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Esquema

por José, em 24.08.24

Pecado, se não conseguir enxergar
Se não obtiver visualizações
Ficarei bastante atrapalhado
E não me inscrever nas próximas lições

É nisto que se reduz o amor
É nisto que se reduz o sucesso
A exibição é o principal factor
O que importa realmente é o excesso

Andei eu a caminhar pela vida
A segurar as rédeas da emoção
Agora não importa a partida
Somente se procura tentação

Andei eu a vida inteira
A cruzar com o poema
O Homem perdeu a dianteira
Os laços são apenas um esquema

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:53

A Serra não está aqui

por José, em 24.08.24

A Serra não está aqui, mas é como se estivesse
O olhar cortante é como o sopro do vento
A amplitude da imaginação é como a paisagem no retoque da linha do horizonte
A saudade é como lágrima que desce no rosto em felicidade
A partida é como simbiose do fim do dia e da ternura
A emoção enche o coração de lembranças e estímulo
A calmaria relembra o lugar de partida e a beleza da existência
Assim como a fixidez do que nos encanta
A Serra não está aqui, mas ladeio as margens do rio
Espreito o pôr-do-sol entre cada pedra e fresta
Encho o peito de coragem como quem abraça
Observo o povo na história quotidiana que compõe o lugar

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:24

Vincelho

por José, em 24.08.24

Vincelho era a corda de centeio para atar molhos de lenha, palha ou erva
Na época os campos verdejantes passavam a ouro
Era lindo ver a transformação do solo inculto em pão
A palha era também usada para chamuscar o porco
Durante anos dormi em colchão de palha
Estrutura do centeio que ajudava a cultivar
O travesseiro era da fasca solta no malhar do milho
Nada havia de artificial nas artes do sono
Mesmo a proliferação de pulgas e percevejos
Em muitas manhãs o corpo acordava sugado
O colchão remediava o homogéneo
O desgaste do peso em pontos críticos retorcia a palha
Acordava cansado no rebolar nas ondas
Mas a cada ano repetíamos o ritual
O cereal era semeado nas quelhas mais inóspitas
Pintando de colorido os socalcos do Mondego
Depois vinha a ceifa madrugadora e a debulha

José Gomes Ferreira

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publicado às 12:30

Ambiguidades

por José, em 23.08.24

Quando estamos felizes curtimos
Esbanjamos o que não temos
Seguimos para dar o exemplo de uma vida rica
Pois a vida são 2 dias e o Carnaval uma semana
Quando estamos com problemas somos gratos
Chamamos os deuses e os antepassados
Recriamos a história e a superação
Aceitamos qualquer Deus que nos escute
Inventamos dogmas e valorizamos as tradições
Adoramos apelar aos valores e ao respeito

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:35

Querer viver

por José, em 23.08.24

Não sei se as pessoas querem efectivamente viver
Querem estabilidade nas relações
Querem emprego certo
Querem garantir a reforma
Querem dormir para acordar
Mas será que querem viver no sentido da amplitude dos sentimentos, da liberdade e da escolha?
Será que querem pensar sem ter medo do aparato da desilusão e dos dias incertos?

José Gomes Ferreira

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publicado às 21:11

Amor oxalá

por José, em 23.08.24

Amor oxalá eu te pudesse ver
E pudesse beijar-te sem o pudor da razão
Amor oxalá pudesse conhecer-te
E saber que nunca é tarde para caminhar

Amor oxalá fosses verdade
E não fosses sonho ao acordar
Amor oxalá fosses esperança
E uma força a mais no coração

Amor oxalá tivesses forma
Fosses rosto, abraço e comunhão
Amor oxalá te guardasse no peito
E no silêncio tivesses brilho e encanto

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:09

Moderação

por José, em 23.08.24

Adormecia numa gamela
À sombra de uma videira
Comia sopa da panela
Não havia tempo para brincadeira

O universo era o local
Era tudo o que me rodeava
Mas se o destino era fatal
Havia quem realmente nos amava

Ainda assim o sentimento era contido
No orgulho difícil de revelar
O beirão sempre foi comedido
Deixa a beleza nos ofícios do lar

Até o abraço era regrado
Só que nem sempre expresso
Fugia do reencontro desejado
Não era um gesto de fácil acesso

