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É uma alegria enquanto o vinho não falta
A cerveja está gelada
Não tem heranças para dividir
E fingimos ser todos filhos de Deus
Depois percebemos que estamos em competição
Que competência e sorte nem sempre se cruzam
Que transparência pode significar escolher os mesmos
E criar processos segundo o jeito
Pergunto-me se devo aplaudir os políticos
E se devo agraciar os empresários
O seu sucesso é da nossa conveniência
Mas é essa a sua responsabilidade
Tem a catarse de espuma que nos prometem
O vai e vem das ondas e dos ciclos
As peneiras sem Sol ou cereal
Apenas cheias de vaidade e luz
José Gomes Ferreira
Não ignoro o simbolismo da transição
Custa-me a proposta que não tem desfecho
A cada ano desejamos paz, amor e prosperidade
E a felicidade como desígnio da Humanidade
As televisões adoram fazer balanços
Repetem e esquartejam as notícias
Em momento nenhum avaliam a concretização dos votos
Os valores desejados como sentença são esquecidos a 2 de Janeiro
Só pensamos em valores na luta política e religiosa
Deixamos a discussão de lado na comunhão social
O que desejar para 2024 com extermínios sumários à nossa frente?
Com a violência que ocupa as palavras e as ruas?
E perante o aplauso que recebe a destruição do planeta?
José Gomes Ferreira
O meu sotaque de voz
É como silêncio infinito
Escolhe algumas alegrias
Na troca de gente mudada
Reajo leve às transformações
A euforia é para os devotos
Encho o coração de paz
E recebo a luz tranquilamente
No limite das coisas incertas
As palavras exactas cativam
Slogans são para elevar a repetição
Procuro frases trémulas de originalidade
Não disputo certificados no argumento
Gosto da voz no povo no arrepio
Através de linguagem universal
Mostra o sorriso das liberdades
José Gomes Ferreira
Não sei o que começa e o que acaba
No supermercado deram-me um calendário
Não tinha indicações de como acabar e iniciar
A julgar pela correria no bairro uns festejam
Desejo apenas esclarecer as minhas dúvidas
Sem perguntar para que serve o que é novo
Se tem realmente algo de novo
Quero apenas paz e as honrarias da superação
José Gomes Ferreira
O que tem novo o ano
Se o velho não se encerra
O que tem de novo o amor
Se metade de si é fecundação
O que tem de novo a luz
Se o coração vive na escuridão
O que tem de novo a saudade
Se a memória é ficção
O que tem de novo a esperança
Se a fé se perdeu
O que tem de novo o beijo
Se o momento não se repete
José Gomes Ferreira
É o milho e a laje
O terreiro e o povo
Com tanta luta
Tem dança no meio
Abraço por reencontro
Nostalgia no que passou
É o céu a apontar o amor
A luz que subiu na trajectória
Andam as almas perdidas
De corpos em festa
Brindes à pressão
Como cerveja tirada do barril
E filhos soltos na noite
Os beijos são proibidos
A escolher antigamente
Bate-se no peito
Sacode-se o pecado
São rezas e preces
Suores frios e arrepios
Ainda a água corre na fonte
E a geada cuida do vinho
O vento que solta o estendal
Separa o grão da impureza
Na terra removida
Os eixos nela bravios
Rasgam cada talhão
E assim se faz novo cultivo
José Gomes Ferreira
Porquê fazer esse balanço
Se os dias são apenas sequência
E se o que hoje não alcanço
Amanhã sigo com paciência
Porquê tanto prestar contas
Se me vai afligir
Poderei sempre ter propostas
Sem a pressão de reagir
A cada dia coloco novas metas
Dos caminhos a percorrer
Não corro com outros atletas
A primeira prioridade é sobreviver
Não se trata de resignar
Nem de perder ambição
O ano novo tem 365 para ficar
Os mesmos para eu cuidar do coração
José Gomes Ferreira
Poderei parar e o coração
Sem se tem ter conhecido
Parecerá arrependido
De nunca saber como te amar
Poderei escutar a minha alma
E a luz de como te imagino
No meu corpo que não tem jeito
Está toda a minha existência
Poderei um dia encontrar-te
E realizar os sonhos num dia
Chegarei com a esperança ao ombro
E com as tuas palavras ao ouvido
José Gomes Ferreira
* Tem uma frase que digo praticamente desde que comecei a escrever neste modelo, numa fase ainda primária: não sei quem és mas fazes-me falta.
