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O destino que segui na vida é curioso
Parti sempre que chegou o amor
E quando tinha tudo para descobrir
Da cidade ao mar tinha tudo à espera
No amor não tem nada feito por medida
Só nos deixa à espera quando não acreditamos
Só o sentimento forte move montanhas
E ultrapassa o pulsar do coração no peito
Se um dia voltar a sonhar quero ser de novo livre
Escolher a felicidade de ter quem me espere
Quero sorrir mesmo depois de qualquer queda
E não ter medo de fazer planos para as nossas escolhas
Seja o que for que se deixa na margem
Pouco importa o que fica por dizer
Podemos comunicar através de abraços
E descobrir como construir um novo amanhecer
José Gomes Ferreira
O vento surpreende as arestas do pensamento
Remexe até a memória das cerejeiras
E as frases gravadas nas pedras
As rajadas cortantes causam arrepio
E abanam os quadris contra as paredes
Lembram o ressoar de panelas em protesto
E o grito de pobres em penitência
O frio não inspira as borboletas
Apenas amolece a reacção
A reclusão não incentiva a liberdade
Sobrevoo as admirações do mundo antes que adormeça na inevitabilidade
Escondo-me das orações e das determinantes populares
Exponho o rosto ao brilho da convergência
Se tiver amor chegará como carícia ao coração
José Gomes Ferreira
Trouxe as marés até findar o olhar
E a seca numa mala de cartão
Trouxe as ondas do imenso mar
E muitas histórias do sertão
Trouxe a convicção e a esperança
O gosto pela imensidão e o lugar
Não esqueci o apoio da liderança
E o prazer deixado no investigar
Reinventei a própria alma no encanto
Em terra com lágrimas de gente
Falaram-me da devoção a novo santo
E da política com passado negligente
Acrescentei luz que ilumina o caminho
E saudade que mantém firme o coração
Não troco por nada as palavras de carinho
Junto na memória a vivência à inspiração
José Gomes Ferreira
A falta de perspectivas conduz à anomia
E a anomia não cuida de nós nem conforta o coração
Leva todo o sonho e fantasia
Arrasta-nos para a descrença na paixão
Se a vida tem sabor doce ou amargo
É sinal que prosseguimos a nossa luta
Deixamos os mirones a observar ao largo
Convictos da sua certeza absoluta
É preciso reagir ao conformismo
Na prova que a necessidade coloca
Por vezes com algum malabarismo
Temos de evitar cair na barroca
José Gomes Ferreira
Por momentos não digas nada
Esquece as inquietações e as preces
Escuta comigo o som da natureza
O encanto do Sol de inverno a acariciar as faces
O tic-tac dos galhos a soltarem-se das árvores
A água a fazer rodopios nas ribeiras e a declarar a sua paixão pela terra
Por momentos não digas nada para além do silêncio
Deixa a paz atingir o coração e pintar de cores as barreiras
Escuta comigo o passar das horas sem pressa de correr e chegar
Sem medo da nostalgia dos laços fraternos
Pinta comigo os contornos das montanhas
E desenha o rasto dos aviões na definição perpétua do amor
Por momentos não digas nada, sente apenas o aroma da construção
A melodia ajeitada no toque das mãos
E o olhar deixado sobre a sorte do horizonte
José Gomes Ferreira
A manhã fria não adivinhava os acontecimentos
Chegou alguém da rua em polvorosa
Havia um telefone público na aldeia, tinham recebido más notícias
Na cozinha juntaram-se algumas pessoas em diálogo
Permaneci no quarto, onde sangue gelou entre paredes
Depois enfrentei o silêncio e abri a pequena porta de madeira
O coração tremeu com a adivinhação, quase apagou a lareira
A felicidade dos meus 12 anos durou pouco
O meu pai partiu para sempre nessa madrugada
Nasceu para mim um caminho de simulação da permanência
,Obrigou a reinventar-me no simbolismo das pertenças e na coragem de seguir por gratidão
Nessa época a morte de um pai era a nossa própria morte
A primeira referência social era sempre paterna, perguntavam "quem é o teu pai?"
Mas a maior dor nunca foi da indicação social
Respondia que era neto da Teresa, filho da Lurdes, sobrinho do Mário
A maior dor sempre foi da incapacidade da reciprocidade por ausência prematura
Também não posso dizer que ficaram as memórias
O meu pai partiu para França praticamente após o meu nascimento
Ficaram para sempre os laços e o sangue
Com o caminho aberto para aceitar o ocorrido
José Gomes Ferreira
Vivemos a utopia da salvação dos puros
A narrativa de um plano de felicidade plena
Mesmo assim falta cumprir as convicções
Não sei para onde seguimos após o plano terreno
Dizem que alma e espírito ganham vida para além da transcendência
Que deixam o corpo e a vivência quotidiana
E encontram no céu a paz dos justos
A única certeza é que a presença do povo ilumina a partida
E homenageia a dor através de um abraço colectivo
A única certeza é que a despedida não apaga os afectos e as memórias
A única certeza é que o que foi vivido permanece em nós
José Gomes Ferreira
Através do olhar vejo a serra
Pela esperança alcanço o mar
Através da memória chego à saudade
A imaginação leva-me a qualquer lugar
Quero o melhor de vários mundos
No pulsar sempre feito de sentimento
Quero seguir sem nenhum medo
No que a vida permite descobrir
Gosto da paz do reencontro
E do amor explícito por causas
Gosto da caminhada com objectivos
As metas e sonhos que rejeito largar
José Gomes Ferreira
A educação está doente
A escola pública tem dificuldades
Ameaças que as greves escondem
E os políticos empurram para a métrica dos custos
Os professores não progridem
Os alunos não aprendem
Os pais desesperam
As televisões enchem os olhos com disputas
A educação é a base do progresso
A solução de consensos e fortalecimento
A formação pessoal e colectiva
A alma transmitida nas letras
O desenho das análises do mundo
A preparação de novos ensinamentos
O primeiro caminho para o progresso
A educação é a cura, mas a educação está doente
José Gomes Ferreira
Celebro os dias e o calor da vida
Junto quem segue a luz que quero partilhar
Não tenho palavras para tamanho apreço
E para o louvar das alegrias multiplicadas
Vale a pena estar integrado quando como assim nos conferem felicidade
Ainda assim não esqueço a escuridão dos algozes
Não posso entender os silêncios estivais
Nem a invisibilidade das celebrações junto dos mais próximos
A fuga ao compromisso é a artimanha dos remediados
Quando querem legitimar as suas lógicas de dominação
E dar nota do esquecimento no gozo dos privilégios
José Gomes Ferreira
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