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Queres uma prova do mundo
E se o meu coração te ama
Queres uma razão de felicidade
E se o que sinto é verdadeiro
Não me canso de o anunciar
Nem de dar provas de ser verdade
Posso até ser louco na insistência
A repetir o que nos une
Não ligues a outras conversas
O que importa és tu e eu
Separados não somos nada
Juntos somos o brilho da vida
José Gomes Ferreira
*não é uma declaração para ninguém, apenas o prazer de escrever
O amor é uma utopia
Onde só tem felicidade
Tem até a mania
De ser para a eternidade
O amor é uma novela
Uma história de televisão
Tem sempre uma mulher bela
E um homem canastrão
O que conta é o sentimento
Não o amor por categorias
Na tua doçura me alimento
Pouco importam as teorias
José Gomes Ferreira
As pedras da calçada
Trazem muitas recordações
Lembram nós de mão dada
Com esperança nos corações
Tem o vento de nortada
A soprar nos teus cabelos
Tem perfume de rajada
A acertar nos cotovelos
Também são as flores que cativam
O calor lembra a intensidade
São os corpos que salivam
Nós criamos a reciprocidade
José Gomes Ferreira
Escuto a chuva no mar
Que tanto falta faz no sertão
Escuto o vento a soprar
E a afastar a solidão
Tem peixe nas barragens
À espera de água para viver
Se chove em outras paragens
No Nordeste também deve chover
Sem chuva a terra é pó
Incapaz de produzir pão
Deixando o povo a meter dó
Restando-lhe a migração
O sertanejo é muito grato
E orgulhoso da sua identidade
Mas todos precisamos de comida no prato
E enfrentar situações de vulnerabilidade
José Gomes Ferreira
*apesar de tudo este Inverno no Hemisfério Sul trouxe um razoável quantitativo de chuvas ao Nordeste, mesmo que não tenha chegado a todos os municípios. A ocorrência do El Niño, que já se encontra "activo" pode agravar alguns problemas de escassez de água durante o próximo ano. A maioria das barragens tem quantitativos interessantes de armazenamento, mas é preciso lembrar que aqui também "chove para cima", uma vez que se regista elevada evaporação.
Não se trata de uma luta pela razão
Muito menos por erguer a taça
Não adianta usar a indignação
Para valorizar qualquer raça
O respeito está acima da proveniência
Não está nos locais que frequentamos
Nem nos traços do físico e na aparência
Ainda menos naquilo em que acreditamos
Os estereótipos são usados para dominar
Como se estigma fosse poder
Defendemos a importância de se amar
Porém usamos categorias para retroceder
José Gomes Ferreira
O jeitinho brasileiro
É selectivo e controlado
Não é para estrangeiro
Que viva apartado
Não é só um jeitinho de favor
É a imitação de pertencer
Pouco importa ser doutor
Se não tiver com quem aparecer
Tem jeitinho de ocasião
E oportunidades à vista
Cuidado com o coração
Não vá o choro interromper a pista
Por aqui a vida não é moleza
Para quem não se acomoda
Quem leva tudo com ligeireza
Acredita que o jeitinho está na moda
José Gomes Ferreira
Boca grande cada um tem
Sobretudo quando arrasa para a crítica
Abraços fraternos também existem
Quando a fraternidade se sobrepõe à lírica
José Gomes Ferreira
Felizes como os pobres
Mulheres cheias de força e alma
Memória de lindos olhos
E frases de como devem ser
Voos de mariposa na luz da noite
Vozes de quem nos chama
Pontos da vida para restaurar
Recuperar a esperança e esplendor
Felizes na fila de espera
A aguardar a mudança acontecer
Já não vivem da agricultura
Não dão contam que o feijão tem fio
Recordações da juventude
Rostos que agora se juntam
Não resta muito a fazer
A velhice é para seguir com o coração
José Gomes Ferreira
Não escrevo iludido com a paixão que faz do coração um sucesso
Quero manter a terra lavrada e preparar a sementeira
Retiro o mato e as rochas que atravessam o solo
Talvez deva primeiro saltar à corda ou jogar ao lencinho
Tenho tempo que me leve a novo amor
E nessa narrativa seja orgulho de quem me abraça
Dou conta dos traços comuns dos dias
Enquanto isso vejo para onde me leva o destino
Não tenho nenhum pássaro na mão
Apenas a satisfação de os ver voar
José Gomes Ferreira
Não sei se é o caminho certo
Se é por onde devo andar
Por vezes atravessar o deserto
É uma travessia para se chegar
Se a felicidade for casar
Quero ficar solteiro
Não tenho pressa em me amarrar
Sem ter amado primeiro
Gosto do céu e das estrelas
E de noites tranquilas
Gosto de mulheres tagarelas
E de na tensão evitar filas
Conto ao vento os meus segredos
Conto à luz as minhas paixões
São amores somados pelos dedos
Gemidos de quem não faz flexões
José Gomes Ferreira
Outrora corria Viseu e a Rua Direita
Para sentir o fervor da cidade
Tinha gente de Nelas e de Torredeita
Pessoas de todas as localidades
Procuravam roupa e sapatilhas
Paravam também nos restaurantes
Vendiam-se parafusos e aninhas
Na azáfama de compradores e feirantes
A cidade morreu como um animal
Sem escolha pela defesa do centro
Vai todo mundo para o Centro Comercial
É mais uma cidade bela sem gente dentro
