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Não sei qual a tua sistemática
Qual a razão da tua paixão
O meu coração não é uma máquina
O meu pensamento gosta de emoção
Não sei qual o teu caminho
Nem qual o teu entendimento
A minha barriga gosta de friozinho
Eu gosto do calor do sentimento
Não conheço a tua noção de beleza
Nem o teu padrão de bondade
Na vida podemos não ter a certeza
Não podemos é perder a dignidade
José Gomes Ferreira
O Novo Ano é cada vez mais calendário
E marcas no ano civil
Sobe o custo de vida e brindamos de felicidade
É cada vez menos renovação da luz
E chama do espírito colectivo
Saídas e entradas não são apenas foguetes
É sobretudo a força simbólica da comunidade
O reviver para se ser mais forte e unido
O Novo Ano deve representar novos caminhos
Mais abraços e balanço da memória
Não é apenas orçamento e fecho de contas
O Novo Ano deve ser vigor e comunhão
José Gomes Ferreira
O beirão chega com o amor a conta gotas
Pensativo a expor a emoção
Traumatiza até o vencedor
Aquele cujos benefícios não têm perdão
O beirão é fechado
Escorregadio como o granito
Fiel e honesto, mas ausente no coração
Vale o agregado e a pertença
O caminho-de-ferro a marcar a paisagem
O horizonte a pintar a memória
A aldeia é a escolha conjunta
A vida recíproca em comunidade
O beirão é retraído no amor
E no que deve expor do sentimento
A aldeia é toda ela tradição
E laços que se deixam perder de vista
José Gomes Ferreira
O vento troça uivante e gelado de intenção
A chuva chega miudinha, a sacudir os tempos de seca
O céu apresenta-se em tons montanha e pintura de Inverno
Não tenho calcorreado os caminhos
Sigo apenas a calçada de algumas ruas
Remexi parte da terra no quintal
Usar de novo a enxada relembra de onde vim
Guardo as principais horas para a ciência
A motivação vem da necessidade
Parecem esquecidas as minhas virtudes
De tão omitidas as minhas razões
Dou apoio ao optimismo quando me escuto
Mesmo que não dê espaço ao esquecimento
Gostaria de ser recebido sem termo de opção
Não me coloco como prioridade ou alternativa
Quero somente ter a percepção de igual
É assim que mais aplaudo a felicidade
Não tem sorriso genuíno no uso do lamento
Nem quando nos sentimos a representar papéis
Não sou dado a agir para cativar o atenção
Prefiro o agrado decorrente da sequência e dedicação
José Gomes Ferreira
Disseram-me que o amor era confidência
O aperto na barriga e a escolha do coração
O rosto corado e as mãos trêmulas
Disseram-me que o amor é a oportunidade da vida
A chuva que não molha quando se gosta
O encanto que nos leva a correr mundo
Disseŕam-me quase tudo sobre o sentimento
E sobre o prazer despertado na ovação
Omitiram o amor para além dos relacionamentos
A honra e a gratidão dos laços
Pouco disseram sobre o princípio da convergência
E sobre o abrigo que nos acolhe a todas as horas
Nada disseram sobre o valor da reciprocidade
E sobre a felicidade construída na pertença
José Gomes Ferreira
Andam a enxovalhar o entretenimento
As televisões andam a expor dramas
A despir vidas dolorosas e imprevistas
A narrar lágrimas com voz melada
A dar os ossos em nervo
Andam a fazer-nos acreditar na verdade
A construir ídolos e seres sofredores
Como rosas vermelhas com aroma
Andam a apontar para o coração
Só não mostram limites e senso
Estamos a ficar adormecidos
Aceitamos a tragédia como normal
Quando o entretenimento é o respeito
É a exaltação da cultura que resta
E a envolvência da gente com o suspiro do gosto
José Gomes Ferreira
O amor é o tempero da vida
A dança de charme e encanto
A reprodução de factos
E o prolongamento dos genes
O Sol é o tempero do corpo
Multiplicado de luz e água
Motivado pelo calor
E pela diversidade de seres
A estima é o tempero das relações
Reforça laços e padrões de fraternidade
É a escolha de quem é feliz na dádiva
E se completa na reciprocidade
José Gomes Ferreira
O sino marca as horas
Como compasso da eloquência
E o gosto da continuidade dos dias
Marca também o regresso ao passado
Ao ritmo longo da hora e curto dos 30 minutos
Marca a ida para o campo e o tempo de almoço
O sino marca a trajectória
E desenha os cantos da aldeia
Salta de rua em rua
Vai de casa em casa em casa
O sino marca as horas
E o movimento repete-se
Anda gente na labuta
Os velhos estão no Centro de Dia
Todos escutam o sino e as horas
Como mensagem que escolhe ficar
José Gomes Ferreira
Os lugares são gente
Alma vertida
Coração aberto
E vida que pulsa
Os lugares são prata
Brilho intenso que reluz
São ouro e riqueza
Formosura e latência
Os lugares são vida
Identidade e aroma
Abraço de comunhão
Espelho de rostos
Os lugares são amor
Memórias de perto
Sentir distante em paz
E intenso reencontro
José Gomes Ferreira
Não bato mais no aparato
Deixo-me solto como água a correr na fonte
Como vento que traça o pingo do nariz
E avisa da nomenclatura do Inverno
Não bato mais na incerteza
O coração mostra que pode parar
E as locomotivas não mostram o futuro
Andam rostos escondidos
Palavras ditas em febre de interesse
Necessito recolocar as diagonais
Não bato mais no sentimento
A sensibilidade é a carícia dos descrentes
Tudo mais são padrões invertidos em caminhos
O impulso chama nas ruas vazias
Não precisamos correr
Ficamos para trás se o sangue escorrer
Se não for bombeado nos arraiais
Tudo mais o que importa é a paz que chega
A felicidade não é o lar da posse
É a escolha que destaca o abraço antes da partida
José Gomes Ferreira
O orgulho é como o gorgulho da vida
Deixa-nos inchados com a motivação
Supostamente aptos a enfrentar outros egos
Mas como diz o povo não dá pão a ninguém
A felicidade vem da reciprocidade
Não de posições auto-centradas
Não existe liberdade na disputa
Nem na intenção com interesse
José Gomes Ferreira *
*Coincidências à parte quanto ao nome, refere-se ao sociólogo, professor à espera de novas oportunidades, poeta da indefinição e retrato e instantes.
Alma é carne escolhida para aconchegar a liberdade, não é mero desejo revelado e escolhido no instante. Carne é a forma de querer, o impulso do sentir na hora sem exactidão, pode ser quando as circunstâncias nos chamarem. Carne é também a sensibilidade do toque, das carícias e do gosto da troca. Não sem antes de sentir o gélido reprimir dos padrões e da expressão do clima. Anda a inventar parapeitos para se distorcer parte do corpo, como pontos de miragem dos dias e da troca. Na carne é também sentir na pele sucessos e insucessos, injustiças e saltos do destino. Haverá em nós sempre um castigo lançado pela cobiça, precisamos saltar com o olhar e lançar a esperança no próprio arrepio. A luta não é a catarse da espera, esse é o amor que espera sempre retorno. A imaginação é que nos leva para a narrativa e para a felicidade. A imaginação e a memória. Esse binómio de gente e vivências, por vezes não vividas, mas que podem ser contadas pois são episódios dentro da troca de lamentos e sorrisos espontâneos.
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