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Tenha eu o que tiver
Quero um beijo sentido
Gosto da alegria de viver
Sem razão para ter partido
Tenho pressa de querer
Nos beijos pintados para a viagem
Do mexer intenso até morder
E esperar no calor uma aragem
Já me cansei da espera
Torço para que o amor chegue
Pergunto ao beijo se coopera
Para que eu finalmente me entregue
José Gomes Ferreira
Nascido no fogo e na mentira
No inferno de quem se esquece
Nascido na argumentação pendente
Nas ideias e trambolhões
O homem vive para se iludir
Admira os rios a correr
Mas engole a água fétida
E aceita a humilhação
Nascido na escusa da noite
E no prazer sem pergaminhos
Deixa a carne sofrer
E chama o coração no arrependimento
Liberta lágrimas por virtuosismo
Ao mesmo tempo que inventa o pecado
E deixa-se levar pelo fingir dos padrões
José Gomes Ferreira
Ao teu encontro vem tudo
Mas é a luz que te dá génio
E aponta o caminho
É nela que deves manter o foco
São muitas as tormentas do mundo
E a sede de disputa
Não desperdices a beleza e a coragem
O brilho que te cativa é o teu farol
José Gomes Ferreira
Faltam juntas de bois
E pardais que não ocultem nada
Falta justificar o antes e o depois
Sem que a pobreza solte a manada
Falta o abraço fraterno
E o sonho mais singelo
Falta respeito pelo subalterno
E vontade de passar a mão no cabelo
Faltam homens para concordar
E mulheres que se salvem da morte
Faltam memórias para bordar
E jangadas em busca de sorte
Não adianta esperar o que falta acontecer
Se não se mudar o padrão
Falta deixar o cinismo apodrecer
E não deixar o orgulho afectar o coração
José Gomes Ferreira
Precisamos moderar a ambição sem perder nas escolhas
A expectativa vai no sentido da convergência
Por vezes os ditos planetas convergem
Outras vezes dizemos que precisamos ir à bruxa
Outras vezes a questão é de calibrar as expectativas face ao que é possível alcançar
Outras vezes é a questão do chover no molhado
As nossas escolhas podem não ser as mais adequadas
Sem esquecer que o contexto é fundamental
Muitas pessoas mudam de país, de emprego ou de amigos
É preciso aproveitar a beleza da vida e fazer escolhas
José Gomes Ferreira
O amor está morto em Zaporíjia
A cidade é um desperdício radioactivo
Um grande alvo de desejo
Tão sedado e violento
Exibe egos e armas
Mostra rostos de criminosos
O território é um degredo
Onde a paz é incapaz de se alcançar
E o amor é um sonho esquecido
Qual a chance de vencer
O poder e a glória são propaganda
É tanta a insignificância da Humanidade
A guerra não é mais que um excremento humano
Tal como a vassalagem e a exploração
Ambos exibem formaturas e revoluções
Só o povo é escolhido para as bombas de fragmentação
José Gomes Ferreira
Os dias têm sido de expectativa
No que se somam igualmente vários acontecimentos
Talvez deva ir à bruxa ou apenas celebrar o conquistado
Tem muita coisa que me tira do sério
Outras enchem-me de orgulho
O problema é que o orgulho não paga as contas
Só existe uma certeza no rumo da vida
É que se não se lutar nada acontece
Procuro não apenas lutar, enquadro as paixões
José Gomes Ferreira
Se coloco os pés no caminho
Para muitos parece loucura
E cada vez que eu desalinho
Riem de mim com fartura
Parecem esperar pelo meu fim
No sovaco de aromas miseráveis
Mas se realmente querem saber de mim
Procurem-me em acções saudáveis
Pouco importam as representações
E a soberba que vem agregada
Movo-me para além das imitações
E da inveja que nunca me diz nada
José Gomes Ferreira
Roda o relógio sem parar
Cruzo os dedos, cruzo as pernas
Preciso correr, preciso fugir
Ir para um lugar de observação
Quero ver os comboios passar
O apito rasga a imaginação
E o amor que desperta sensível
Salto para a sombra
Também eu protejo o coração
Invento na brisa a solidão
Roda o calendário e o tempo passa
Não adianta olhar para trás
O melhor está ainda para vir
Aguento-me na surpresa
Roda a tabuleta da vida
Ainda ontem aqui cheguei
Não tarda serei carcaça
Um ser que se extingue inacabado
Perdoa-me por ter perdido os teus beijos
