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Pingador

por José, em 20.01.23

Outrora florescia a narrativa do pinga amor

A que o cinema dava grande contributo
Criava o ideal romântico de palavras certas e brilhantina
Com jeitinho aceitava que o pobre tivesse sucesso no amor
E pelo seu dom de pingar conquistar corações
Também sempre teve os pingos de chuva
Que de tanto pingar molham
Na aldeia por cordialidade sempre se ofereceu uma pinga
Pois o povo é soberano na arte de bem receber
Agora quem pinga são empresários da construção
Os patos bravos agora reputados cavalheiros
Talvez os políticos se molhem nesse pingar
Mas como diz o povo "comem todos do mesmo tacho"

José Gomes Ferreira

 

*poesia crónica debruçada nos "desenvolvimentos" do país

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publicado às 10:48

Guerra

por José, em 19.01.23

Gastam armas, gastam palavras
Levam vidas, levam anjos
Enchem os bolsos com o lucro da morte
A guerra é a maior vergonha humana
O desarme da dignidade e senso
A selvajaria não invejada pelos animais
O ego que espuma por sangue
É a atrocidade sem vencedores
A destruição que esvazia a barriga dos pobres
E arrasa os países oprimidos
A guerra é a opulência das armas e do capital
Na transgressão sobre a vida e cooperação
É a valeta de corpos putrefactos
A esconder argumentos contrafeitos

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:55

Ruas da aldeia

por José, em 19.01.23

As ruas da aldeia são parte do mundo
O mundo de muita gente cabe nas ruas da aldeia
Nas casas acolhem-se velhos e persistentes
O frio conserva a idade e os costumes
As chaminés são como dispositivos de presença
Haverá um dia em que não sobrará lenha para acender
E os mesmos velhos enrolam a alma nos xailes negros
Para se elevarem junto das estrelas que brilham no céu
O relógio da Igreja é como o coração da gente
Nos quintais os galos cantam no enfrentar da madrugada
Nas mesmas ruas vagueiam cães atrás de cadelas com cio
A poesia é feita ao galgar as pedras da calçada
E a observar a Serra sobre o mergulho do horizonte
Nas ruas da aldeia estão as marcas da história
E as recordações que endurecem os olhos de silêncio

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:55

Vida

por José, em 19.01.23

Quem sou eu para te julgar
Serias amor se não fosses imaginação
E desejo puxado nos dedos
Olhos a espreitar para as casas
Jardins com aromas de êxtase
Serias relação se não fosses impaciente
Caminho aberto para a felicidade
Vigilia na sombra e recordação
Serias impulso se não fosses natureza
Brilho e orvalho no mesmo dia
A dor seca de uma nascente
A fraternidade no regaço de uma mãe
Serias escolha se tivesses oportunidade
Sendo que para tudo é preciso entrega
E a paixão vai para além do movimento dos devotos

José Gomes Ferreira

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publicado às 12:59

O importante é o amor

por José, em 18.01.23

O importante é o amor
Sem evoção e preces
Sem se confundir com relação
O amor como fruição imediata

O amor fraterno
O amor terno
O amor que não se esquece
O amor que ilumina

O amor intenso
O amor puro
O amor divino
O amor descoberto

O importante é o amor
O sentimento que arrebata
A porta que se deixa aberta
O coração que galga intenções

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:55

O medo

por José, em 17.01.23

O medo do homem é de perder a saúde
E recear não saber como ganhar a vida
Na disputa pelas condições de sobrevivência
O medo dos pais é de não terem alimento para os filhos
E na aflição esgotarem a coragem
O medo do poeta é de perder a imaginação
E deixar de ser a voz activa sobre os dias
Mergulhando a observação sensível nas ausências
O medo do homem-poeta é de deixar de sonhar com o amor
E não ser mais capaz de consagrar as narrativas na esperança

José Gomes Ferreira

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publicado às 22:22

Primavera

por José, em 17.01.23

Olho para o presente e arrepio
Sem que seja dos rigores da natureza
A vida também nos deixa sem pio
Quando a luta desemboca em incerteza

Não vou com isso desistir
Mesmo que sejam dias cinzentos
Continuarei a ir e vir
Até deixar calos nos pensamentos

