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A minha avó

por José, em 31.01.25

Ensinou-me ao ouvido o carinho
E o viver dos seres na compaixão
Na beleza de quando é Outono
Repetiu o destino de quem luta
E do prazer da vida mesmo com sacrifício
Nunca disse não às dificuldades
Mesmo que na pele fosse dever
Não correu mundo no saber
Não era por isso que não era feliz
Possuía a sabedoria baseada na natureza
Partiu no dia do meu aniversário em 2001
Escolheu a minha celebração para partir
Mostrou que tudo na vida se partilha
Mesmo que seja a vertigem do mato para roçar
A água deitada a cabaço ainda sem o Sol se ver
Assim como as celebrações do Natal e da Páscoa
Foi avó, mãe e bisavó em consciência
Espantava os incrédulos com a determinação
Fazia valer aos homens, como conta o povo
Matava o porco, fazia a poda, subia às oliveiras
Nunca deixou de avançar para ser melhor
Frequentou a escola apenas um dia
Com dificuldade assinava o nome
Mas nunca se deixou vencer pelo analfabetismo e na sombra

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:25

Vidraça

por José, em 31.01.25

O teu sorriso escondido
Desperta quando a luz toca
O rosto caminha para envelhecido
Cala-se sempre à entrada da boca

Os teus olhos verdes
De uma clara paixão
Não seguem nenhuns acordes
São tocados pelo coração

O teu peito tranquilo
Macio como veludo
Aguenta mais de um quilo
E ainda precisa de estudo

A tua dedicação exclusiva
Pura como palavra de gente
É no acto inofensiva
Não imita qualquer serpente

José Gomes Ferreira

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publicado às 15:18

Nada de equívocos

por José, em 31.01.25

O meu post Se não for nacional não quero estará a ter algum tipo de destaque, o que motiva que seja visto por centenas de visitantes. A minha afirmação-título refere-se a um contexto específico e não a uma missão contra o que vem de fora. O mesmo não quer dizer que "Fabricado em Portugal" não seja o principal critério na escolha, sem esquecer o preço.

O post em concreto refere-se a produtos que deveriam ser fabricados em Portugal e vendidos como artesanato português. Ou pelo menos recordações à venda para turistas, que se identificam como genuinamente portuguesas, mas é tudo da China outros países. Isso é que acho gravíssimo. Não se trata de alinhar com qualquer desejo patriótico. Muitos produtos são necessariamente importados, aí prevalecem os critérios preço, qualidade, proveniência, marca e outros.

Este fenómeno não acontece apenas em Portugal, mas o país tem condições para o enfrentar e é o que deve fazer. Lembro a segunda vez que visitei Lima, Peru, quis comprar alguma coisa de lembrança e era tudo falsificado. Na cidade de Natal, onde moro parcialmente, várias vezes passei pelo mesmo. A maioria das lojas tem umas imagens de mulheres, com aspecto de baianas e não potiguares, que nem são sequer produzidas no Brasil. Pelo Natal comprei uma ou outra coisa, mas diretamente à artesã. Esses produtos da globalização são gato por lebre e no final é apenas lixo que acumula. 

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publicado às 14:46

Fantasia

por José, em 31.01.25

Porque desperdiças a alma
Se tens o coração de ouro
A tua imagem é plenitude
Paz singela do pensamento

Sigo a tua formosura
E admiro-te no respirar
Escuto-te no silêncio precoce
Em tudo o que o amor alcança

Levo-te aos ombros na ideia
Carrego a paixão que me causa
Caiada, inocente e pura
Alimenta o desejo no meu peito

Aperto forte a noite e a luz
No abraço que tarda
O teu calor é semente
Ferve nas decisões que nos aproximam