2024, por ti espero
Neste instante de demora
Pelo Humanidade peço paz e consciência
Por mim peço saúde e estima
E que a sorte construída seja caminho
Por todos peço união, saúde e felicidade
E que seja mentira a verdade iludida
Ainda não chegaste e já contamos contigo
O teu irmão 2023 perdeu-se no destino
Andou metido com o ódio e o esquecimento
Plantou guerra onde deveria existir prosperidade
Confundiu vingança com direitos humanos
Quis falar sobre clima mas não parou a destruição
2024, és a nossa esperança
Traz amor, pão e água fresca
A lucidez da saudade e da grandeza
Por isso a ti também te desejo
Feliz 2024
José Gomes Ferreira
Eita! Como o tempo passa
Muita pronúncia repartida
Neste caminho de 8 anos
O que dizer dos olhos claros
E de tanta zoeira no coração
A minha partida não teve idade
E trouxe a saudade agarrada
Oxente! De lealdade avexada
Que não consigo dar vazão
Pediram-me para ir em frente
Para ser cabra arretado
E ignorar qualquer galado
Deixando o povo a mangar
Pois não adianta ficar aperreado
Vixe! Como o tempo passa
Corre como alma sebosa
Por vezes fico ariado
Que fico na solidão
Mas no fim tudo dá certo
O abraço é verdadeiro
Não vai em molecagem
É tão massa a cor do mar
Que me perco na rotatória
Sem saber que é judiação
José Gomes Ferreira
* Algumas palavras uso por improviso, outras são correntes. São já 8 anos desde que deixei Portugal, ainda que sempre ligado. Podia traduzir? Teria de escrever de novo e ficaria diferente.
Se for para escolher escolho a serenidade
Deixei de correr para cativar a ambição
Continuo a correr pelo que me apaixona e para garantir uma vida digna
Corro também para honrar os meus antepassados e inspirar os futuros
Não me presto a algazarras
Nem ao arranque dos motores na linha de partida
Gosto de bacalhau com cebola, azeite e vinho
Não necessito de ostentar virilidade
Nem de manifestar apoio a partidos ou símbolos
O meu materialismo é contido
A minha vontade é leve
Suaviza-se no amor e carinho
É também o silêncio que me conforta
Evito mais a multidão que o silêncio
Não que evite pessoas, só não facilito quando se trata de fingir
Também não esvazio garrafas e chamo-lhe felicidade
Não me converto facilmente, mas facilmente me adapto
O meu sorriso não é para agradar
Não gosto de velar a espera
Nem de dar importância à adoração
Os meus heróis sempre foram as mulheres que me criaram
Assim como os professores que me acudiram nas reflexões
O meu rumo não é o das caravelas
Não ando a conquistar territórios
Nem a desmamar o ventre da terra
O caminho do conhecimento é o que leva a lutar
A seguir por percursos de pó barrento
A andar na areia da praia pisada por quem trabalha
A minha alegria não vai das celebrações
Nem da supremacia do pecado
Observo as flores, chamo os pássaros
A minha força vem do instante e do percurso
Da espuma que faz arder os olhos
E da rama de oliveira no mês de dezembro
Já amei e me perdi
Outras vezes escolhi não procurar
Não tenho pressa
O meu corpo marca uma história
Os meus dedos estão calejados de pensamentos
Os meus olhos guardam ainda a sedução do contacto
Não preciso fugir para perto ou longe
O abraço é feliz quando não se prevê
Quero cativar o futuro
Dar-lhe o que aprendi
Deixar marcas na terra que removi
Lançar sementes e criar raízes
Esse é o meu destino e meta
José Gomes Ferreira
Sinto o calor frisante
Na tranquilidade dos dias
Imagino o frio distante
Escuto algumas melodias
É o ano que termina
Em Janeiro tudo recomeça
Quem sabe o povo se anima
E monta da vida uma nova peça
Observo brevemente a natureza
Deixo o coração em paz
Os dias não têm apenas beleza
Tem muita gente de leva e traz
O que conta é o amor
Franzido de cor de esperança
Não pode é vir sem primor
É a paixão que lhe enche a pança
José Gomes Ferreira
Mudar dizemos sempre que é para melhor
Talvez o paradigma tenha mudado
Reagimos agora de archotes na mão
Sempre prontos a atirar alguém para a fogueira
Não é a história de Baltazar e Blimunda
Nem da irmandade atroz da Santa Inquisição
Mas atiçamos logo as chamas como cães raivosos
Se ocorreu um crime insistimos que sabemos a nacionalidade
Se alguém festeja não é português, queremos saber a nacionalidade
Se a economia corre mal o problema é da democracia
Se a democracia corre mal a culpa é dos outros
Sonhamos com a fogueira o tempo todo
Nunca nos colocamos no papel de desviantes
Qualquer polarização leva à violência
E nós precisamos de empatia e de escutar o outro
José Gomes Ferreira
A minha saudade é um trapézio
Um baloiço numa oliveira
O corpo proibido de se pendurar no portão
O escorrega na laje de granito
O corpo que aterra com o sonho de voar
A minha saudade é de água corrente
Um lameiro submerso na erva a crescer
A levada como orquestra da manhã que corre
A minha saudade é do aroma caseiro
Do azeite ainda quente nas vasilhas
A broa e os biscoitos acabados de fazer
E o soalho de madeira acabado de encerar
A minha saudade é dos cântaros cheios
E da família acabada de regressar
José Gomes Ferreira
* Uma nota breve sobre os cântaros cheios: fui criado pelos meus avós na aldeia, os meus pais eram emigrantes, lá em casa a minha avó era a única mulher, que dedicava os dias à vida na agricultura. Eu como mais novo ficava por vezes em casa para organizar algumas ditas tarefas domésticas, que incluía ir buscar água para beber e para um pequeno tanque. Agora tudo parece fácil, mas era ainda muito jovem, menos de 10 anos, e no Verão arranjar água não era tarefa fácil, ainda que nunca tenha faltado na aldeia.
