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Manual do estudante

por José, em 07.11.23

Se te faltar um conceito
Se te afligir uma tese
Bate com a frase no peito
Navega do fim à génese

Nunca dormes sem escolhas
A fugir da experiência
Se o teu medo é se te molhas
O amor não poderá chamar-se ciência

Ama de mais com cautela
Não vás ter a lição estudada
Jura ter comida na panela
Sem alimento não és nada

Por vezes falas com o destino
Ao ser frustrante o caminho
Lembra que se começa de pequenino
Aprende a levar água ao teu moinho

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:45

Amor trágico

por José, em 07.11.23

Comovo-me nos interstícios e no que de humano me chega da Humanidade
Um idoso retirou a vida à companheira em sofrimento
Colocou também fim à sua existência
Vai entrar nas estatísticas da violência contra a mulher
Terá sido um crime por exaustão da vida e supremacia do amor
Terá sido obra de compaixão e despero
É difícil não perder o chão quando um casal chega a este ponto
A dor retira toda a dignidade à existência e nem sempre o amor é suficiente
São necessários outros laços e outros suportes
São necessárias outras políticas para curas que as políticas ignoram

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:19

Repertório

por José, em 06.11.23

A chuva bate nas pálpebras e sacode o remolho
O vento trazido da Serra mobiliza as empenas
Arrasta sais de esgrima
Os telhados vibram como chapas de zinco
Portas e janelas abanam em repercussão
A previsão do repertório não apontava a tempestade
Não tem solidão no campo fustigado
Ladram os cães desesperados com o elenco
Não aguentam mais o movimento da estação
A minha visão fica toldada e sem foco
O mesmo remolho vê as folhas soltas fugirem
Algumas couves perdem o agasalho
Os lameiros são humedecidos pela passagem das águas
Atravesso apenas de pensamento, não vá ficar atolado
O Outono trouxe o nobre colorido
E não esqueceu de trazer toda a guarnição
A azeitona cai sem remedeio para o coração
Alguns muros ameaçam tombar e expor a terra
As cortinas fartam-se de olhar os dias cinzentos

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:44

Coração

por José, em 05.11.23

Coração escuta as vaias
E por teu amor define o destino
Não te escondas debaixo das saias
Só porque a vida te leva ao desatino

És impulso e sedução
Origem de segredo e mistério
Voz da beleza e emoção
E muitas vezes culpa de adultério

Órgão de tantas fraquezas
És também razão de muita força
Não te deixes levar pelas tristezas
És a alegria de quem mais se esforça

Simbolizas sentimento e compaixão
O amor capaz de mudar o mundo
O teu juízo rima com paixão
O teu querer sem freio é vagabundo

José Gomes Ferreira

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publicado às 20:11

Possibilidades

por José, em 05.11.23

O meu corpo, a minha hora
Até a salvação aparecer
Tem ainda muita demora
Dá tempo para me conhecer

Os teus beijos, a minha espera
A reciprocidade qualquer que seja
A realização de uma quimera
Gerando vozes de inveja

A tua fé, a minha verdade
A sedução em síntese
O acontecimento sobre a probabilidade
A confirmação da hipótese

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:45

O amor é insuportável

por José, em 05.11.23

O amor é insuportável no seu querer
Gera a mais alta felicidade que um coração pode querer
Move montanhas e construções mútuas
Refaz o conformismo em novos destinos
Dá sentido mágico às utopias
Leva-nos da imaginação à realidade duplicada
Multiplica-se na conjugação de desejo e sentimento
Porém, motiva intrigas e disputas
Mostra como a inveja e o ciúme podem matar
Eleva egos à raiz quadrada da prepotência
Facilmente vai do riso ao choro
No desalento alia-se ao silêncio
E à terminologia da vaidade da solidão

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:54

Talvez

por José, em 04.11.23

Talvez o amor seja de pobre
E o corpo tenha outro desejo
Encha a felicidade de consumo
Na paixão telúrica do sucesso
Talvez a ambição seja por conhecimento
E o mundo corra atrás de exibição
Que não se destrua o descanso
E não se ignore o sargaço
Tudo mais são os dotes de cada época
E as subjectividades de preâmbulo

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:01

Consciência

por José, em 04.11.23

Mexo e remexo no teu cabelo
Como carícia suplementar
Ligação entre corpo e paixão
Energia serena dos dias
Toque de luz e fusão
Mexo com as tuas orações
E preces sobre as utopias
Sabemos não existirem certezas
E que o momento é a história
Mexo com a tua ambição
Ajudo a retocar a corrida
E a dissertar sobre as dimensões da felicidade
Mexo com o teu coração
Quando podes sentir
O que podes sentir
E se o podes viver em plenitude

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:27

Para além da Humanidade

por José, em 03.11.23

O Sol voltará sempre a brilhar
O céu continuará com tons de azul
Com noites de estrelas e luar
O mar continuará a dar vazão aos sonhos
E as flores vão continuar como símbolo do amor
Pouco importa o nosso esforço e lamentos
Pouco importam as guerras facínoras
E a condenação moral do desvio
Os elementos vão continuar a se oferecer
Como namoro justo e ignorado
O entendimento poderá não vencer
A natureza será testemunha de todas as coisas
E terá o momento de repouso para além da Humanidade

