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Procura-se paz de espírito
E um lugar para trabalhar
Procura-se não ficar aflito
E um amor para amar
José Gomes Ferreira
Os dias são espremidos nas janelas
Escondidos nos raios de um Sol movediço
E na utopia do regresso à origem
Escuta-se a velocidade dos corações
E a pressão por qualquer fortuna
A brisa alimenta a escolha das conversas
Deixa o corpo tremido na temperatura
E no fulgor de qualquer passo futuro
Como que a desenhar as estações
E o movimento perpétuo da assistência
Nas mesas repete-se o ritual do café
Com pausas flutuantes à espera de quem trabalha
De quem prescinde das conversas sobre o rumo a seguir
Explodem as amplitudes na memória das velhas
Cujas disputas são sobras da história
Lembram as formulações do Santo Ofício
E os olhares resolvidos na romaria das praças
Corremos mundo com o mundo aos nossos pés
Não se trata de inversão de papéis
Apenas da aspiração por sacudir a pressa dos anos
E chamar felicidade ao embalo da segregação
José Gomes Ferreira
Também eu me questiono e luto
Chego a rebolar nas noites frias
A contar histórias com memórias de candeias
E a esperar que chegue a paz
Também eu tenho medo
E hesito no florir das camélias
Observo a paz do aconchego
E cuido das plantas do jardim
Também eu paro sem saber o destino
E fico só a ocupar o parapeito
Experimento o que me reserva o futuro
Ocupo o coração com o abraço da fraternidade
José Gomes Ferreira
Por vezes não precisamos falar
Nem estar atentos às conversas
É suficiente o som harmónico das vozes
E o assobio das pessoas felizes
Por vezes não precisamos de palavras
Os gestos podem também ser retraídos
Comunicar nem sempre é subir ao púlpito
Não necessita de nos lançar em protagonismo
O silêncio aproveita a serenidade de circunstância
Não é necessário qualquer tipo de alvoroço
A luz espalha-se pelas frestas da alma
O suficiente para esticar os braços na genica da vida
José Gomes Ferreira
Vão para além das galáxias
E do sonho de salvar o criador
Andam de malas às costas
E com o amor no regaço
Na esperança que a paz os acompanhe
Vão para onde tiver pão
E a felicidade os aceite sem perguntas
São refugiados e apátridas
Habitantes sem planeta ou país
Têm dificuldade em achar um chão
E um lugar de descanso que apazigue
O coração percorre muitos lugares
Sem que seja aceite em nenhum deles
Tantas noites permanecem acordados
Esperam embarque e lugar para chegar
José Gomes Ferreira
O amor é cada vez menos afecto e relação
O amor é performativo e rápido
Já nem sequer é exclusivo e recíproco
Não se assume necessariamente como realização
Como metamorfose e compromisso com o futuro
O amor já só se mostra, não se apaixona
José Gomes Ferreira
Não vamos estar sempre na proa
E na genica ter horas fartas
A idade certa não perdoa
E define as suas marcas
Quando a memória falha
É impossível articular a precisão
Vale para o efeito o que calha
O sinal repetido é de partir o coração
Seguem-se os passos do envelhecer
Deixando o corpo em insolvência
A felicidade é muita só no querer
Mesmo com menor luminescência
José Gomes Ferreira
Estamos tão concentrados que não vemos quem nos faz falta
E o esventrar do planeta pelo capitalismo com caruncho
Estamos tão iludidos que a pressa dos dias confunde-se com liberdade
E o vazio é apresentado na ansiedade
Estamos tão distantes que a Lua se aproxima
E a luz se esconde na sinalética das observações
Estamos tão apressados que o coração corre
E o amor é desejo antecipado de toque e repetição
José Gomes Ferreira
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