Somos uma sociedades de excessos e faltas
Excesso de egos
Excesso de mordomias
Excesso de resíduos
Excesso de consumo
Excesso de guerras
Excesso de Igrejas
Excesso de destruição
Excesso de violência
Excesso de insegurança
Excesso de conversa
Excesso de inveja
Falta de empatia
Excesso de enganos
Falta de dinheiro
Falta de orgulho
Falta de ambição
Falta de respeito
Falta de metas
Falta de forças
Falta de rumo
Falta de lideranças
Falta de vontade
Falta de civismo
Falta de verdade
Falta de humildade
José Gomes Ferreira
Solidão não é uma fogueira acesa
É fogo sem lume, sem lenha
Sem a panela a ferver
E sem motivos a acrescentar
Solidão é a vida sem pena
Desfalque do rumo e feitio
É a sorte que não se semeia
O pão que não se coze
Solidão é a categoria dos isolados
Lembrança em época festiva
Esquecimento do próprio nascer
Repertório do orgulho e pasmo
Solidão é a masmorra dos libertos
José Gomes Ferreira
A família são laços
Por vezes soltos
Outras vezes muito apertados
Os amigos são o nosso guia
Ou pelo menos o pedaço de multidão que sempre nos acompanha
Também tem familiares amigos
São raros mas existem
Tem amigos sempre presentes
Não precisam falar já sabemos como estão
Também podemos ser nós os observados nas inquietações
Outros amigos ficam alapados a nós
Quase sufocam na preocupação
Tem outros que extrapolam o síndrome da ex
Só nos ligam quando estão alcoolizados ou em crise existencial
A maioria pode nem perguntar como estamos
Perguntam imediatamente onde queremos ir
José Gomes Ferreira
Deus pode até ser misericordioso
Só que o ódio dos homens é impiedoso
E é esse que tem dominado a Humanidade
Por outro lado as crenças não são iguais
A que Deus apelar por piedade e salvação?
Cada um levanta o seu como bandeira
E executa a sua fé como princípio universal
Precisamos dialogar sobre o tema sem que os crentes o definam como afronta
Religião não deve ser tabu nem verdade absoluta
Crença, religião e Igreja precisam retomar convergências
É urgente debater os problemas
Mudar de assunto é a estratégia de quem se acha poderoso
José Gomes Ferreira
Se a sorte me permitir caminhar
Continuarei a trilhar muitos lugares
Com vontade e capacidade de observação
Para que não fique apenas quieto
E viva como todas as pessoas vivem
Sinta o corpo no instante do abraço
Como o sinto em todo percurso
Se não me faltar o ânimo ou as forças
E a saúde escolher me beneficiar
Sentirei o calor e o frio das estações
Direi bom dia até aos gatos pretos
Amarei como só a imaginação ama
Farei as paragens necessárias
Pois não tenho pressa em chegar
Apenas dar-me ao momento e à cidade
Sou transeunte e residente em movimento
Escolho o mar para levar o coração
Cubro a calçada com o ritmo da vida
Vou e volto sempre que a natureza chama
José Gomes Ferreira
Legenda: passiflora ou flor do maracujá, 25/12/2023
Amizade não se pede
Amor não se cobra
Tudo acontece espontaneamente
Se for para durar duram
Podem até transgredir
Adaptam-se ao argumento
E ao respeito de todas as bases
Aceitam-se no multiplicar dos anos
Não registam abandono se forem fortes
Já a impaciência não se transforma
E as dívidas não perdem validade
O mesmo acontece com a traição
A vida tem sempre pontos de equilíbrio
Não é mera ligação por piedade
Também não precisa de motivos
Nem sempre a reciprocidade é justificada
Acontece pela luz que nos atravessa e mobiliza
José Gomes Ferreira
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