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:01

Humano

por José, em 03.11.23

Sobem as escolhas a pique
Tudo o que fazemos não é apenas movimento
E não é certamente competição
O gosto repetido de esfregarem as ideias nas perturbações
Como quem marca território e se vê assim feliz
O meu destino quero que esteja sempre em aberto
Apesar do coração escondido no semblante
No rosto que nem sempre atrai advertências
Muito menos sorrisos regados com circunstâncias e venda de doces
O meu jeito acanhado procura certezas
Gosta de abraços fortes e palavras que surpreendem
Escolho o silêncio para saber amar o dia seguinte
Repercuto as carícias nas vontades moldadas
Sigo acima e abaixo seja qual for a distância
Um dia o aplauso colocará fim ao esquecimento
Seguirei na proa sempre que tiver luta e oportunidades
Só não venero deuses ou razões por obediência
Prefiro que a minha herança seja de luz e afectos
E não de favores e filiações por carência

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:48

Sonhos caídos

por José, em 03.11.23

O teu olhar celeste
O céu imenso azulado
O teu sorriso da peste
Suspiros por todo o lado

Foi tudo como uma dança
Na sedução da pele
Nós dois sem aliança
E abelhas na produção de mel

Pode ser uma ilusão
O que acabou por se perder
É difícil fortalecer a paixão
Quando a gente fica sem se ver

Depois não somos todos iguais
Como mostram as expectativas
Tem quem busque paz nos quintais
E quem prefira opções mais divertidas

José Gomes Ferreira

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publicado às 01:15

Gratidão

por José, em 02.11.23

Avanço no respiro de todo o querer
Mesmo sendo um desafio seguir
Quando a única força é interior
E a vontade criadora para legar
Derrapo nas ladeiras e obstáculos
Esmoreço no início das distâncias
Mas tudo isso são passos da luta
Não tem caminho sem obstáculos e apelos
Agradeço aos anjos que se cruzam comigo
Tem gestos e amizades que nos fortalecem

José Gomes Ferreira

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publicado às 16:51

Parados no tempo

por José, em 02.11.23

O saudosismo enviesado turva a consciência
E ilude quanto a futuros possíveis
Sobre o passado escutamos repetidamente "tempo bom que não volta"
E o resignante "éramos felizes e não sabíamos"
Tudo isso aconteceu de verdade
A tranquilidade dos dias e a matriz sem expectativas gera agora a ideia de plenitude
Só que a felicidade tanto é das etapas da vida como das permissões para sonhar
Falar em tempo bom omite as restrições à ideia de mundo e de espectro de vida plena
Aceita a ideia "pobres, honrados e felizes"
Qualquer tentativa de regresso ao passado é ignorância ou propaganda
As condições do passado não existem mais
E o processo civilizacional mudou a forma de se encarar as coisas e as instituições
Não apagar a memória é uma obrigação
Dizer que antes é que era bom só revela o quanto ficámos parados no tempo

José Gomes Ferreira

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publicado às 09:55

Três irmãs

por José, em 01.11.23

O amor melancólico na lembrança da lareira
Os dias de Inverno sobre as falas e as fagulhas em combustão
No momento de chamar a família o corpo gela
Retém imagens de três irmãs com as quais cresci
Eram idosas quando se deu o parto
Eram tias e avós e mães por comissão
Matriarcas na perda dos entes e na força
De génio distinto e por vezes incompatível
Uma significava coragem, a minha avó que me educou
A outra significava solidão, disfarçada de cantigas e trabalho no campo
A outra significava bondade, criou filhos, netos e outros tantos
Reuniam em ocasiões de celebração
Sempre com receio de duas delas se picarem em diálogos
No final ficava a saudade da partida e da capacidade de reverem a própria história

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:50

Culto das almas

por José, em 01.11.23

Admiro a veneração aos mortos em contínuo
Sobretudo pelas mulheres de negro da minha aldeia
Tratam o mármore das campas como tratariam dos antepasados
Establecem nelas os seus altares, a sua fé e abnegação
Entregam todo o seu respeito, amor e compaixão no cuidado
Ao mesmo tempo iludem o enfrentar da solidão
Na celebração das almas de quem perderam
E ritualização da dor através da lembrança

José Gomes Ferreira

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publicado às 09:58

Outras noções de felicidade

por José, em 01.11.23

Um dia de felicidade é um dia em que as minhas palavras são escutadas
E não por necessidade obesa de desabafar
Nem de caracterizar os pássaros que cantam na minha rua
Muito menos para espalhar dogmas ou virtudes cruéis
Menos ainda para apresentar a lista do supermercado e das maleitas
Mas em que essas palavras induzam a indagações
E essas indagações tragam novos olhares sobre as certezas
Não apenas o vento a bater nas ventas e o pingo que sai do nariz
Importa que sejam mais um passo na busca de abrigo e laços
Nunca vão trazer certezas, o desafio é que das respostas surjam mais questões
A felicidade não está em gerar consensos
Nada existe de mais encantador que descobrir o mundo for de nós

José Gomes Ferreira

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publicado às 00:22

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