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:14

Destino fatal

por José, em 30.01.25

Lembro a juventude em descoberta
Todas as promessas de liberdade
Se o coração bate forte é para sacudir o destino
Posiciono-me para continuar a acreditar
No interim escuto a terra crua a gritar
Arrastada pelos números
Como os torrões ainda quentes
Cadáveres que tombam e apodrecem
Famílias sepultadas no anonimato
São pobres entregues ao fatalismo
Não falam nenhuma língua com a qual tenham voz
São imigrantes, bastardos, descrentes e perplexos
Assistem ao arder do planeta
Ao consumir da possibilidade de uma vida plena
São colocados no chão para rezar
Sobem ao altar por obediência
Serão sempre esquecidos desde o ventre
No arremesso de histórias são apenas o alvo
Voluntários forçados em ponto de mira
Na desgraça é preciso o dedo a alguém
Desses tem quem ria e se babe de tanta tragédia
Lucram com o sangue colado ao solo

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:39

Percepções

por José, em 30.01.25

Percepções não é necessariamente o que penso
É o ajeitar de uma ideia para me posicionar na narrativa
Assim expresso um retrato do mundo
E aponto onde encaixo as minhas convicções
A grande questão em tudo isto é a influência da mediação
Qualquer percepção é mediada por actores, ferramentas tecnológicas ou mensagens
A nossa percepção pode resultar da leitura de um livro
Resulta de uma qualquer conversa na vida
E é fortemente mediada pela comunicação social
A comunicação política faz o resto da propaganda
Afirmarem que a criminalidade aumentou com base em percepções vem daí
A racionalidade dos dados diz uma coisa
A vontade de quererem destratar as instituições é outra
De que adianta os políticos fazerem da sua bandeira os policias se denigrem a sua base estatística?
A criminalidade é real e absurda
Mas será que aumentou realmente ou por abrir os telejornais e ser arma de arremesso ideológico?
Os que defendem a acção da autoridade em bairros vulneráveis são os mesmos que atacam os seus números

José Gomes Ferreira

* Obviamente, sei que existe muita manipulação política e afins que deturpa essas percepções e outros juízos. Vai para uns 26 anos comecei a trabalhar em projectos de investigação universitária, finalizado um relatório fomos surpreendidos com a intervenção de um órgão público num dos parágrafos da conclusão. Enfim, nada de novo.

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publicado às 20:33

Crise de longa idade?

por José, em 30.01.25

Até hoje nunca tive nenhuma crise a somar a idade, em particular no início de nova década. Sempre levei tudo tranquilamente, tenho vivido de forma simples, em luta e orgulho pelas conquistas, pelo que as crises de idade acabam por não acontecer. Um dos meus amigos próximos é totalmente o contrário, já partilhei com ele alguns momentos que depois dão para rir, mas que "moam o juízo" quando ocorrem.

Oficialmente, vou ser idoso no Brasil. Em Portugal esse estatuto só acontece aos 65 anos. Existe essa recomendação da Organização Mundial de Saúde para países desenvolvidos e países em desenvolvimento. No caso brasileiro será por poucos anos, pois tramita na Câmara de Deputados uma proposta para elevar para 65 anos a atribuição desse título. No país existe mesmo A Carteira do Idoso, que garante alguns benefícios aos detentores. Vale dizer que não é qualquer idoso que pode tirar a carteira. A principal limitação é que deve ter um rendimento inferior a dois salários mínimos. Tem redução de impostos municipais, desconto em eventos culturais, transporte e outros benefícios. Não foi explorar, mas pela exigência burocrática os estrangeiros acabam por estar excluídos. Na prática não é diferente do que acontece em Portugal, mas aqui com foco maior nos mais pobres.
Não terei acesso a esses benefícios, mas tem benefícios básicos com carácter universal. Em Setembro, no aeroporto de Campina Grande o funcionário insistiu que fosse pela fila preferencial. Ainda que, felizmente, esteja com óptimo aspecto para a idade não reclamei. Será sobretudo em algumas filas, de repartições, mas também de supermercado e outras, que existe vantagem. Incluindo lugares para idosos no estacionamento. Eu não conduzo, apesar de ter carta, mas pode ajudar quem vai a conduzir.

