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Escada fora

por José, em 06.12.24

A vida é uma autêntica escadaria
Subir exige esforço e cautela
Assim como foco e coragem
Mas é a descida que obriga a mais cuidados
Não vá tudo descambar degraus abaixo
E facilmente as mazelas aparecem no corpo e no vácuo
Se tiver corrimão é um amparo
Se tiver piso liso pode ser deslize
Subir é sobretudo superação
A descida forçada carece de capacidade de resiliência
Tudo exige preparo e medida
O calçado não pode ser escorregadio
O piso não se recomenda molhado
Tudo na vida tem um preparo e circunstâncias

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:25

O Natal da minha infância, consoada

por José, em 06.12.24

A festa e a narrativa exuberante só acontecem nas outras famílias
Na aldeia tem quem prefira a fogueira no largo
Tem ainda rituais pagãos a observar
Em casa a memória era de rituais simples
O jantar que juntava as três irmãs era o brinde do bolo
Houvesse dinheiro suficiente para o adquirir
Não faltavam broinhas com passas e pinhões
O fogão a lenha foi um objecto tardio
A chaminé deixa ainda um rasto de fumo
A arca da lenha sempre foi usada para sentar
Cabiam todos na benevolência da noite
No centro da mesa o bacalhau com batatas e couve portuguesa
O azeite cor de ouro a correr nos pratos
No final da tarde tinha ajudado a fazer as filhoses
Gosto de sabor enrugado a curar a garganta
E a acompanhar um eventual licor caseiro
Poderia igualmente ser a típica mistura de aguardente com água a escaldar
O hábito do café chegou com o regresso dos emigrantes
Parecia uma disputa na revelação da história dos Antigos
Mais do que o repasto e a fé, a consoada sempre foi de memórias
Para relembrar os antepassados e acrescentar pontos ao já vivido
A magia do Natal não estava nas prendas ou no exacerbo
Mas no juntar de diferenças e recuperar a ancestralidade
No sorriso térreo da compaixão e dos laços
Éramos felizes para além do instante de celebrar

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:41

Meu amor de tangerina

por José, em 06.12.24

O amor é como as tangerinas
Geralmente doce e colorido
Subtil e cativante
Reservado e suficiente
Abre o apetite e a paixão
Vai da mão ao coração
Liberta aromas e tentações
Reflecte a luz no olhar
É valorizado pelo lado interior
Mas também pode ser azedo
E pode ser apenas de aparências
Quando não se confunde com clementinas
E não achamos que até as laranjas servem
O amor não precisa ser grande
Nem dar nas vistas
Necessita ser certo
E responder às expectativas
O amor surge com o encanto
E alimenta-se do caminhar recíproco

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:40

Algo

por José, em 05.12.24

Algo na minha pele arrepia
Quando o toque é verdadeiro
Talvez tudo seja amor de fantasia
Não vou discutir o paradeiro

Algo no meu coração não responde
Andarei muito distraído
Talvez me procure sem saber onde
Pode também andar perdido

Algo no sonho me representa
No que traz o sabor da conquista
Tenho lembranças de uma velha sebenta
Não tenho vocação para catequista

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:58

O Natal da minha infância, detalhes

por José, em 05.12.24

A névoa repinta a paisagem
E submerge o rio lá ao fundo
O vento sopra da Serra
Com o gosto cortante de lâminas
Os lábios racham de retoque
A pele das mãos solta escamas
O solo cobre o gelo estaladiço
Pisado por quem tem de o enfrentar
O Sol do meio dia é vibrante
O azul do céu mostra o horizonte
Quando a tarde desaparece tudo se altera
É necessário justificar o trabalho feito
Ao mesmo tempo o frio entra pelas frestas
Na lareira algumas cavacas
As panelas a ferver aproveitam o fogo
Os deveres da escola repousam sobre a mesa
Aguardam motivação e energia
O rádio anuncia a previsão meteorológica
E solta as músicas que libertam a juventude
Sobre as mãos um caderno revisto
No pensamento permanecem os sonhos
Se um dia voar quero que tudo seja brisa
E que cada lugar visitado seja conhecimento
Quero também contar as histórias que vivi
E mostrar que a felicidade está onde o coração se aconchega

