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O silêncio não é estar perto
Nem quando estamos sós
É a paz do coração no sentimento
E os instantes de Sol no pensamento
E da Lua no encanto da espera
A sombra do sorriso somos nós
O rastro de saudade do último beijo
A contemplação interior do amor
A estima fortalecida na confiança
E o delírio sincopado do castigo
Por esse motivo saltamos das aparências
Rejeitamos os abusos e as tensões
Somos mais que as vezes e as palavras
As idas e vindas nos desencontros
A nossa coragem é também paixão
José Gomes Ferreira
Surpreendo-me sempre com a habilidade dos favores
Sobretudo para evidenciar laços bem apertados
Mesmo que o sangue seja o mesmo a correr
E o merecimento seja indução subjectiva
Surpreendo-me, mas faço-me de desentendido
Não cumpro nenhum desejo de posse ou manipulação
Corro para me encantar ainda em vida
Não para reivindicar extremas de posses
Magoa-me tanto descaramento e o fundamento da argumentação
Mesmo assim ignoro qualquer que seja a legitimidade
Não me interessa satisfazer o orgulho e a glória
Apenas conquistar a simplicidade da transformação
José Gomes Ferreira
Agora que te quero inteira
Para prosseguir esta caminhada
Junto à solidariedade e à lisura
Nas ruas e nas praças que recordo
Agora que te quero plena
Como conquista colectiva
De olhos arregalados e mãos dadas
Agora que te quero universal
Para não haver mais má sorte
E gente que vive angustiada
Agora que te quero amante
Porquê a tua ausência quando te quero mais e de ti necessito
Deixas os olhos correntes e os cabelos grisalhos
Porque entregas a vida a outro destino
E escutas quem não quer viver junto a ti
José Gomes Ferreira
As estrelas reúnem-se de conluio
Querem descortinar as almas puras
E todos os espíritos de luz
As estrelas e as memórias de quem subiu ao céu
Não tem chuva nem vento que apague o coração
O amor é um sentimento perpétuo com várias inscrições
Fragiliza-se nas ausências por crispação
Mantém-se na sequência que aponta para a eternidade
De tal modo que nunca se apaga nem do próprio sorriso
Os nossos olhos sabem escrever essa definição no firmamento
E mostrar as reacções cutâneas do encanto que supera o desejo
Dizem ser imaginação a celebração da reciprocidade
Na verdade não se limita à beleza e à fantasia
Se arrepia a espinha é porque o orgasmo completa o ciclo dos anos
E repete-se no aroma que chega nas noites de nostalgia
José Gomes Ferreira
Lembro dos arreios e da carroça
Dos moscardos que não largavam o animal
Da rua descalça de calçada
Da mijoca a correr à entrada da porta
E do porco alimentado num cubículo
Lembro das casas sem casa de banho
Do terreno baldio ou da vinha para suprimir as fezes
Das botas com os dedos vistos
E do corpo suado recebido na escola
Lembro da noite esquecida e do silêncio na salva
Da soleira da porta com conversas de vizinhos
Lembro de se gabarem que afinal eu estudava
Quando ainda estava longe de cumprir o ensino obrigatório
E de tanta vez não conseguir ler uma página no lusco-fusco e no cansaço dos dias
Lembro-me da carne gorda da salgadeira
E de tantas sonhos que fui incapaz de viver
Sonhamos com os mistérios da liberdade e felicidade
A obediência como prática de respeito não confere respeito nem liberdade
Não sonhamos quando o nosso universo é a nossa aldeia, por mais encantadora que seja
Vivemos prisioneiros do que nos mandam fazer, do alimento disponível e das estações do ano
Não sonhamos, estamos convencidos que tudo aquilo é o melhor que conseguimos da vida
José Gomes Ferreira
Não te preocupes amor
Também o aroma do mal é passageiro
É febre de ódio que adora sangue
Teremos sempre a compaixão frente a tal argumento
Teremos sempre as mãos dadas e o coração pleno
A verdade prevalecerá frente à propaganda
Não te preocupes amor
Vamos ainda sorrir juntos
E afastar os fantasmas da regressão
José Gomes Ferreira
Sinto a tua falta meu amor
Das risadas no aconchego
Do perfume do olhar
E do silêncio dialogante das noites
Sinto a tua falta meu amor
Da construção de paralelas
Ideias que se pensavam projectos
Ordenações matemáticas de progresso
Sinto a tua falta meu amor
Das memórias divididas
E do estímulo para a felicidade
Do vento a limpar os nossos rostos
Sinto a tua falta meu amor
De me esperares no regresso
Do cuidado com a luz do sentimento
E de me agarrares nas noites de trovoada
José Gomes Ferreira
Sei que muito desgosto de Abril reside nos políticos
Na sua incapacidade para projectarem o país para o futuro
E nos maus hábitos que a política gera no apetite pelo dinheiro
Abril também trouxe expectativas individuais
Algumas pessoas dão ar de que falharam
Outras teimam em não querer interpretar os indicadores
Outras ainda não querem entender que o mundo mudou
Portugal não é mais um país isolado à beira mar plantado a olhar para as colónias
São muitos os traços da nossa identidade, mas falta-nos um sentido de cooperação
E uma leitura da força da nossa heterogeneidade
Caímos no lamento do sapo ao Sol à espera de comida
Quando deveríamos dar as mãos e escolher o futuro
No desassossego aceitamos a disputa política
O problema é que a política não forma necessariamente cidadãos
Estamos a chamar para o palco os militantes e a deixar de fora os agentes de transformação
José Gomes Ferreira
Tão frágeis as pétalas
E ao mesmo tempo tão plenas
Lembram os beijos da tua boca
Perpetuam-se na tua ausência
Escolhem ficar no meu querer
Vingam como aromas rosáceos
E imagem fixa da alegria do coração
José Gomes Ferreira
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