Passar dos 60 para os 65 a categoria de idoso no país é prematuro. É certo que a esperança de vida aumentou, mas a maioria das pessoas de classes populares, em particular no Nordeste, estão "acabadas", apresentam um grande desgaste em termos físicos. Alguns pelo excesso de exposição ao Sol, outros pelo sedentarismo e falta de Sol, outros pela falta de diversidade da alimentação. Quando digo que estou na casa dos 60 e me respondem que ainda só completaram 48 anos não me surpreendo. O país tem uma enorme falta de políticas nesta área, em particular de acolhimento de idosos. Em Portugal a rede de IPSS com Centros de Dia e larga fazem um trabalho notável.

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publicado às 15:33

Se não for nacional não quero

por José, em 30.01.25

Alguns portugueses, motivos por arruaças ideológicas, dizem mundos e fundos sobre os imigrantes, provavelmente muitos deles cresceram com emigrantes na família que passaram pelo mesmo, mas a memória é curta. Deixando esse tema de lado, não deixo de me preocupar com uma situação cada vez mais recorrente e, assim sim, afecta a identidade nacional, a imagem e a economia.


A maioria das lojas na área turística de Lisboa vendem gato por lebre. O que parece ser artesanato são um conjunto de bugigangas produzidas na China e outros países. Numa das lojas encontrei apenas alguns Galos de Barcelos em metal, com um pretenso selo de “Produzido em Portugal” e umas sardinhas porta-chaves com a inscrição adicional “Feitas à mão”, assim como uma ou outra peça de cortiça. Outrora a maioria dos galos e as imensas sardinhas eram de barro/cerâmica, o que parece estar a desaparecer para dar lugar a coisas que não nos dizem nada. Obviamente, não visitei todas as lojas, visitei 3 ou 4, bem como dei uma olhada na loja do aeroporto.

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Mais importante que correr com os imigrantes, que precisa de coerência, racionalidades e humanidades, gostaria de ver as entidades competentes a boicotarem determinados produtos que imitam o que é nosso. Ser um indiano, um brasileiro ou um português a realizar o atendimento pouco se me dá, mas se são lembranças com os símbolos de Portugal ou de Lisboa essa produção deve ser, obrigatoriamente, nacional. Tudo mais é treta ideológica que as televisões adoram por adorarem o conflito. Assim como os políticos que querem aparecer, mesmo sem nada de novo a apresentarem.

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publicado às 12:25

Rimas

por José, em 30.01.25

O que rima com consciência é atitude
O que rima com respeito é carácter
Humanidade rima com bondade
Fraternidade rima com altruísmo
Amor rima com construção
Amizade rima com reciprocidade
O que rima com entendimento é diálogo
Paz rima com pluralidade
Delicadeza rima com estima
Sucesso rima com dedicação
Futuro rima com hoje
Luz rima com o lugar do outro
Liberdade rima com escolhas
Sonho rima com felicidade
Riqueza rima com valores humanos
Lembrança rima com vivência
Afecto rima com presença
Sorriso rima empatia

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:43

Equilíbrio

por José, em 29.01.25

Não existem receitas únicas para o equilíbrio
O ponto de exactidão da saúde mental
Mas existem boas práticas que nos fazem bem
A primeira prioridade é de se viver bem connosco
E assim ficar na relação com outros
A segunda regra é fazer o diagnóstico das advertências
Algo que não nos faz bem deve ser enfrentado
A única excepção são as más energias
Os amigos nem sempre nos fazem bem
Mas devem merecer a nossa atenção
Dos restantes precisamos observar se esventram precocemente a nossa paz
Tudo o que nos leva a perder a leveza deve ser ponderado
Outra regra é procurar o equilíbrio em nós
Na fruição cativante dos dias e da natureza
O que nos faz bem queremos sempre repetir
As zangas esqueléticas por divergência da diversidade são para esquecer
Nada melhor que a luz e o silêncio da imaginação para se ser livre

José Gomes Ferreira

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publicado às 15:05

Palavrobiografia

por José, em 28.01.25

A minha voz está rouca
O meu coração não sabe amar
Viver em paz não é coisa pouca
O problema é o ego se equilibrar

Não sou diferente de ninguém
Na fisionomia e nos padrões
Posso não ter um vintém
Mas sei escrever letras de canções

