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Alguns politiqueiros têm soluções milagrosas para os sem-abrigo/sem teto. Tanto à direita quanto à esquerda podemos ver propostas milagrosas. Umas que, no limite, sugerem o extermínio, outras o negócio chave na mão. Precisamos de sensatez, solidariedade, coração e leitura holística do problema. De nada adianta dizerem que "na casa de Deus todos têm lugar", pois na prática isso não acontece.
Sobretudo a direita adora dizer: que vão trabalhar, oportunidades não faltam". Cada um sabe de si, sem um amplo diagnóstico e acções focadas em cada contexto a tendência é para um acentuado agravamento do problema. Se em Portugal o número destes seres que fazem da rua a sua sala de espera, o canto para dormir e a "sala de jantar" são sobretudo imigrantes ilegais, sem esquecer os tradicionais sem abrigo, no Nordeste brasileiro vou observando distintas realidades. Não fiz pesquisa sobre o tema, mas no dia a dia verifica-se um gradual aumento destas pessoas, independentemente da cidade, algumas até de dimensão reduzida.
Em Campina Grande observo um grupo que claramente é dependente de drogas, ocupam uma das praças no Centro, assim como uma casa desocupada e podem ver-se também de forma mais isolada. Esse grupo inclui homens, mulheres e crianças. Outro grupo parece ser formado quase somente por homens, aposto em homens de meia idade e que se refugiam no álcool. Haverá ainda um grupo indefinido, é possível que estejam relacionados a problemas de doença mental, mas também à quebra de laços, perda de emprego ou outra situação súbita de vulnerabilidade.
É fácil esse incitamento ao trabalho, tal como é fácil exigir políticas públicas de inclusão. No caso português e europeu é fácil ser contra ou a favor da imigração quando tudo isso não passam de palavras de ordem publicitários. As desigualdades do modelo da globalização e do individualismo progressivo estão na origem de uma crise humanitária sem precedentes, agravada pelas guerras, crise económica e climática. Caso não se dê resposta na escala local o problema vai agravar-se.
No caso de Campina Grande, é notória a proveniência de muitos destes sem abrigo do interior mais profundo, o que aumenta este desenraizamento. Desconheço qualquer política de apoio, designadamente alimentar e cuidados com a higiene e saúde. Pode colocar-se a hipótese segundo a qual estas pessoas são indocumentadas, como tal não tem acesso ao CADÚnico, como tal nada recebem do Bolsa Família ou outros programas. Muitas vezes, os corpos misturam-se com o lixo, a falta de higiene é tal que não se distingue.
Neste caso a imagem, que procurei que fosse anônima, foi tirada em Fortaleza, mas o problema pode observar-se em várias cidades. Não é um exclusivo do Nordeste, já observei em outras regiões.

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publicado às 12:47

Anarquia no Palácio

por José, em 30.11.24

O rei não vai nu
Está carregado de pérolas e notas
Preenchem o seu corpo e status
Os seu súbditos diretos também se regalam
Ostentam faixas no Palácio
Mostram os lençóis nos quais dormem
Ao mesmo tempo cospem na cama
Brindam com champanhe a posição que rejeitam
Querem derrubar os privilégios que ostentam
Proclamam-se heróis da transformação
Mesmo sem ideias e vontade de construir
Querem aparecer para não perderem o repasto
Dizem venerar o povo e tudo fazer por ele
Não suportam o povo descontente
Apertam a mão ao ingénuo e militante
Sabem conviver com a fera esfomeada
A narrativa da desgraça é a caridade destes reformistas
Qualquer tragédia é lida na obstinação
Mesmo que o choro constipe a lucidez
E o engano se faça manchete

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:27

Não se enganem

por José, em 30.11.24

Se me olham lá atrás
Não precisam me lamentar
Também não precisam segurar-me
O tempo vai ouvir-me
Não precisam nem mexer-me
Não estou abandonado
Se o amor não chega não é por falta de alegria
Nem tudo se interpreta com a razão
Nem todo o problema é de literatura
Apesar do que possa sofrer o coração
Tudo tem o seu ritmo
E a sua forma de oscilar
Mesmo sem cartas a declarar
E sem pedidos de reconciliação
O que seduz também pode ser uma cilada
Ouro é o que de mais puro se constrói
Não tem problema se faltar o mar
E se a brisa só chegar no final
Não pode é faltar o brilho e a luz do Sol
E a verdade como força das palavras