Chegará em breve a Primavera
Com um novo ciclo de esperança
Pode não vir como se espera
É fundamental para renovar a confiança

José Gomes Ferreira

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publicado às 05:21

Zanga dos elementos

por José, em 16.01.23

Tem alertas e outras métricas
Puxam pela nossa prevenção
Sacudem o juízo aos dias
Levam à reacção corpórea
O vento sopra sem destino
Sopra frio e maldizente
Arrefece até o entendimento
As noites assim não deveriam ser solitárias
Os elementos mostram-se ao mundo
Deveríamos estar juntos na resposta
O corpo assim fustigado mutila as ideias
Impede-me de pensar nos próximos passos
Queria ver futuro na invernia
Tivesse eu predisposição para tremer
E soltar lágrimas pelo arrastar de chuva
E o sopro dos deuses seria motivação

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:40

Cronologia

por José, em 16.01.23

Tinha muita ovelha malhada
Tinha muita luta na emigração
Até a saudade era pintada
Resumida nas cores da procissão

Havia no campo muito cultivo
Para que não faltasse nada
Pois alimento também é abrigo
E os calos fazem parte da jornada

Tinha aquela casa de pedra
Que foi construída na união
Não foi feita para guerra
Pois guerra não traz pão

Eram outros tempos vividos
Levados na labuta quotidiana
Hoje podemos até andar perdidos
Não podemos é espreitar atrás da persiana

José Gomes Ferreira

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publicado às 11:34

Vem

por José, em 15.01.23

Deixa a liberdade para depois
O amor é o ritmo de uma canção
É o melhor entre nós dois
É o compasso do coração

Deixa os planos para o futuro
Deixa a ansiedade em qualquer lado
O amor é mais que um furo
É o prazer num gesto imaculado

Vem viver aqui e agora
Vive o charme de muitos dias
Vem com gosto e sem demora
Construir na partilha novas melodias

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:14

Escuridão

por José, em 15.01.23

Tem palavras que lembram escuridão
No próprio silêncio da sua beleza
Cujos gestos apenas se escutam
Mas também na penumbra e desleixo
No orgulho sem abraços e catarse
Como no duplo significado da vida
A escuridão é o encanto da noite
E igualmente a ausência de luz na vida
Escuridão é a interrupção de laços e de memória
É o orgulho de se permanecer entre paredes
E a mecânica da existência sobre a ambição
Lembra as manhãs de inverno sem orvalho
E os ribeiros sem pingo de água
Sem escuridão não se admira a beleza da Lua
Um coração na escuridão é cinzelado de sofrimento

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:07

Saudade

por José, em 15.01.23

Pode ser apenas a minha opinião
E a luz que ilumina o meu pensamento
Mas a saudade alimenta a paixão
E a nostalgia mescla paz e sofrimento

Pode ser apenas o meu juízo
E o ardor que sinto na pele
Mas a saudade também é prejuízo
Quando é distância que repele

A saudade é a fina flor do sentimento
O amor e a memória finalmente juntos
Vai para além da ideia de comprometimento
São os laços cruzados no seu conjunto

José Gomes Ferreira

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publicado às 10:45

Bisbilhotice

por José, em 14.01.23

A voz do povo é como televisões
E câmeras de vigilância sobre os comportamentos
Microfones com colunas de som e alarido
Escuta e espreita as conversas
Deturpa o visível pelo impossível
Tenta adivinhar na exactidão a vida alheia
Julga saber tudo sobre as nossas decisões
Por vezes mais do que decidimos e supomos
O povo mostra-se soberano na bisbilhotice
É capaz de nos casar, mudar de continente e de rumo
Está connosco na desgraça, para nos desgraçar mais
Está connosco na felicidade, para invejar o caminho
A voz do povo é o critério da imaginação colectiva
Mesmo sem conhecer os factos e sem se mostrar solidária
O povo gosta de narrativas e alucinações
Consumidas como droga leve sem custos e proibições
A voz do povo é como o canal da meteorologia
Enche-se de alertas vermelhos, quando o que queremos é sossego