A magia não está apenas no sentimento
Por vezes escolhe as melhores palavras
Gosta sempre de aquecimento
Na linguagem não usa travas

O meu medo é da inveja
De quem corre para ultrapassar
Por azar gosto de vinho e cerveja
Gente interesseira é sinónimo de azar

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:52

Discordem

por José, em 28.01.25

Não sei tudo sobre a vida
Nem sobre os mistérios da imaginação
Por isso não se acanhem
Vociferem na esperança
Mostrem atitude e presença
Gosto que discordem de mim
Desde que o façam na disputa saudável do argumento
Desconfio se concordam por concordar
Significa que desistiram de pensar e obedecem por compromisso
Pelo que dificilmente nos vamos entender
Nada ensino a quem se limita a ser passivo
Também nada aprendo nessa graça
Não existe interacção sem ideias
As formas robotizadas são repetitivas
Regem-se pelo cumprir tarefas
Não estimulam as escolhas nem a penitência

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:12

Podridão

por José, em 28.01.25

A polarização deixa-nos abestalhados, mas convencidos da superioridade moral e comportamental. Em boa verdade, parte dessa postura é uma herança judaico-cristão, ao considerarem os seus fiéis que o seu Deus é único e superior a qualquer um. Temos esse problema encravado na civilização, mas faz parte dos tabus. Tudo que é religião é tido como certeza, algo que é assim e pronto, não se mexe. O problema é quando a política, a economia e a guerra acrescem tensão. Para começar toda a religião é política, em muitos casos é economia e sempre esteve associada à guerra e colonização. No caso da economia falava nos últimos dias com amigos sobre o tema. Os padres de outrora, sem salário, tinham as suas estratégias para angariar dinheiro. Lá na terra o padre, dizem que não precisava e prescindia do dinheiro das missas, mas pela Páscoa, denunciava nas missas as famílias que não colocava umas notas no envelope deixado na visita pascal. Quanto à política conhecemos a sua extensão, a ligação aos cruzados, a relação com a nobreza e com o rei, e mais tarde do cardeal Cerejeira com o presidente do conselho.
A globalização tem vindo a acelerar esses fenómenos e a fazer surgir outros. A Igreja enquanto fronteira política rejeita mudanças frontais, assim é desde a chamada Reforma, que abriu diversos caminhos em termos de práxis e influência. Na segunda metade do século XX a Teologia da libertação foi rejeitada, só faltou a Inquisição para repetir a história, mas andou lá perto. O perfil dos Papas tem mostrado também essa polarização. Francisco era um eventual Papa da esquerda, se é que essa classificação faz sentido. De qualquer modo, esquerda ou direita são ambos conservadores e progressistas quando convém. Ainda não vi a abertura do sacerdócio às mulheres e outros avanços. Do ponto de vista político, o governo de Montenegro vinha conotado com a direita e parece ter uma agenda social que, tradicionalmente, é associada à direita. A flexibilização de certas negociações será uma factura a pagar um dia. A esquerda sempre foi péssima em contas e transparência, a direita diz ser boa em contas, mas adora favorecimentos, todos adoram, a questão não é partidária.
Trouxe a religião e a política nacional, mas a situação internacional é grave. Não pela eleição de Trump e pelas primeiras medidas, é pelo carácter imperialista do seu posicionamento e pelo arrastar de falsos devotos que, manchados de ódio, vão na correnteza. O mais incrível no fenómeno Trump é ter subvertido a justiça e ética do seu país. A Democracia na América (vale a pena ler/reler Da Democracia na América, de Alexis de Tocqueville) é uma falácia, é o poder entregue aos mandões do mundo, que estão dispostos a tudo, adoram ver o sangue jorrar dos interstícios dos mais vulneráveis. Se os simpatizantes da direita aprovam isto para saciarem o seu ódio eu nunca serei de direita. Se os simpatizantes da esquerda da esquerda não mudam o disco também nunca serei de esquerda. Os valores de que tanto falam e que, mais uma vez, dizem ser da Igreja, não são valores que dignifiquem a Humanidade.
Em Portugal especificamente, ver, ler ou ouvir argumentos contra os imigrantes tornou-se banal. Mas será que a maioria conhece as realidades das quais fazem chacota? Claro que temos problemas com imigrantes. Eu se quero estar a trabalhar fora de Portugal necessito ter a minha situação regularizada. Mas não podemos tomar a parte pelo todo. Quando as pessoas largam o seu país à procura de uma vida melhor não têm intenção (alguns será possível) de serem criminosas. Por outro lado, o próprio país tem um histórico de emigração. Paris já foi a cidade com mais portugueses, assim como a Venezuela e a África do Sul. Se deportarem os portugueses de onde estão o país não aguenta. Na verdade, a questão nem é essa. Temos um problema em reter mão-de-obra qualificada e desqualificada. Em qualquer lugar de Portugal os empregos mais desqualificados são exercidos por nepaleses, indianos, brasileiros e outras nacionalidades. Tem quem adore criticar essa presença, mas com a vocação turística, marcada por salários baixos, o mesmo acontece na agricultura e na pesca, o país sem esses trabalhadores fica à deriva.
Persiste essa polarização partidária como dogma de salvação e regresso ao passado. Quem pensa que a solução mágica está num regime como o Estado Novo não viveu nos últimos anos, andou a vegetar para agora ter voz. A democracia não é um erro, precisa de seguir novos caminhos, mais próximos dos cidadãos e menos agarrado a interessas particulares. Nada disto é fácil de resolver. Somam-se as famílias influentes, duplicam os políticos sem vocação e boa intenção. Não vemos a luz ao fundo do túnel no amparo das instituições. O próprio caminho da fé é usado como apelo, mas já não cumpre nos requisitos morais e conforto do coração. Resultado: como diz o povo estamos entregues à bicharada! A radicalização que vem de fora não é para nós solução. Não fazemos parte desse império, mas precisamos olhar para dentro sem o palrear de comentadores televisivos sem interesse. O ex-presidente da República, Ramalho Eanes, que completou recentemente 90 anos, sempre insistiu que o 25 de Abril trouxe Liberdade, mas não se cumpriu a cidadania. Sem uma cidadania forte e actuante vamos andar nisto. Se a única cidadania forte é de alguns patrões e sindicatos dificilmente vamos discutir seriamente o futuro do país, pois tudo andará à volta da cor política e de percentagens de salários e vantagens no IRC. 