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:33

Padrão

por José, em 29.11.24

O padrão parece o mais certeiro
Mesmo que seja apenas muleta
Mesmo que seja obediência
E o andar por ver andar os outros
O povo tem razão quanto a isso
Mas também não gosta de desvios
Mesmo que tragam a transformação necessária
É preciso deixar de invejas
E de misturar escolhas individuais com as escolhas dos outros
A dominação define-se também pela reprimenda
Pelos contactos em tom baixo
As paragens na rua para falar sobre a vida dos outros
O mesmo povo dizia dos políticos “eles é que sabem, eles é que leem os livros”
Quando na verdade o povo adorava domesticar a liberdade alheia
Os pais adoram que os filhos sigam os sonhos que os próprios não conseguiram
O que nem sempre é motivo de regozijo
Os conflitos nas famílias são sobretudo por heranças e aspirações
Padronizar não é escolher a felicidade
É fomentar a cópia com a perda do original
A ideia do consenso é delapidadora da originalidade
Ainda assim esse continua a surgir como um desígnio
A única opção que parece se colocar

José Gomes Ferreira

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publicado às 14:44

O mar aqui tão perto

por José, em 28.11.24

Com o mar aqui tão perto
Poderia atravessar o oceano
Recuperar da saudade a imensidão
Abraçar para além da espera
Dar voz às palavras apertadas
Deixar de consumir tanto coração

Com o mar neste remedeio
Ondularia as águas nas areias
Saberia ir para além do turismo
Dominaria as artes da pesca
Na lonjura teria a minha própria ilusão
Faria dos remos o ponteiro do relógio
Para na vida saber quando regressar

Com o mar com tanto encanto
Viveria feliz com gosto
Escolhia a contemplação
E o gosto salgado das ondas
Sentiria os aromas do mar
Mergulhava o corpo a cada vez
Sem o desgaste corrido dos dias

José Gomes Ferreira

* esta semana estou a participar num evento em Fortaleza, as imagens são da praia de Iracema. 

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publicado às 09:59

Mover montanhas

por José, em 26.11.24

A fé e a esperança movem montanhas
Assim como os sorrisos cativantes
As verdades longe dos espelhos
E o amor possante de verdade e reciprocidade
Já os dogmas obscurecem
Dominam como verdasca
Deixam feridas que não cicatrizam
Dividem famílias e mentes
Precisamos voltar ao indivíduo como agente
À sua força, determinação e resiliência
O caminho dito da salvação pode ser um martírio
Um homem verdadeiramente livre é feliz
Um ser estruturado na retórica da repetição não acredita em si mesmo

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:56

Violência doméstica

por José, em 25.11.24

Cada um tem as suas razões
Nenhuma justifica o teor da disputa
Andam machos à solta
E mães a criar seres possessivos
Também tem saias violentas
A pior é a herança dos egos
A moral alinha, mas também supera as palavras
Nas crises tudo piora na culpa
Nos dias evocativos multiplicam promessas
Não concebo o amor como ruptura na dignidade
Menos ainda como raspão na vida
Assassínios covardes de quem não aguenta rejeição
E os políticos no palanque tudo dizem
Todos negam a transversalidade do problema
Assim acham sempre que só afecta os outros
O problema é que mora onde mora o amor
Paixão é ódio são almas gémeas
Mesmo no macabro fim do ser
O respeito não se compadece com dominação
Submissão não é sinónimo de relação

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:11

Sinais de alerta

por José, em 25.11.24

Também ligo os sinais de alerta
Não é apenas o sopro ao ouvido
Os conselhos que pensam que nos dão
Eu sei que a vida não é só trabalho
Experimentem viver o meu percurso
O povo dizia que sem trabalho nada vem
Sendo que a questão é mais abrangente
Sempre fiz o que gostei
Não ter vínculo efectivo permite esses prazeres
Mas também nos deixa na corda bamba
A velhice tem desafios para os quais precisamos estar preparados
Formalmente não tenho qualquer preparo
Não levo o dia a dia absorto com a espera da reforma
Razão pela qual a minha luta é constante
Sei dos meus excessos e luzes vermelhas
Este ano excedi-me e preocupei-me
É sinal que tenho limites e preciso de moderar a corrida

