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Abre os braços e sacode as amarguras
Observa o céu e o infinito
Agradece a força e beleza da natureza
Agradece o destino e o caminho
Abre o coração e deixa entrar luz
Não fiques de olhos fechados
A vida não é a letargia do pecado
Tem preces e reticências
Porém pode trazer felicidade e comunhão
Não fiques com a consciência retida
Diz o que queres sem vergonha de pensares
Não sigas a nomeclatura da repetição
José Gomes Ferreira
Não guardo da Páscoa fé
Nem qualquer proibição
Não adianta misturar crenças e retirar obediência
Guardo da Páscoa os preparativos
A suspensão do trabalho no campo
A paragem para a preparação dos festejos
Lembro do forno da aldeia e das mulheres
Da chama que primeiro cozia broa
Da borralha em ponto cruz
Lembro também de ajudar a bater os bolos
Do aroma celestial que juntava todos
Guardo da Páscoa o momento de arrumar a casa
Lembro do perfume que ficava da cera no soalho
Tudo era tão perfeito, tudo era tão divino
Lembro da visita pascal, não pela cruz carregada
Juntava os familiares ano após ano
Ao fundo das escadas ou subindo
À mesa o pão-de-ló juntava-se ao queijo da serra
Ao almoço era o cabrito assado, a lembrar comunhão
Lembro da festa pagã e novamente das mulheres
Das mães colocadas ao redor do dancing
Não fossem as filhas desviadas por algum galã
Lembro da valsa da meia noite, das rifas e das luzes coloridas
Lembro de tudo o que os meus antepassados me mostraram
José Gomes Ferreira
Hoje escrevo a poesia de remedeio
Como prova de consciência e de vida
Outrora feri um dedo a cortar centeio
E no sangue essa manhã acabou perdida
Hoje deixo o coração a latejar
No que os laços tecem de saudade
Outrora queria muito viajar
Para saber se o que diziam era verdade
Hoje deixo o amor de lado
Na razão que me dá a escolha
Outrora cheguei a ser bom namorado
Escrevia cartas como mais de uma folha
José Gomes Ferreira
Nunca digo o motivo da minha paixão
Nem o que me faz suspirar
Na vida nem sempre é importante a justificação
O que importa é ter motivos para lutar
José Gomes Ferreira
O que deixei para trás arrasta-o o vento
O que importa é o que levo no coração
Tudo aquilo que integra o pensamento
E ajuda a soltar a imaginação
Caminho entre avenidas e ruelas
Circulo entre o gosto e a alegria
Também trato de tachos e panelas
Escolho a paz em vez da euforia
Do futuro espero tranquilidade
E luta por qualquer definição
Pois para se defender a verdade
É preciso manter a ambição
José Gomes Ferreira
Não tenho pressa de partir
Embora possa estar em qualquer lugar
Não vim aqui para fingir
Nem para me atrapalhar
Não tem sido fácil a caminhada
O gosto é de felicidade
Entre pedir pouco e pedir nada
Quero manter na lembrança esta cidade
Tem nas tradições muita alma
E no povo a pureza do sentimento
Na poesia corre toda a calma
Na terra seca sopra o vento
Se nos lugares amores houve
Também foram pela gente
Do outro lado plantei alface e couve
Não sei se consigo ser diligente
José Gomes Ferreira
Anda o diabo a jogar à bola
Que me deixa desdentado
Não pode um pobre pedir esmola
Já vem um padre adiantado
No meio do mato não jaz ninguém
Está tudo em fim de vida
Sem chuva não se ganha um vintém
A economia está perdida
Vem o patrão fiscalizar o trabalho
Mas não tem como adiantar
Misericórdia não escolhe soalho
Não adianta se aperrear
Tem luta que é em vão
Por estar o destino traçado
Se o povo precisa de pão
Merece ser bem tratado
Chega um político de rangamalho
A tentar iludir a nossa sorte
Conhece todas as cartas do baralho
Só não distingue o Sul do Norte
José Gomes Ferreira
Chamavam-me também José
Na beleza que a serra pode ter
Chamavam-me pelo nome
E o vento não deixava de soprar
Olhava para o céu e sorria
Tocava os cabelos e arrepiava
Tinha na alma a força
E nas palavras a imaginação
Esculpia momentos na madeira
Enquanto a água corria
Sentia a felicidade toda a andar
O pouco que tinha era orgulho
Latejava até encontrar a noite
A rua era o palco em movimento
À lareira aprendi a escutar
Em terra firme ganhava voz
José Gomes Ferreira
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