José Gomes Ferreira
Beijos galantes
Em oceanos perfeitos
São capazes de criar bicho
E se querer repetir
Beijos tonturas
De amores despachados
Gostam da ternura
É na intensidade que saciam
Beijos de aromas
Da bebida e das rosas
Andam pelo mundo como almas
Na procure de quem os embeice
Beijos sem sal
Têm muito que aprender
O sentimento não chega
Se o jeito não se acerta
José Gomes Ferreira
Vou e venho como crença
Naquilo que a felicidade me pode dar
Na certeza que sem luta não tenho nada
Talvez todo o dia e toda a hora tenha medo
E seja sincero ao narrar os sintomas do amor
Outra coisa não poderia ter nas circunstâncias
Corro muito e ambiciono não parar
Não é a idade que me pesa, é a ambição face às necessidades
Gostava tanto de olhar o vazio pleno
As constelações do horizonte quando não se pensa em mais nada
Deixei de escrever cartas e de as ler
Só recebo contas e outras verificações
Tenho saudades dos envelopes na caixa do correio
De abrir cada carta como fruto que alimenta
E de escrever sobre as folhas finas de bloco de carta
José Gomes Ferreira
Sejas mais novo ou mais antigo
Amigo, que sempre me acompanhas
Os meus pensamentos estão contigo
Na força que do coração atravessa as entranhas
Amigo de todas as horas
Dos dias felizes e das escolhas
Dos avanços e outras demoras
De tantos vinhos e saca-rolhas
Amigo das noites e dos dias
De momentos mais constantes
Do silêncio e das melodias
Hoje é um dos Dias mais importantes
José Gomes Ferreira
Mordi a língua ao escolher-te no pensamento
Fiquei com os lábios sangue-tinta
Como bandeira encarnada
Gosto de morango e carne
Pétalas colhidas pela manhã
Vento de Leste
Coração sem cortar o pavio
Cortei a dente as amarras
E não me questionei
Mordi a voz no mesmo aperto
Não sabia como chegar
Embarguei toda a minha alma
Não adianta julgar o que é amar
Se não sentir na pele toda a emoção
E levar o cosmos a concordar
Não adianta somar se não sei a tabuada
E questiono o que ganho no que acrescento
José Gomes Ferreira
Damos graças porque Deus existe
E faz parte da nossa devoção
Não aceitamos é o crente que insiste
Que a sua verdade é para todos padrão
Se cada um aceita o seu Deus
Temos aí uma grande competição
Excluídos estão por certo os ateus
Pois a fé não se sobrepõe à educação
Precisamos debater as crenças
Não pelos dogmas ou heresias
Mas por possíveis desavenças
E por contagio de fantasias
José Gomes Ferreira
Foi a espuma amor, o rebentar das ondas
A catarse da imaginação embainhando as marés
Foi a espuma e a penitência do desejo
A pressa sobressalente das obrigações
Tudo aconteceu no agitar dos dias
Agora procuramos trazer as memórias
E resgatar a beleza desse tempo
Há luar no meu canto, há lugar para te ver
Vou até onde paira a saudade
Subo às estrelas, subo aos teus cabelos
Encontro brilho no gosto dos teus beijos
É amor o que as palavras querem dizer
E não mentem ou misturam as entrelinhas
A noite é a certeza do fascínio da escuridão
A nomenclatura para a descoberta dos sentidos
Nela te relembro e chamo de regresso
Nela te encontro e abraço com paixão
Como se tudo fosse vivido muitas vezes
E as ausências não sejam a nostalgia do afastamento
Mas o reconstruir em outras linhas o que ficou para trás
José Gomes Ferreira
A euforia eclesiástica
Lança muitas preces na fogueira
Critica até a ginástica
Tapa o Sol com uma peneira
Agora até as rezas mudaram
Não tem apenas novenas
Tem o que os padres estudaram
E os mitos das deusas de Atenas
A Humanidade precisa de dogmas
O Homem precisa de amor
Os primeiros salvam as almas
O segundo provoca tremor
O problema é que a religião é como a bebida
Deve ser tomada com moderação
Não vá tanta gente ser iludida
A julgar que no dízimo está a salvação
José Gomes Ferreira
Olha-me sem medida ou indiferença
Não esqueças os passos andados
E que assim podes ser feliz
A ver se enfrentas o sentimento
E levas o amor com formosura
Chora comigo destino
Também necessito de ti
Abre o coração a quem te escuta
O silêncio também se inquieta
Não te faças de abandonado e de alma destroçada
Suspira na espera e pergunta sobre os porquês
Nem tudo é sonho e presente da experiência
Mas deixa a lisura vencer
Deixa as carícias preencherem os espaços em branco
José Gomes Ferreira
Aqui sou estrangeiro
Não tenho voz
Estou fora do critério de cidadania
Sonho em deixar uma herança
Não tenho nem herdeiros
Nem o espasmo do aplauso
Lisboa está entregue aos turistas
Não se coaduna com a simplicidade
Nem com o silêncio dos remediados
Não a vejo de novo como cidade de acolhimento
Na terra sou apátrida
A maioria já me são estranhos
Também me olham como estrangeiro
Solitário de bens ocupados
E inquieto na opinião
Na prática sou de vários lugares
Sinto-me bem em todos no que reflecte o coração
Só que preciso de ganhar a vida para ter futuro
E o melhor acolhimento é onde o abraço preenche a documentação
José Gomes Ferreira
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