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:42

Razões de escrita

por José, em 24.11.24

Escrevo sobre o que levo desta viagem
O que observo para me cativar
Mesmo que seja na revolta desigual
Nem todos vivem felizes à beira da praia
Escrevo sobre o que vivi e me impressiona
Assim como sobre os sonhos que nos são comuns
No gosto perpétuo de quando damos a cara
Não digo se me dói as amígdalas
Nem se como está o meu coração
É do povo que trago notícias
Mesmo se relato a minha história na aldeia
Foi o povo que me fez crescer e cuidou de mim
Não preciso ficar nervoso
Nem cair cada vez que o mundo balança

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:36

Nascimento

por José, em 24.11.24

Nasci numa casa vermelha
Que na época era apenas caiada
Tinha uma lareira que consumia lenha
E um pátio de estrumeira desordenada

Foi um parto caseiro
Como pobre sabia fazer
Não fui eu a chegar em primeiro
Mas isso não preciso de o dizer

Ainda criança já ia à fonte
Tal como ajudei a guardar ovelhas
Também andei com as cabras no monte
Fui criado por três irmãs já velhas

Nem tudo foram rosas
E os sonhos eram à medida
Cresci a admirar antigas prosas
De pessoas que anteciparam a partida

Nunca passei fome ou sede
O segredo era muito trabalho
A enxada era a nossa relação em rede
Na mata ainda havia muito carvalho

Toda a família tinha um porco
Que na matança era alimento
Tínhamos também uma burra
Que merecia igualmente sustento

Cavei muita manta de terra
Rachei muita carrada de lenha
A paisagem dá para a Serra
Ajudar no campo era a contra-senha

Tive orfandade prematura
Ainda assim tive tudo o que tinha direito
Levei certamente alguma surra
Na irreverência punha-me a jeito

Sou grato aos meus pais e avós
E a todos os que me completam
Se hoje garanto a minha voz
Agradeço a todos os que em mim habitam

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:26

O Barba Longa

por José, em 24.11.24

Quem será o Barba Longa
Desde criança que me falam dele
É sempre evocado como sinónimo de preguiça
E no mito de ter a vida material sem necessidades
"Pensas que é a casa do Barba Longa?"
É uma das expressões motivacionais mais usadas
Significa que é preciso trabalhar, nada cai do céu
Não parece ter nada de religioso
Até pelo uso em crítica
Quem sabe é o Barba Azul ou outro pirata
A asserção parece a que mais se encaixa
Será equivalente a uma outra pergunta dirigida dos pais aos filhos:
"Queres que vá roubar para que não tenhas que te esforçar na vida?"

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:11

Grito

por José, em 24.11.24

Grito no silêncio e omito sons
Não quero que retratem a minha loucura
Nem que chamem desespero à liberdade
Sem esquecer a apologia ao respeito pelo próximo
Grito na mata e a natureza responde
A minha voz mostra os pássaros a esvoaçar
Liberta ruídos deixados por outros animais
Árvores e plantas também se manifestam
Cai um ramo de pinheiro e uma pinha
O vento reage igualmente
Sacode a luz e os movimentos da paisagem
Na natureza sou livre e esta é reactiva
Na cidade pedem-nos moderação e bons modos
Na cidade escutam a nossa vida
Os passos que não imaginamos dar
Porém, largam-nos aos perigos da solidão e desespero
Na cidade dormem os indigentes sem conhecerem o céu estrelado
Procuram aconchego, mas cospem-lhe na cama
Quem grita na rua é policia ou é fanático
Possuído por deuses ou substâncias proibidas