José Gomes Ferreira
Se não tiveres a certeza
Se a noite é apenas tingida
Deixa a Lua quieta
Uma noite de luar quer serenidade
O amor debruçado à janela
E os segredos revelados
Não confundas noite clara com luar
A magia está no coração
E na capacidade de partilhar
Não adianta pintar quadros
Nem erguer copos de vinho
O que é belo tem paladar nas palavras
E completa-se na sedução
Sê gentil com o brilho da noite
É o bálsamo da paixão
José Gomes Ferreira
Vejo palavras de ordem
Muitas alusões a propaganda
Definições de ódio
Julgamentos no ecrã
Culpas a imigrantes
Votos contados no Facebook
Vejo oportunismos
Sem soluções apontadas
Corridas às armas
Definições de justiça enviezadas
Manifestações ocultas de interesse
É fácil culpar de fora
Queimar ruas e contentores
Vejo reis na barriga
E posições por cuspidela
Como se felicidade fosse inveja
José Gomes Ferreira
São ligeiras as teses e argumentos
Dizem que éramos felizes e não sabíamos
E que outrora era tudo maravilhoso
Não poderia existir erro mais primário
Não tínhamos tanto acesso a informação
E a liberdade poderia ser peninente
Só que não restam dúvidas
Éramos felizes e sabíamos
Havia consciência das práticas e incentivo ao conhecimento
Foram anos de transformação e nós sabíamos
Estávamos lá como agentes e senhores
Atualmente caímos na expectativa do benefício pelo lamento
José Gomes Ferreira
A ordem natural das coisas é ainda ficção
Religião e Natureza não são temas periféricos
Religião e padrões sociais não são para esquecer
Religião e espiritualidade não são sinónimos
A religião que sigo não é melhor que a tua
A minha visão de mundo é a minha alma cheia
Marca a consciência e a observação
Só não é o todo universal e venerável
Precisamos olhar para trás e não perder o senso
Religião é construção social, dogmática e obediente
Não o sentido da comunidade sobre os padrões
A orientação sobre a norma não se pode confundir com a realidade ampla
José Gomes Ferreira
Talvez as bruxas se escondam nas chaminés
Quentes pela estação não necessitam de chama
O que flameja é o milho verde, em breve terá a espiga descascada
O vento Suão galga continentes e estreitos
Atravessa a Serra para dilacerar o planalto
Também ele arde na intensidade das temperaturas que ajuda a aumentar
As conversas são curtas e sem chapéu na cabeça
As eiras são agora apenas miradouros e pontos de saudade
Tal como as fontes, embora essas refresquem o peito
A mão cheia de água também erra a boca e aproveita o desnivel do calor
Param alguns carros para encher garrafões
Pergunto-me se irei com o vento e qual será o meu legado
Interrompo a pergunta com um pensamento fixo
Quem irá erguer o feijão para escutar as impurezas
Já me falaram nos figos temporões da figueira do canto
Quero apenas sentir força para vencer novas etapas
Andam a vender fruta pela aldeia como recordações
Outrora os abrunhos eram moeda de troca por conversa
O destino tem semblante de luta e amnésia
José Gomes Ferreira
Andamos cada vez mais a favorecer os opostos
Aumentam as desigualdades, aumenta o puritanismo
Aumenta a destruição da natureza, aumenta a noção de felicidade enquanto sucesso material
Aumenta a liberdade, aumentam os estados depressivos
Aumenta a acção do Estado, aumenta o favorecimento
Aumenta o ateísmo, aumenta o controle social
Não é só a padronização do corpo e das aparências
Esperamos igualmente o asseio do comportamento
José Gomes Ferreira
Não entendo como pessoas inteligentes se arrastam por categorizações dicotómicas na interpretação da complexidade. Debitar dicotomias não é como fazer filhos de pai incógnito. A complexidade exige debate, análise e re-interpretação, não se coaduna com a pasta mastigada da propaganda ideológica. Não existe debate possível quando se divide a análise em boi e vaca, reforçando que o boi é geneticamente melhor e melhor ainda se for criado no nosso hemisfério. Não é suficiente o conteúdo imagético de outros mundos se não se olha o chão em que se produz alimento e onde se multiplicam gerações.
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