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Foi por pouco o calor
Foi por pouco que te esperei
No fundo talvez acredite no amor
E reconheça que também errei
Andei com o coração revoltado
Andei com o peito em aflição
Foi tudo por falta de resultado
E por se esquecer a febre da paixão
Temos muito caminho pela frente
Muita mão para se apertar
O futuro passa bem rente
Quem tem medo é hora de se libertar
José Gomes Ferreira
Mandem construir pontes
Mandem derrubar muralhas
Deixem os cântaros nas fontes
Larguem as acendalhas
Tem fogos de veneno
E muitos actos hostis
Tem muito grande pequeno
E muitos falsos gentis
A nação é para todos
O arbitrário é enganador
A marcha é cheia de engodos
É aconselhável usar o despertador
Mandem esconder heróis
Escolham gravar palavras
Não troquem as vacas pelos bois
Não enganem multidões escravas
José Gomes Ferreira
Enchem-se as levadas e as valetas
Os lameiros ensopam no turbilhão
As ruas arrastam motas e bicicletas
Tanta chuva e vento parece um furacão
É tanta precipitação que aflige
Deixa as habitações em perigo
Tem muito problema que não se corrige
Apesar das promessas até ao umbigo
Surgem os políticos com soluções
Medidas com dinheiro para gastar
Não resolvem nem simples obstruções
Mas na tragédia é bom vê-los falar
José Gomes Ferreira
Como sou péssimo vendedor, somente se vendem directamente e de forma localizada na região centro de Portugal. Os dois primeiros vendem-se também na Cooperativa Cultural da UFRN, na cidade de Natal, Brasil, onde aliás foram publicados. Do lado de lá do olhar foi o primeiro, teve pelo meio outra publicação conjunta e depois Catavento, este último edição de autor publicado em Portugal, infelizmente não ficou como gostaria. Gertrudes é um livro sobre a força e distância no contexto da pandemia. É um livro sobre a saudade e distância relativamente a Portugal, à família e amigos. Mas também sobre o quotidiano do bairro, o descalabro do Brasil e a paixão pelo Nordeste interior e litoral.
Olha para mim, não deixes nada por dizer
O tempo passa, ficam apenas lembranças
Vamos esquecer as inquietações
A espera na mesa vazia para jantar
Olha para mim, não me deixes em silêncio
O deslumbre é para quem ama sem limites
Para quem acredita que a noite é um recomeço
Uma oportunidade para juntar o amor às palavras
Olha para mim, solta todas as vontades
O encanto está no calor que suspira
Na construção que nos deixa felizes
E no brilho dos olhos sem barreiras
José Gomes Ferreira
A guerra é a vergonha da Humanidade
Tal como é o capitalismo sem regras
Da primeira sabe-se quem é o inimigo
O segundo sabe-se quem são as vítimas
A primeira deixa sangue e morte
O segundo deixa lágrimas, pobreza e degradação
Continuamos maus selvagens e dominadores
Lançamos bombas e apelamos à fraternidade
Esventramos a terra e defendemos a sustentabilidade
José Gomes Ferreira
Poderia falar de amor e da largada
Do ventre que gera vida e aconchega
Do beijo que arrebata e toma o coração
E do carinho que não falta em cada etapa
Poderia contar como atravessei oceanos
E larguei tudo na crença da paixão
Mas também das escolhas e desafios
Do mistério e medos da caminhada
Poderia escolher apenas os sucessos
E esquecer que o amor é incerteza
E depois do sonho nem tudo acontece
Que o jeito é erguer o rosto e seguir novo rumo
Só que amor não é apenas relação
E o que gosto não é somente por atracção
É igualmente identificação com velhos lugares
E o que sinto leva-me a muitas lutas
O amor é tudo o que gera movimento
E na paz das coisas multiplica a reciprocidade
O amor é tudo que gera impulso e satisfação
E na liberdade mostra o sorriso feliz do sentimento
José Gomes Ferreira
As estrelas brilham no teu rosto
E eu vivo o tempo a ver-te
A habituar-me às canções
E ao dia do regresso em que te abraço
As luzes da noite trazem recordações
E dão vida a muitas lembranças
Sem que hoje saiba de ti
Farei por isso e não sei
Estou muitas vezes a manifestar-me
A escolher o melhor agasalho
Estou muitas horas a ver-te
Sem que o amor diga nada
Estarei sempre aqui na emoção
Com o coração em agradecimento
Na estreia dos caminhos e ilusões
Assim guardo o respirar e o abraço
José Gomes Ferreira
Tem muito olhar de esguelha
Como o rosto assolapado
Combina com a qualquer gadelha
E com o orgulho tapado
Não tem como dizer que não
Ao encarar a vida de frente
O devoto pede perdão
O desafio está do lado do descrente
O tempo traz muita chuva
A alegria é de quem a vive
Dar a mão assenta como uma luva
O que é importante é que a felicidade se active
José Gomes Ferreira
Não adianta chegar a conclusões
E procurar desculpas para justificar os actos
Não são de agora os vendavais
Nem os avisos sobre o desfecho
Não são de agora as correções
A indicação do certo ou do errado
De nada serve ignorar as palavras
Nem o drama ao reagir ao adverso
Não tem melodia naquilo que se ignora
E se escolhe o arrastar nas paredes
Não tem justificação quando não se age
E apenas se fica à espera de penitência
De nada servem os laços sem sentimento
E as heranças deixadas sem coragem de mudar