José Gomes Ferreira

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publicado às 12:49

Recordações de sábados à tarde

por José, em 23.11.24

Ficam os pinheiros a lacrimejar
Pingam não apenas das chuvas de Inverno
O Verão levou nas chamas a sua estatura
Lacrimejam também as lajes e os torrões de terra
Um lacrimejar horizontal deixado pela geada
E que no descuido nos faz cair da vida
As hortas estão repletas de verdura
A couve portuguesa mostra o seu carácter
De aspecto frágil e sabor tenro suporta os dias gelados
A vinha mostra o colorido exuberante
Os melros rodeiam as oliveiras, também elas com cristais de gelo
A brisa cortante traz os aromas da Serra e do rio
A neblina pinta o vale e a paisagem
Na Igreja o sino toca as hora no momento certo
Os idosos do Centro de Dia escutam o chamado
Mal o Sol espreita caminham pelo silêncio das ruas
É praticamente toda a vida que a aldeia tem
Ainda passa o carteiro e o homem para ler do contador da água
Na fonte ainda se fazem versos para soletrar
Ladeira abaixo tem quem se salve na passagem
Dá bom dia ou boa tarde aos vizinhos
Havia tanta ilusão, a memória levou quase tudo
As cavacas ao lume lembram os dias singelos
Aos sábados à tarde resta esperar que tudo passe
A esperança permanece oblíqua e em segredo
É a narrativa da saudade frontal que nos invade

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:07

Reforço

por José, em 23.11.24

O teu destino na hora
E a terra derrama
Anuncia tudo sem demora
Do amor o fogo e a chama

O teu coração fora de lugar
Louco para que a paz aconteça
Mas não sabe andar devagar
Vive com medo que o Diabo apareça

Faz como eu aprende a esperar
Segue leve que é melhor
Começa por te amar
Tu és o teu próprio senhor

Também tenho dias que não aguento
E levo as mãos ao peito
Dou um abraço ao pensamento
E juntos saímos do parapeito

José Gomes Ferreira

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publicado às 12:44

Final de semestre

por José, em 22.11.24

É muito bom receber o carinho da turma, neste caso de licenciatura, agora que o semestre termina. Este ano está a ser particularmente esgotante em termos de volume de trabalho, mas esses momentos dão energia para continuar. Fazia muito tempo que não vivenciava algo assim. A turma decidiu organizar um pequeno convívio hoje no final da aula. Orgulhosamente, não quiserem o meu apoio, pois tudo um preço. Paraibano é mais orgulhoso que potiguar (ou norte-rio-grandense).

Ao longo dos anos aprendemos a fazer chegar os conteúdos aos alunos da melhor, sendo que não é nada premeditado, depende da qualidade da turma, das dinâmicas geradas e do contexto. Exceto um caso complicado que me ultrapassa, a turma em causa sempre deu a melhor resposta aos meus desafios e eu não parei de a desafiar. O facto de serem turmas pequenas também faz toda a diferença. Procurei também diversificar a avaliação. Evito sempre testes ou exames em disciplinas de teoria sociológica, servem para reprovar e não necessariamente para consolidar saberes. Na prática teve momentos semelhantes a testes, mas com outras dinâmicas. Tal como teve actividades coletivas e individuais. Uma vez que o semestre é dividido em duas unidades não faltam momentos avaliativos.

Tenho o caso complicado para resolver e atribuir as notas finais. Antes disso terei pelo menos 600kms para percorrer X2, para participar num congresso. Na verdade a minha agenda rebenta de afazeres. É certo que na licenciatura somente tenho essas 4 horas por semana, mas tenho ainda dois programas de pós-graduação nos quais dou uma disciplina. E um outro programa no qual partilho outra disciplina com dois colegas, no qual teremos uma tarde dr encerramento para a semana, dessa vez online, em Setembro fui ao local, 400kms para cada lado, felizmente com motorista da universidade. 

Podem até me achar louco por trabalhar tanto e por ter feito o percurso inverso, vim para o Brasil e os brasileiros vão para Portugal. Digam o que disserem eu gosto. Mas claro que "sai do corpo". E não são apenas as aulas, este ano também somo vários textos publicados em actas de congressos e artigos em revistas. Está também para sair um livro que co-organizo e no qual também escrevo. E outras coisas mais, veremos. Por agora quero que o ano termine e, vamos ver, quero visitar a família. 