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:41

Amor à janela

por José, em 05.12.24

Outrora o amor ficava pelo parapeito da janela
Era um acto de prevenção dos avanços
Tem quem diga que era por respeito
Só que nem tudo é o que parece
No primeiro levantamento da reserva dava-se a transgressão
Hoje é tudo mais leviano nas palavras dos saudosistas
Acontece que as cidades, vilas e aldeias mudaram
As pessoas já não se colocam tipicamente à janela
Isolam-se no marasmo de supostas liberdades
O amor levita entre noites felizes e projecto de vida
Não existem mais casamentos arranjados
Nem paixões por longas correspondências
Os pais não mandam mais nas relações dos filhos
A única janela que o amor ocupa é da navegação no computador
O amor desceu da imposição
Mas ainda tem dificuldade em ser realização dos afectos

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:52

A poesia não é neutra

por José, em 04.12.24

A poesia é uma vadia
Salta de boca em boca
Beija e abraça com a mania
É tão descarada e louca

A poesia é a voz do povo
Escolhe a rua e o palanque
Quer no velho ser o novo
Declamada é como tanque

A poesia é desejo e romantismo
Sonho de amor e Carnaval
É claramente anti-fascismo
Mesmo que o adúltero leve a mal

A poesia é elegante
Mas também direta
Tem tromba de elefante
A mensagem é certeira como seta

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:27

Molduras

por José, em 04.12.24

Por trás dos sorrisos muita saudade
Por trás da força muita amizade
Por trás do rosto quente muita superação
Por trás da persistência muita esperança
É assim que sou feito e dou honra aos dias
Sou solitário, mas feito de laços
Repleto de memórias e afecto
Sou timoneiro a partir da ancestralidade
A nostalgia traduz-se em energia
A natureza é o instante de paz e reconhecimento
Não piso pódios ou palcos para aplauso
Busco apenas superar o destino
E deixar de mim a marca da exactidão e atenção
Conhecer o mundo é partilhar quem somos
E escutar do outro mesmo aquilo que não diz

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:05

Havia meninos a brincar na rua
Uns de berlinde inventado
Outros a saltarem os quadrados da macaca
Um grupo com o lenço pendurado na mão
Meninos e meninas como irmãos
O desejo não era ainda da vontade dos deuses
Fora das horas de inverno todos iam apanhar azeitona
Mulheres e idosos estendiam os toldos e catavam o chão
Homens e meninos subiam às oliveiras para as varejarem
O gelo riscava-lhe a cara como chapisco
Também os pés se ressentiam
Nas mãos seguravam godos quentes
Timidamente uma fogueira queimava a rama
O aroma vinha com fumo afastar a névoa
A água corria plena nos lameiros
O musgo tapava muitas pedras
Os meninos levavam algum desse musgo para o presépio
A árvore de Natal era escolhida na densa mata
Aos meninos contavam histórias de Natal e superação
Contos de gente ancestral que subia e descia a serra
Algumas histórias eram canções passadas por gerações

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:04

O sonho

por José, em 03.12.24

O sonho é cada vez mais o que é
Metáfora de uma promessa de liberdade
Viagem promissora pelas entranhas do futuro
Distopia que ilude a felicidade
Cantiga que amortece o silêncio
E recoloca no amanhecer a surpresa
O sonho é a nostalgia do amanhã
O revisitar da imaginação
A narrativa que nos faz acreditar
O regresso à ternura da idade

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:11

Voar para dizer amor

por José, em 03.12.24

Antes que tudo acabe
E a vida simplesmente anoiteça
Considera continuar a acreditar
Sonhar mais alto no querer
Agradecer por todo bem
Voar para dizer amor

Seguir é sempre o caminho
Nunca ter medo do amanhã
Importa não perder a coragem
Não vamos nem resignar
Vamos deixar uma herança
Voar para dizer amor

Mesmo que as forças diminuam
Em dias de lembranças fortes
Seguir é sempre obrigatório
De peito cheio e sentimento
Somar é sempre uma escolha
Voar para dizer amor

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:56

Viagens no Nordeste

por José, em 02.12.24

Do litoral para quem caminha para Oeste
A extensão do território é gigante
Também tem muito cabra da peste
E no Rio Grande do Norte tem a tromba do elefante