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publicado às 17:02

À espera da idade

por José, em 28.01.25

Mesmo sem dogmas e capitalização
Tenho sido abençoado nesta trajectória
Na imensa escolha das virtudes
E no emancipar da antecipação sobre os genes
Muitos laços têm sido de luz e fraternidade
Outros são de sangue e vivências
De reprodução da confiança e reciprocidade
Tem também os que resultam de aparatos da consciência
Ocasionados pela coincidência das circunstâncias
Em tudo isto os dias e os anos somam-se
Assim como a gratidão que acompanha as conquistas
O silêncio pode nos fazer bem na reflexão
Mas não age sozinho a compor a vida
Ganha força através dos afectos e da veneração
Nessa soma acometo-me da imensidão
De quanto também pertenço ao coração dos outros
E como isso me fortalece na serenidade das pertenças

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:17

Da luz que chega

por José, em 27.01.25

Não são apenas as viagens
Nos reencontros percorro gerações
Narro a minha própria história
Escrevo acontecimentos esquecidos

Não são apenas os quilómetros
São os laços e as lembranças
A adição de novos episódios
A energia que renova a luz e a motivação

São também novos movimentos
Percursos que a ansiedade não controla
A vontade soberba de um dia parar
E ter tempo para contemplar a imaginação

É também a luz que chega
Cada abraço é energia pura
Semblantes de felicidade
Lições de recompensa pela espera

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:24

Hora de partir

por José, em 26.01.25

Sei que tenho o coração basto
Apesar da vida não trazer fartura
Tem trazido luta e desafios
Lugares onde posso somar

A rede é transparente
A amizade um auxiliar
Não fosse primeiro a coragem
Talvez não tivesse saído