José Gomes Ferreira

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publicado às 17:09

Panorama

por José, em 14.01.23

O coração bate para além da ilusão
Viaja e sonha como gente
A serenidade dos dias tem poucas interrupções
Os galos cantam a anunciar a madrugada
O sino activa o relógio da igreja
Os cães latem para marcar presença
O vento mergulha o corpo nos lençóis
Fora isso tudo parece sem volumetria
Sem jorrar espuma na claridade da paixão
Escolho apanhar laranjas à chuva
Cuido igualmente das plantas em abandono
Se o futuro fosse simplicidade estava feito
Não tem competição no planalto e nas vistas da serra
Também não tem beijos e lábios mordidos de desejo
Seguirei o conformismo até puxar pelo advento
Tenho corrido muito, não tenho visto as flores crescer
O coração bate até sentir a cura
Parar não está nos planos de quem caminha

José Gomes Ferreira

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publicado às 14:12

Afinidades

por José, em 14.01.23

As afinidades fluem, repercutem
São como fantasias maravilhosas
E como os lírios a florir
Atravessam corações e continentes
Chegam a quem nos acolhe e saúda
Cruzam a rua em cada cumprimento
Transformam-se em pensamentos
Em ideias e votos da imaginação
As afinidades guardam pessoas
Reservam sentimentos e reverências
Concretizam a lembrança que têm de nós

José Gomes Ferreira

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publicado às 13:51

Imaginação

por José, em 13.01.23

Os teus olhos são estrelas
O teu coração é pureza
As tuas mãos são as mais belas
O teu carinho a melhor surpresa

Tens o olhar do mundo
E a voz da sedução
O teu amor é profundo
Os teus beijos são paixão

Lideras o palco da vida
Tens a minha diligência
Representas a minha alma atrevida
És o sentimento feito consciência

José Gomes Ferreira

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publicado às 18:10

Solitários

por José, em 13.01.23

Vão ver as montras e a beleza
Não conhecem a sorte dos canaviais
Escondem a angústia e a tristeza
Falam apenas com os animais

Andam na corrida diária
Como quem tem uma meta
Gostam de literatura vária
São pasmo à espera de um cometa

Sonham com futuros imaginários
E com o amor que se diz transformador
Isolam-se à espera de corações solidários
Questionam até as teses do criador

José Gomes Ferreira

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publicado às 14:05

Monólogos

por José, em 12.01.23

Dizes que a noite é o teu lugar
Por ter todo tempo para seres livre
Com laços envoltos para a conquista
Como mariposa na luz e amor
Nos beijos todos ainda para dar

Dizes que a paixão é a chama
O fogo no corpo e o toque a suspirar
Luz que estampa o sangue em pleno
Sonho na subida ao paraíso em cor
Mergulho e grito de partilha e prazer

Não dizes que me queres para ti
E que amanhã nunca é um fim
Que vamos sempre recomeçar e vencer
E que o desejo não é só meu para ti
É um passo para te achar tão solta
No gosto que as carícias têm sempre entre nós

Não dizes que música ouvir em silêncio
E se o coração realmente deseja paz
Quando no afago projecta a vida
E faz de um momento mais do êxtase
É sintoma de que podemos ser felizes
E tudo que a inquietação traz vai passar

José Gomes Ferreira

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publicado às 23:15

Tomar consciência

por José, em 11.01.23

Por vezes dou comigo a sonhar
Dou comigo lânguido de pressão
Não sei apelar a Nossa Senhora
Sei os meus credos e lutas
Dou comigo a medir o caminho
E a relatar o prazer da trajectória

Por vezes dou comigo a amar
A querer tocar as estrelas
A aproveitar os beijos sem medo
Num instante intenso de paixão
Dou comigo a despertar
A apanhar laranjas na chuva

Por vezes dou comigo a usar as mãos
A acariciar a face da saudade
A percorrer o corpo como água do ribeiro
Dou comigo a partir e a chegar
A viver a intensidade do silêncio
A esquecer tudo o que me quer atrapalhar

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:58

Vulnerabilidade

por José, em 10.01.23

Tem famílias a que faltará pão
E a mesa vazia enche-se de lágrimas
Tem famílias a que faltarão pinhas e fósforos
E o corpo treme na disputa do Inverno
Tem famílias a que faltará paz
E o pão e a lenha são atirados na fogueira
Tem família cuja guerra leva a vida
E os Homens fingem que a felicidade é mera tesão

José Gomes Ferreira

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publicado às 19:56



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