No Ceará falam com orgulho
Na Paraíba destacam o São João
As praias servem para mergulho
O interior é chamado de sertão

Gosto sobretudo das cores
E de ver a água nos açudes
Esta é também a terra de muitos amores
E poetas a exalar do povo as virtudes

Tem muita estrada longínqua
Com rectas de vários quilómetros
À seca a vida tradicionalmente se adequa
O pior é quando avariam os termómetros

Chamam esperança às energias
Que até dizem ser renováveis
O problema é que político tem as suas manias
E a população sofre impactos consideráveis

Tem os chamados filhos do vento
Filhos de trabalhadores sazonais
Que da criação nem dão tempo
Vão ser pais em outros arraiais

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:00

Iracema

por José, em 01.12.24

Passei a semana em Fortaleza em actividade na Universidade Federal do Ceará, sobrepondo-se outras actividades das muitas em que me envolvo. Por essa razão adiei o regresso, que tinha previsto por Natal, onde ficaria o fim de semana e depois viajaria para Campina Grande. Este sempre teve muitas maratonas, essa foi uma delas, daí que tivesse optado por ficar. Acabou por ser uma viagem cara, a diária não deu para pagar o hotel, a que se adiciona o transporte e a alimentação. Preciso ponderar estas participações, foi óptimo para o currículo, mas o currículo não paga as contas.
Fiquei hospedado num hotel mediano em Iracema, não muito distante da praia, por onde passei em 3/4 momentos, ontem sobretudo para fazer tempo e aproveitar a brisa marítima, sem esquecer a água de coco. Tenho algumas amizades na cidade, mas não contactei ninguém, estava com outros amigos e não seria fácil desdobrar-me. Também não gosto muito de incomodar.
Sabia que a opção da viagem direta para Campina Grande ia ser cansativa, procurei mentalizar-me. Foram muitas horas, mas foi uma viagem tranquila. O autocarro é muito confortável e não tive o azar de apanhar com ninguém barulhento. Na verdade ao meu lado não se sentou ninguém, foi dos poucos lugares vagos. Dá para dormir, eu é que durmo mal até na cama. Mas dormi em alguns momentos.
De autocarro nunca fiz uma viagem tão longa. Olhando para o mapa do Brasil parece que não me mexi. Marcando no Google Maps as principais cidades deu mais de 1200kms, a que se adiciona a entrada nas cidades para deixar ou trazer pessoas nos terminais rodoviários. Na prática atravessei para Oeste o estado do Ceará através da BR116, depois desci para a Paraíba, entrando na cidade de Cajazeiras, para mudar para a BR230, que atravessa a Paraíba. A BR 230 é também conhecida por Transamazónica, ao iniciar na cidade de Cabedelo, junto a João Pessoa, e terminar na Amazónia. Conhecia o percurso da cidade de Sousa (a seguir a Cajazeiras) até ao litoral. Este ano viajei duas vezes para o Alto Oeste do Rio Grande do Norte, com ida e volta, por esse percurso. E toda a semana viajo de Campina Grande para Natal na parte leste desta estrada. BR é uma estrada nacional, é uma espécie de IP que nas cidades se transforma em estrada nacional.
Tem muita pobreza no Brasil, mas este é o país dos maiores contrastes. Poderia falar dos apartamentos de milhões na praia de Iracema e das casas piores que taipa bem próximas. O próprio autocarros são de alta qualidade e pontuais. Conheço uns milhares de quilómetros, mas cada vez sinto vontade de conhecer mais. Mesmo o Nordeste que dizem homogéneo e pobre, não é nem assim, a começar pela língua são muitas as diferenças.

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publicado às 22:54

Viver a reciprocidade

por José, em 01.12.24

Não fico babado por mulheres belas
Muito menos por corpos nus a induzir desejo
A beleza e o dinheiro são importantes
Mas a dignidade e a sedução do conhecimento são insuperáveis
Adoro rostos bonitos e cheios de luz
Com o complemento da palavra e da energia são finalidade
Corpos muito preparados procuram status
E mostram disponibilidade de usura
Gosto de paixões que se aguentem por si
A representação torna as relações em acto meramente público
Quando o amor deve também ter pertença privada
Não necessita para tal de fingir ou ser simulacro
Apenas de viver a reciprocidade

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:38

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