Não é fácil a partida
E não é apenas o instante
A saudade será sempre o mote
E o motivo para continuar

Na terra deixo um lugar
Muitos motivos de emoção
No país deixo a vontade de regresso
E o registo de ser uma das suas bandeiras

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:04

O que nos fortalece

por José, em 26.01.25

O que nos fortalece é também a idade
E os momentos que passamos juntos
São os laços familiares e amizade
Alguns copos de vinho e presuntos

O que nos fortalece são as vivências
Os lugares que se lembram da gente
As datas a marcar futuras evidências
As notas também da conta corrente

O que nos fortalece é o testemunho
O que supera qualquer vã herança
Não é a mão erguida em punho
É aquilo em que o coração se lança

O que nos fortalece é a paz
O bem estar da consciência
É tudo aquilo de que se é capaz
E o nosso contributo para a ciência

O que nos fortalece é a natureza
O nosso cuidado e protecção
É mais a dúvida que a certeza
É a responsabilidade da nossa acção

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:26

É preciso mudar

por José, em 26.01.25

Zoam à esquerda e à direita
Do que a vida tem de diferente
Desculpam-se e dizem ser brincadeira
Brincadeira é ser mordido por serpente

Exaltam valores e tradições
Sempre amordaçados no tempo
Levam a vida aos trambolhões
Não sabem nem um por cento

São sempre os outros os culpados
Geralmente os mais vulneráveis
Na mente de muitos iluminados
O fim da hierarquia é dos execráveis

Onde andará o sentido de Humanidade
E a cultura da empatia
Anunciam o dom da fraternidade
Mas rejeitam qualquer simpatia

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:13

Aprender a ler

por José, em 25.01.25

Tão jovem e impetuoso na leitura
Apaixonei-me por jornais velhos
Com cheiro a bacalhau e sal
Encardidos do pó e dos anos
Abandonados nas alcofas e adegas
Com as letras raspadas pelo pisar descalço
Escondidos nos buracos de madeira

Li as cartas que traziam saudade
Notícias trocadas entre os meus pais e avós
Cartas de outros familiares que não sabiam ler
Algumas cartas de vizinhos e transeuntes
Mensagens de que tudo estava bem
E o que contava era a saúde
Mesmo que as letras escondessem as dificuldades

Escolhi as palavras ditas das histórias das velhas
Não escreviam, mas tinham em si obras completas
Livros das suas vidas e dos antepassados
Alguns carvoeiros, outros tamanqueiros
Alguns pastores e agricultores
Mulheres marcadas pela viuvez
Mães, avós e bisavós trazidas nas gerações

Soletrei inscrições no granito
Algumas no terreiro da Igreja
Datas da construção e da união do povo
Outras que ecoavam como provocações
Dessas tem uma mensagem junto a uma ribeira
Fronteira a um antigo moinho e caminho de gente
Que incita à fidelidade do matrimónio
Provocando o leitor no desvio das palavras

Li livros futuros por teimosia
Alguns retirei as expressões da natureza
E das mantas abertas na terra cavada
Depois a maioria em verdadeiro papel
No encanto encontrado nas bibliotecas
Mais tarde na posterior satisfação de cada compra
Aprendi a escrever em todas essas leituras

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:48

Imigrante

por José, em 24.01.25

Nas ruas cheias de gente
Não distingo cor ou religião
O que admiro à minha frente
É quem garante o seu ganha pão

São ruas também de amor
E de muita família que luta
Imigrante não recebe louvor
Será sempre alvo de disputa

Ainda assim a cidade fervilha
Com mão-de-obra estrangeira
Nos negócios é uma maravilha
E ainda fortalece a nossa bandeira

Certamente não é tudo perfeito
Tem sempre uma ovelha ranhosa
Não vamos é interpretar a direito
E dar palco a muita crítica duvidosa

José Gomes Ferreira

* Não vejo esquerda ou direita, vejo pessoas. Sou emigrante, filho de emigrantes, sei o quanto custa essa luta.

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publicado às 20:57

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