragem
As ausências são limitações da idade
E opções para reposicionar os candeeiros
A vagaresa transparente para enfrentar os desafios
O amor é a esperança para além do vivido
Ainda assim é uma página em branco
Nada é tão certo quanto a própria luta
José Gomes Ferreira
Anda o povo ralado
Na sorte do ganha pão
Cada centimo é justificado
Qualquer desvio gera confusão
Para o povo despesa é sempre a mais
No pouco que lhe sobra
Viajar de férias jamais
A sua vida é meter mãos à obra
E se pára para beber uma cerveja
É de imediato retratado
Pobre também tem inveja
Vive à base do que for decretado
Anda o povo entretido
Com o burburinho da comunicação
Tem quem se ache convertido
Tem dúvida sobre se é uma boa acção
José Gomes Ferreira
Foi tudo tão imaginado
Que não vivemos a possibilidade
Tem muito amor sem pecado
E muito que não chega a realidade
Porque o amor não é apenas sentimento
Tentamos ver se dava certo
Uma noite só não é alimento
Sobretudo quando não estamos perto
Tem amor que fica à condição
Que espera encontrar compatibilidade
Opta à pressa pela rejeição
Para dizer que não tem disponibilidade
Tem amor puro que é engano
Corrida que termina à partida
Sonho que não tem qualquer plano
Impasse no que queremos para a vida
José Gomes Ferreira
O melhor lugar para estar é no coração de alguém
Melhor ainda se for um coração que vive o encanto da reciprocidade
Não grita, não inveja ou esperneia por vocação
Mas deixa a felicidade entrar no agrado
Na forma especial em ser o outro
Sem qualquer cedência ou hesitação
Coração que não ama desfaz-se do dia de amanhã
Não conta connosco para acordar e construir
Usa o ego como ameaça de ruptura
O desligamento que a insegurança torna inevitável
É bom adormecer num coração em paz
No embalo do corpo ligado ao sentimento
A tudo mais chamamos frustração
Assim como receio em situar a vida solitária
Em chamar amor ao gosto próprio de ser
José Gomes Ferreira
Não é sempre, mas mostra repetições sucessivas
Respeito e tolerância são interpretados como cedências
Como se desejar "bom dia" atrofie os músculos
E aceitar a religião de alguém roube a comida do prato
Saber ouvir, aceitar sem questionar são actos humanos simples
Premissas no entendimento universal
Se existem bloqueios devem-se à confusão de valores
Nenhum valor legitimado socialmente busca a guerra
Nem a supremacia por práticas e credos
Esses não são valores humanos
Constituem uma cartilha para colocar em confronto guerrilheiros
Os valores humanos também não se reduzem à religião
A religião pode conferir orientação, desde que não exagere nas condições
Não é legítimo dizer que somos todos iguais perante Deus
Pois nunca saberemos que entidade está a ser defendida
Cada um tem o seu Deus e a sua fé
Não se pode estabelecer um confronto perante outras honras e tradições
Sem esquecer que os descrentes têm igualmente os seus valores
Ninguém é superior pela crença ou pelo dinheiro
José Gomes Ferreira
A memória não contém o que ainda não vivi
E nem tudo se desfaz em saudade dos instantes
Memória é aquilo que somos, a nossa história
O que atravessamos nos acontecimentos
Saudade é a falta que nos faz quem partiu
A lembrança de laços e momentos especiais
A memória guardo-a sobretudo no pensamento
A saudade é trazida no coração
O que não vivi é anseio, determinação, destino e construção
A memória é o mapa das coisas por dias passados
A saudade é o que nos liga para além das coisas
José Gomes Ferreira
A natureza resplandece de verdura
O sertão parece um lugar de sorte
Com rios e córregos a transbordar
E a alma cheia de gente feliz
Nas cidades sobram canteiros de flores
No campo junta-se a água em improviso
Pequenas lagoas chamam o gado para beber
Um pescador solitário lança a sua rede
Duas crianças correm felizes à beira da estrada
Subitamente parece não haver mais maldade no mundo
É tudo tão fresco e cheio de beleza
Parece um quadro pintado com sonhos
E eu posso ver essa linda exposição
Os raios de Sol espreitam entre as nuvens
Funcionam como projector sobre a montanha
Que aparece para o mundo e para a vida
Fica tudo tão belo quando a chuva acompanha as orações
José Gomes Ferreira
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