O amor é mais que uma promessa
Uma vela acesa e o destino de uma oração
José Gomes Ferreira
Não adianta chegar a conclusões
E procurar desculpas para justificar os actos
Não são de agora os vendavais
Nem os avisos sobre o desfecho
Não são de agora as correções
A indicação do certo ou do errado
De nada serve ignorar as palavras
Nem o drama ao reagir ao adverso
Não tem melodia aquilo que se ignora
E se escolhe encostar o feitio nas acções
Não tem justificação quando não se age
E tudo se arrasta à espera de penitência
De nada servem os laços sem sentimento
E as heranças deixadas sem coragem de mudar
O amor é mais que uma promessa
Uma vela acesa e o destino de uma oração
José Gomes Ferreira
O ditado diz "fazer o bem sem olhar a quem"
O que é certo é que as pessoas nem sempre são agradecidas
Encaram-nos de acordo com o sopro do vento
Não nos sorriem necessariamente quando estão felizes
Também vão à missa meses antes de casarem para serem vistos pelo padre
Sorriem-nos quando precisam de nós
Depois viram a cara como quem disputa o orgulho
Talvez a gratidão seja para muitos o fruto proibido
José Gomes Ferreira
Tem amor que queremos
Que nos mantém à defesa
Não por falta de remos
Mas por necessidade de certeza
Tem amor que esperamos
Que quando chega nos atrapalha
Não porque não amamos
Mas porque o coração é uma fornalha
Tem amor que nos faz feliz
Que nos deixa inseguros
Não pelo cantar da perdiz
Mas porque a felicidade não pula muros
José Gomes Ferreira
Habituei-me a observar a beleza
E a chamar da memória a perfeição
De qualquer modo não se deve idolatrar os ancestrais
Sem o freio e lucidez da consciência
Sempre teremos histórias de amores reprimidos
E de injustiça cometida na soleira da porta
Haverá sempre filhos e netos preferidos
Assim como privilegiados e ignorados
Tal como haverá gélidas indicações de preocupação
Aos seus olhos seremos sempre incapazes
Estabelecidos nos defeitos dos enjeitados
É verdade que são as nossas marcas distintivas
Mas tal não significa que tenham sido justos
E que tenham preparado o nosso futuro
A maioria dos antepassados venerava a posse da terra
E era veemente com os animais de trabalho
Tudo mais rondava a obediência e a impaciência
José Gomes Ferreira
Um copo de vinho provoca animação
Deixa toda a gente bem disposta
Chega a dispensar comoção
Quando aguarda uma proposta
Tem muitas vozes na natureza
E beleza com fartura
Quando não temos a certeza
Servimos bebida como cura
Acima dos olhos tem a testa
Ao lado do sonho a imaginação
A vida não é uma festa
É mais feliz com reinação
José Gomes Ferreira
Sinto uma dor esquisita no meu peito
Que não tenho mais como esconder
É uma dor do gosto invisível
Dos seres humanos sem escolher o lar
Sinto uma dor sem escrutínio
Que não sei se veio para ficar
Tenho o abraço para me proteger
Da noite fria e incerteza da vida
Sinto uma for que me sequestra
Que não sei se é só minha
O mundo vive em sofrimento
Essa dor só pode ser de padecimento
José Gomes Ferreira
Não me canso de narrar a paz e o compasso da minha terra
O pintar das palavras com a memória e as vivências
E o apogeu de sínteses de episódios e almas
As aldeias são refúgios
Lugares que sempre nos acolhem
O berço que não se esquece
O sangue que corre nas veias
O amor sem repercussão no sentimento
Mas que se multiplica na pertença
As aldeias são a família para além da casa
O tempo directo das alocuções
A voz que se dirige a quem passa
São também o reflexo das ladainhas
Esse especular vernáculo sobre a vida alheia
E do correr de informação de boca em boca
As aldeias são o arquétipo da ancestralidade
E do ponto rotativo da existência
José Gomes Ferreira
Não me deixes viver sem ti
E levar toda a paixão
Não me deixes em espera
A contar a escolha das horas
Não me deixes sem o bater do coração
E o amor que se escuta nas redondezas
Não me deixes sem sonhar
E sem o abraço que me escolhe
És com ternura toda a minha voz
E a melodia que uso nas palavras
És a minha noite cativante e luz
Não me deixes a embalar sozinho os dias
José Gomes Ferreira
Deixa-me as defesas
Deixa-me a paixão
Os passos andados
Todas as danças
Deixa-me os teus beijos
O corpo colado ao futuro
O sorriso aberto
A melodia à janela
Deixa-me a segurança
O sentido de futuro
O balanço do adormecer
Os teus olhos a espreitar
Deixa-me o teu amor
Tantas horas sem contar
O aroma do acordar
A pressa de te rever
José Gomes Ferreira
Como faço não é destino
A luta faz-se de resistência
No arregaçar de mangas
Nas noites à espera da aurora
Os olhos verdes não são um fim
O encanto vem do que representam
E do mergulho cativo nas palavras
Não tem espera sem esforço
A imaginação é a paixão da existência
Subimos e descemos escadas
Aspiramos a mais felicidade
Não por um estado de letargia
É a ambição que nos movimenta
Como escarpas de planetas em vertigens
Buracos negros sobre o azul do pensamento
Sonhamos dar um grito de liberdade
Cativamos o silêncio e a paz
A metamorfose é do domínio da acção
Não é promessa de beijo
É lume ardido em noite de inverno
José Gomes Ferreira
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