Sempre se modelou no afecto
E se escondeu na ternura
Empatia significava ser correcto
Amar era corrigir os laços na postura

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:33

Saudade

por José, em 22.08.24

A saudade é uma alma à janela
Um coração que nunca se acha só
É o aroma que desvia a cortina
A luz que não deixa escapar o amor

A saudade é a memória de uma criança
O rasto da vida que passou
O caminho percorrido na lembrança
O lugar da gente que nunca esquece

A saudade é a paixão da vida
As cores dos instantes que ficam
A emoção que não se esconde
O brilho que só pode estar no coração

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:33

Nortada

por José, em 21.08.24

Sopra o vento nas cabeceiras
Chega nos corações que amam
Arrepia o peito e o costume
Sopra forte e latejante
Vive a paixão da realidade
O amor tornou-se mais que carinho
Os laços que nos unem são desejo
Cada vez mais o sentimento é querer
Um vínculo formalmente registado
A metade do colchão por usar
Sopra o vento e voam os papéis
Tudo se faz e desfaz para ficar na mesma
Sorrimos na interceptação da luz
Pintamos de cinzento o orgulho
Sopra o vento em delírio
Mostra as virtudes e as veredas
Levanta as pernas e as suspeitas
O romance começa no choque e na novidade
O povo fala na disposição e no escândalo
Os amantes desconhecem qualquer episódio

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:13

Corpo

por José, em 21.08.24

Desço o corpo fatigado
Deixo-o no leito do costume
Deixo-o bem acondicionado
Coloquei água para ferver ao lume

Cuido da pele e da bravura
Exercito a facilidade de tonturas
Procuro manter a formosura
Não o exponho a gorduras

Deixo a alma ao seu lado
Para que não perca o encanto
Não me importo se é pecado
Só não o escondo a um canto

Não o deixo em pranto ou choro
Muito menos em abandono
Vou com ele ao cimo do morro
Mostro-lhe a voz do dono

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:49

Incêndios florestais

por José, em 20.08.24

Ajuda que é fogo
Tem tanta aflição
Ajuda os bombeiros logo
Este é o pico do Verão

Tem fogo na ilha
Arde toda a Madeira
Tem fogo outra vez
Arde floresta em Arcos de Valdevez

Não escapa nada na estação
Na tragédia que nos assola
Nem mesmo a habilitação
O fogo só dá treguas para ir à bola

Chovem sempre promessas
Entretanto chegou a mudança do clima
O planeta está completamente às avessas
As chamas queimam tudo monte acima

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:30

Mesada

por José, em 20.08.24

Trabalhei muito na adolescência
Deixei na mão os calos da enxada
E nos ombros o peso do pulverizador
Carreguei com o motor de rega
Rachei lenha em Sol escaldante
Fiquei órfão antes de me ter conhecido
Ainda assim teve um momento marcante
Parte do abono de família passou a ser para mim
Passei a ganhar algum dinheiro a ajudar parentes
E tinha a mesada extra desse apoio do Estado
Nunca foi muito, procurei dar-lhe bom uso
Seria merecido por nunca me negar a trabalhar
É certo que a maioria não tinha tanta actividade no campo
Mas o privilégio de juntar algum dinheiro não era típico dos pobres
Investi em livros, discos e ideias para o futuro
Fui capaz de materializar uma existência não prevista

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:27

Horas infinitas

por José, em 20.08.24

Quando me contraponho
Para quê tantas afirmações
Os néons lado a lado da rua
Não adianta parar para destacar
As cores e movimentos são frases inteiras
Só eu não sei se vais estar presente
A noite caminha em outra direcção
Escutam-se as montras a fechar
As trancas de metal ressoam
Estejas onde estiveres és lembrança
Quando até hesito
O dia terminou sem responder
A chuva que andou por aí foi sem querer
Não chegou a rasgar os céus
Como divisão que aperta o coração
Haverá ainda muita hora
Não sabemos se vamos esperar

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:06

Árvores

por José, em 19.08.24

As árvores são a luz da nação
E motivo para lembrar o percurso
À frente delas só tem a cultura
Os traços de gente sobre o território

As árvores separam estradas e campos
Ambiente urbano de rural
Assim como rios e encostas
Solos cultivados de floresta permanente