 

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publicado às 23:35

Brisa suave

por José, em 22.11.24

Terei certamente outras batalhas
E escolhas na imensidão
O que agora é prioridade amanhã pode ser lembrança
Só não consigo estar parado
Nem me calo perante o descambar da Humanidade
Procuro dar o meu contributo
E acreditar que também é por vocação
Não tenho projectos a longo prazo
Apenas seguir o rumo das oportunidades que criar
Engane-se quem pensar que é por obsessão
Gosto de leveza no caminho e nas pausas
Têm sido espaços de entrega e resultados
Nada me obsta a lamentar no que tentei
Temos sempre altos e baixos no juízo e nos impactos
A firmeza é a melhor forma de os enfrentar
O vento sabe melhor quando é brisa suave

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:33

Luz

por José, em 22.11.24

Toca-me e volta ao silêncio
Arrepia-me e deixa cair a armagura
Toca-me só como tu sabes
Ilude-me na vertente e no repouso
No instante de contemplação
Na frase solta no terreiro
Acaricia-me com ternura
Devolve-me o calor e o conforto
Sei que trazes paz e clareza
O que importa é a felicidade
E o gesto que traz alegria
Prende-me na liberdade
Deixa que se soltem os pecados
Desliga-me da corrente e da pressão
Permite-me alguns minutos de contacto
Espera-me sempre perto do elogio
Não te escondas nos cantos

José Gomes Ferreira

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publicado às 15:33

Natal das aparências

por José, em 22.11.24

O Natal celebra o Homem na Terra
E a sua fé nos laços de comunidade
Foi agregado à religião como ritual
É motivo para transformar o simbolismo das prendas
O seu argumento é celebrar a ancestralidade
E mostrar a tenacidade e resistência humana
Para tal a comunidade junta-se à volta da fogueira
Fortalece o resultado das colheitas passadas
A família refaz-se no reencontro
Reúne-se para reafirmar a união
A tradição cristã juntou-lhe a fraternidade e a bondade
O espírito renovado na celebração do nascimento
A globalização levou-o a dar um passeio
A mudar a crença com base na imitação
E a devolver aos célebres a ostentação
Esse não é o Natal da minha aldeia
Que vai para além da missa e da roupa nova
O Natal é agora um acto de consumo
Os deuses mudaram desde que a abandonaram a floresta
A quadra imita a celebração da paz, da gratidão e do amor
Perdeu a humildade na volúpia da aparência
Não pára guerras nem incoerências
O Natal é agora mero ritual de acasalamento entre deuses e consumidores

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:32

Sublimação do passado

por José, em 21.11.24

Cada geração deixa as suas marcas
E enfrenta os seus desafios
É presunção dizermos que a geração tal é a melhor
Cada década é marcada por transformações em diversos domínios
É certo que as décadas de 1970 e 1980 continuam a extasiar quem gosta de música
Mas outras décadas revelam habilidades e heranças estruturais
Precisamos reverter o sedentarismo e a ilusão da fortuna
Fora isso todas as gerações são boas desde que se viva o nosso tempo
Não adianta ficar pregado no passado
A década de 1990 marcou o cinema independente e parece esquecida
Gostamos muito do que padroniza ideias e comportamentos
Existe vida para lá das narrativas que sublimam o passado

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:56

Cidade indiferente

por José, em 21.11.24

A cidade tanto integra como nos afasta
A cidade transforma-nos em vítimas
Mas também em indiferentes
Se queremos sobreviver activamos a indiferença
A cápsula segura para se ultrapassar tantos pedidos
Usamos o mero aceno com a cabeça para rejeitar contribuir
Também vamos dando uma esmolinha
Quem sabe para limpar a consciência
Muitas vezes acabamos por avaliar por categorias os indigentes
Usamos representações negativos em face da aparência
Classificamos como drogados, alcoólicos e preguiçosos
Não queremos saber daquelas vidas moribundas
A imagem pode ser tocante, evitamos olhar e dirigir-lhe a palavra
Falamos na paz e no amor de Deus, mas somos indiferentes
Gostamos de dizer que o estado é que deve fazer alguma coisa
E quando faz acusamos o mesmo estado de gastar o dinheiro dos nossos impostos
Tem tanta vida perdida com boa aparência
Talvez o maior receio é que um dia a rua também seja o nosso lar

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:31

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