Também já foram o ganha pão
A madeira era usada na construção
A lenha aquecia e cozinhava os alimentos
A resina era um complemento financeiro

Até sonhar as árvores permitiam
De tão monumentais e históricas
Eram a simbiose dos namorados
O que habitava em nós todo dia

As árvores eram habitat e diversidade
Origem de nascentes e mitos
Fonte de oxigénio e sombra
Sabedoria e fruta de alimento

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:13

O que lá vai lá vai

por José, em 18.08.24

O povo diz que para trás mija a burra
O que significa que o lá vai lá vai
Não adianta arrependimentos
Nem culpas ou caminhos de volta
Isso não significa que se esqueça tudo
O mesmo povo diz que recordar é viver
Mesmo o que não resultou pode trazer boas lembranças
Não fiquei parado no passado
Tenho ganho impulsos, amigos e conhecimento de lugares
Tenho renascido na descoberta de novos mundos

José Gomes Ferreira

* A imagem é de Agosto de 2015, do bairro da Torre, Recife. A primeira viagem ao Brasil. 

FB_IMG_1723985987478.jpg

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publicado às 23:26

Fazer ver

por José, em 18.08.24

É só para informar
O que não se pode dizer
É só para revelar
Que tem muitas formas de viver

Não importa o aperto
Se existir força no coração
Tudo dará certo
Mesmo sem mostrar aos críticos de plantão

Quando revelam o que não se pode
Não escolhem as nossas opções
Tentam nos dar um bigode
No gosto que têm das provocações

O que importa não é o que os outros querem
E tanto falam nos seus fracassos
Deixa-os estar para verem
Como se desfazem e apertam os laços

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:18

Sofisticação

por José, em 18.08.24

Não sei agradar para compromisso
Sei adaptar-me, não sei fingir
Vasculho a mente e as decisões
Limpo as dúvidas, não escondo os erros
Não me arrependo dos avanços
Nunca fui de ignorar desafios
Nem sempre complementei as representações
Cada um pensa de mim o que quiser
Talvez por isso desfiz expectativas
Nunca sou quem estão à espera
Sou eu na minha simplicidade e entrega
Tão ingénuo quanto calejado
A minha sofisticação está na herança que produzo
Pouco me importa o charme do luxo
A sedução está nas acções e no brilho dos olhos
Se não tiver aplauso terei a paz do silêncio
E a escolha em escutar o chilrear na madrugada

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:42

Manias

por José, em 17.08.24

Nunca procurei a minha outra metade da laranja
Se fomos cortados ao meio os sentimentos oxidaram e desperdiçaram a laranja
Nunca procurei a tampa da minha panela
Se está perdida é sinal que saltou por incompatibilidade
É melhor evitar situações semelhantes e cada um ficar no seu fogão
Também nunca procurei a minha cara metade
Sou inteiro e gosto de pessoas por inteiro
Procuro apenas que o meu coração sorria mais
Nunca irá bater certo nos constrangimentos da vida
Mas terá mais motivos para ser recíproco
Com mais vontade para ser intenso na caminhada
E radiante no resultado trazido pelas escolhas

José Gomes Ferreira

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publicado às 09:07

Saber viver

por José, em 17.08.24

Na vida que não vai voltar
No universo que não deixei fugir
Vivi a turbulência do silêncio
E vivi o impulso do amor
Se me reservei aos pensamentos
Não me acomodei à luxúria clandestina
O tempo passa e também errei
Não carrego culpa por ter falhado
Vivi o suficiente para aceitar as circunstâncias
Lutei mesmo camuflando a timidez
Volto para mim quando ganha a razão
Mas também quando o amor vive melhor nas utopias
No meu peito não vive apenas a minha vontade
O ano tem sempre quatro estações
Aceito-as na diversidade do vivido
Confesso o pecado e o desejo na mesma celebração
Deixo a vaidade com os crentes e com os algoritmos

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:10

Corrida

por José, em 17.08.24

Não corro necessariamente para não ficar para trás
Para isso antecipo a partida
Corro para viver em plenitude
E nunca desistir sem tentar
Corro também para me conhecer
E me anunciar ao chegar
Só não o faço por competição
Nem procuro subir ao pódio da história
Corro para ter razões de sobra para sorrir
E receber o abraço de quem me acompanha

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:35



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